segunda-feira, 23 de abril de 2012

RECEITA DA SEMANA




“A VERDADE É UM HOLOFOTE QUE IRRITA E OFUSCA OS OLHOS DE QUEM NÃO DESEJA SE ENXERGAR, POIS ILUMINA O QUE, CUIDADOSAMENTE, DESEJAMOS MANTER NO ESCURO”



VERDADE


Verdade não é, na verdade, uma receita a ser preparada. Ela já se encontra pronta em algum lugar e possui todos os elementos capazes de matar a sua sede de SER e VIVER.



CUSTO


O preço maior que se paga é o da censura. Por não ser compreendido, você pode perder a aprovação de alguns, mas, com certeza, ganhará a aprovação e reconhecimento de uma pessoa muito especial: você mesmo.
No final deste investimento, ganhará autenticidade, liberdade e coragem com juros e correções. Apossado desta grande riqueza, ninguém conseguirá tirar de você aquilo que conquistou. Jamais se sentirá nesta vida um miserável.




TIRA GOSTO



MINHA VERDADE



MINHA VERDADE É
APENAS O QUE ESTOU SENDO AGORA
AMANHÃ ELA PODERÁ SE TRANSFORMAR
NUMA GRANDE MENTIRA
MAS UMA NOVA VERDADE
ESTARÁ ME ESPERANDO
DE BRAÇOS ABERTOS
PRONTA PARA ME CONDUZIR
EM MEU NOVO DIA



ACOLHIDA PELA VERDADE
SINTO-ME PROTEGIDA
DE RUBROS E NEGROS OLHARES
SINTO-ME LIBERTA
DAS PESADAS CORRENTES DO MAL
SINTO A VIDA
ESPANTANDO A MORTE
PERMITINDO-ME SER E VIVER
A ESSÊNCIA DAQUILO QUE SOU



INGREDIENTES



Essencialmente ela mesma.



PREPARO




         Vá à fonte da vida e tome a verdade para si saciando a sede de ser aquilo que voce é realmente e de poder viver aquilo que deseja, harmonizando-se com a essência do seu verdadeiro ser.
         Não troque a fonte da vida pelas doentias águas paradas que possuem em sua constituição a padronização de um jeito de ser massificado e ultrajado pelos interesses dominantes.
         Se você não sabe onde está a fonte da vida, eu posso lhe contar. Esta fonte se encontra na sua propriedade; é só procurá-la com desejos de encontrá-la. Não cometa o erro de procurá-la na propriedade vizinha.



SOBREMESA



O MANTO



         Quando Deus criou a Verdade, o diabo criou a Mentira para competir com a obra divina. A função da Mentira seria encobrir a divina obra para que ninguém pudesse contemplar a sua beleza, para isto, a invenção diabólica usava sempre um manto negro.
         Curiosidade, que sempre acabava se deparando com a Mentira pelas encruzilhadas da vida, perguntou em um dos seus ocasionais encontros:
— O que você esconde debaixo deste manto preto?
— Eu escondo a Verdade. Respondeu a Mentira repleta de satisfação.
— De quem você esconde a Verdade?
— Daquele que, finalmente, consegue chegar muito próximo dela, correndo assim, o risco de se apaixonar por ela. Respondeu Mentira com uma expressão que denotava receio.
— Por que alguém se apaixonaria pela Verdade? Perguntou a curiosa Curiosidade.
— Porque, infelizmente, ela é bela demais. Qualquer um ficaria encantado por ela. Desabafou, pesarosa, a Mentira, tendo que se valer de uma verdade que lhe incomodava profundamente.
— Se a verdade é tão bela, você deveria deixar-nos apreciá-la. Ponderou Curiosidade.
— De jeito nenhum! Como é que eu ficaria? Irritou-se Mentira.
— Como assim? Não estou entendendo.
— Se a Verdade fica encoberta eu consigo parecer mais bela do que ela. Ninguém nesta vida tem o poder de imaginar a beleza da Verdade até ter a divina chance de contemplar de frente a sua face. Antes que consigam abraça-la e sentir o seu calor e proteção, eu entro em cena com meu jeitinho astuto e a maioria acaba facilmente se iludindo comigo. Zombou Mentira.
— Engraçado, eu sempre tive a impressão de que as pessoas temiam muito mais a Verdade do que a apreciavam. Argumentou Curiosidade.
         Mentira deu um longo suspiro e continuou sua conversa:
— Ninguém teme a Verdade, pois ela é uma dádiva que afasta o medo. As pessoas temem a si mesmas. Confundem seus anseios e medos com a Verdade.
— Não estou entendendo. Você poderia me explicar melhor. Solicitou Curiosidade.
— É claro! Você pode me acompanhar?
— Para onde?
— Para um lugar onde eu possa lhe mostrar, na prática, como funciona o que estou lhe tentando explicar. Já estou sentindo alguém me chamando. Devo ir rápido para chegar à frente da Verdade, encobri-la e fazer o meu teatro.
         Mentira levou Curiosidade para um comício político. Um grande público aguardava ansioso o discurso de um candidato. Antes de subir no palanque, o político orou pela mentira:
— Como farei para enganar este povo? Preciso demonstrar que estou preocupado com eles.
         Foi só terminar sua oração inconsciente que Mentira se aproximou com seu manto negro encobrindo a Verdade antes que esta tivesse a chance de subir as escadas do palanque. O candidato se encheu de força, subiu no palco como se fosse um ator representando um personagem. Fez o seu discurso vazio de Verdade e repleto de Falsidade, sendo aplaudido por todos.
         Assim que Mentira executou o seu trabalho, pôde novamente retornar ao seu agradável bate-papo com Curiosidade.
— Curioso! Exclamou Curiosidade — Como é que o povo aceita um discurso tão pueril?
— O povo adora ilusões! Ironizou Mentira — Tudo que é fácil seduz este povinho; e eu tenho a arte de apresentar soluções fáceis.
— A Verdade é mais difícil? Perguntou Curiosidade.
— Talvez seja mais trabalhosa. Completou Mentira.
— E como você conseguiu fazer aquele candidato se sentir forte? Indagou Curiosidade.
— Criando uma ilusão dentro dele que o impeça de enxergar claramente a pessoa podre que está sendo. Faço isto lhe ofertando uma fantasia que lhe agrade. Até ele se confunde com os belos personagens que lhe ofereço.
— Por que a Verdade não lutou para se exercer? Questionou Curiosidade.
— Porque aquele candidato não orou por ela. Regozijou Mentira.
— Se a Verdade fosse tão bela quanto você diz, por que ele não quis apresentá-la ao público? Interrogou Curiosidade.
— Na verdade, ele não quis se apresentar a ela. Quando certos homens covardes se apresentam à mesma, tomam consciência do quanto estão sujos e corrompidos. Com medo da própria imagem, eles oram por mim. Eu os fantasio e os faço sentirem belos e poderosos. A Verdade, por outro lado, lhes mostra apenas o espelho. Quem é feio não gosta de espelho. Daí, eles não gostam da imagem que veem e erroneamente pensam que a verdade é feia. Confundem a própria imagem com a Verdade Suprema.
— A feia imagem que possuem não seria a Verdade deles?
— Seria apenas a suposta verdade que construíram. A feia imagem deles é na verdade uma realidade que pode ser mudada. A Verdade suprema transcende esta imagem e o próprio ser, podendo libertá-lo com sua beleza e poder, pois, cada um tem a bondade e a maldade dentro de si. Salientou Mentira com sabedoria.
— Eu bem que gostaria de assistir uma cena de libertação. Você tem como me mostrar? Perguntou Curiosidade.
— Impossível! Eu não liberto ninguém, eu apenas os aprisiono nas mais loucas fantasias, ilusões e imagens que desejam. Proferiu Mentira.
— Acho que estou começando a entender, no entanto, tem mais um pedaço interessante desta história que não lhe cabe mostrar-me e que eu gostaria de desvendar. Agradeço a sua atenção, mas agora tenho que partir.
         Curiosidade despediu-se de Mentira e partiu em busca de um novo conhecimento que lhe interessava profundamente. Desejava ter o privilégio de assistir a atuação da Verdade no palco da Vida. Caminhando, incessantemente, entre vales e montanhas, encontrou Consciência cavalgando nua num lindo cavalo branco. Uma expressão de plenitude tomava conta do semblante da mesma. Sem conter a sua essência curiosa, Curiosidade comentou perguntando:
— Te vejo agora tão feliz e realizada... O que aconteceu com você hoje?
— É raro acontecer, mas quando acontece eu me sinto livre, totalmente livre, leve e em paz. A sensação de peso e aprisionamento me faz muito mal. Quando me vir neste robusto cavalo branco, saiba que estou feliz, muito feliz. Refletiu Consciência com alacridade sem, no entanto, responder, claramente, a pergunta de Curiosidade.
— Seja mais clara! Desse jeito eu me arrebento de tanta curiosidade.
— Hoje eu pude mais uma vez ser tocada, massageada e contemplada pela Verdade. Quando isto acontece me sinto leve e tranquila. Explicou Consciência repleta de satisfação.
         Certa de que poderia finalmente desvendar o mistério que Mentira jamais poderia lhe revelar, Curiosidade implorou a Consciência que lhe apresentasse a Verdade:
— Por favor, me leve até ela. Eu preciso vê-la atuar.
— Então vamos lá! Prepare-se para uma viagem no tempo e no espaço. Acho que uma cena histórica poderia conceder-lhe uma grande revelação.
         Curiosidade montou na garupa daquele vigoroso cavalo branco cavalgado por Consciência e sem perceber a partida e a chegada, viu-se, repentinamente, diante de uma cena muito forte que lhe partiu o coração. Um homem acabava de morrer da forma mais desumana pregado numa cruz. Curiosidade assustada e perplexa perguntou:
— O que esta cena horrível tem haver com a Verdade?
— Buscando-a, este homem se libertou e a muitos que seguem seu exemplo. Esclareceu Consciência.
— Como pode ter se libertado com seu corpo pregado nesta cruz? Arguiu Curiosidade.
— A Verdade é um presente para a nossa alma e não para o nosso corpo. Elucidou Consciência.
— Não sei se valeria à pena morrer para ver a cara dela. Ironizou Curiosidade.
— Ninguém morre pela verdade, pelo contrário, ganhamos mais vida com ela. Só a Mentira é capaz de matar e destruir, no entanto, muitos crimes cometidos por ela ficam ocultos. Para facilitar a vida, o ser humano é capaz de destruir, quando poderia construir para facilitá-la. Entretanto, toda construção pressupõe trabalho e nem sempre ele está disposto a se comprometer com o mesmo.
         Curiosidade ouvia, atentamente, cada palavra proferida por Consciência e optando pelo silêncio se viu, subitamente, diante de uma nova cena que a hipnotizou com tamanha beleza. Uma linda criança de semblante angelical, exalando pureza e doçura, usufruía jubilosa e faceira, cada porção de uma realidade paradisíaca da qual parecia ser dona. Tudo parecia ganhar mais vida ao leve toque de suas mãos. Naquele lugar, as flores pareciam mais flores, o rio mais rio, as árvores mais árvores, os animais mais animais, o céu mais céu, a terra mais terra, o ar mais ar, o ser humano mais humano. Antes que Curiosidade saísse de seu estado hipnótico e se dirigisse àquela criança para conhecê-la melhor e perguntar o seu nome, uma voz vinda não se sabe de onde ressoou como um eco dentro do seu coração:
— Verdade, corra aqui que eu preciso de você agora.
         Naquele momento, a criança correu se transformando num manto de luz, cobriu Curiosidade como se estivesse abraçando-a e a transformou em Sabedoria.
         Hoje, quando vejo um sábio fico curiosa a me perguntar:
— Por onde andou a curiosidade dele?




























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