AMAR A SI
MESMO NÃO É EGOÍSMO, MAS A CONDIÇÃO BÁSICA PARA SUPERÁ-LO”
AMOR
PRÓPRIO
É um prato incomparável. Contém a
doçura certa que alma precisa para se exercer com autenticidade. Fora do ponto
ele poderá ficar “puchento” ou quebradiço. O segredo deste prato reside na
descoberta do ponto ideal para ser
degustado. Não pode ser duro e nem mole demais. O uso dos ingredientes certos,
sem falsificações, determina a sua qualidade. Quando experimentado e saboreado
se dissolve soltando a doçura que elimina qualquer amargura.
CUSTO
Apesar de ser “um barato”, não é barato
amar a si mesmo. Se paga o alto preço da aquisição do falso rótulo de egoísta
que lhe será imposto pelos próprios egoístas e o risco de perder o amor
daqueles que, egoisticamente, exigem a exclusividade do seu amor, sem no
entanto, saber doar o deles. Os egocêntricos verão este seu investimento como
um prejuízo e farão de tudo para desestimulá-lo. Reforçarão a crença do
indispensável amor ao próximo tomando o máximo cuidado para não salientar, em
momento algum, a importância do amor a si mesmo.
TIRA GOSTO
MINHA DIALÉTICA
NÃO SOU A MULHER
QUE UM HOMEM DESEJA
MAS, TALVEZ, MESMO SEM ELE
SABER
A MULHER QUE PRECISA PARA
CRESCER
A MINHA DESTEMIDA LIBERDADE
O MEU INTENSO AMOR
A MINHA CONSTANTE ALEGRIA
A MINHA DOCE CRIATIVIDADE
A MINHA DESAFIADORA
NATURALIDADE
NÃO FAZEM DE MIM UMA MULHER
VIRTUOSA
FAZEM DE MIM UMA MULHER
PROBLEMA
UM PROBLEMA PARA O OUTRO
UMA SOLUÇÃO PARA MIM
AS MINHAS VIRTUDES
GERAM INSEGURANÇA E MEDO
É DIALÉTICO, PARADOXAL
MAS, VERDADEIRO
DÓI NÃO SER O DESEJO DO OUTRO
MAS É UM PRAZER
SER O MEU DESEJO
ME AMO
ME QUERO ASSIM
MESMO CORRENDO O RISCO
DE PERDER O HOMEM
PARA SER PRESENTEADA
COM A MULHER QUE MORA EM MIM
MULHER QUE DESEJA AMAR UM
HOMEM QUE SE AME
LIVRE
AMOROSO
ALEGRE
CRIATIVO
NATURAL
TÃO VIRTUOSO
QUE CHEGA A SER UM PROBLEMA
UM PROBLEMA QUE ME FAÇA
CRESCER
INGREDIENTES
Grandes porções do doce amor
Leitoso respeito
PREPARO
Preparar o amor-próprio é semelhante ao
preparo da bala delícia. Quem sabe fazer bala delícia, sabe que apesar de
simples, requer cuidados especiais para dar certo. É puxenta antes do ponto e
se gruda ou quebra toda se passar do mesmo. Quando a receita fica assim, não
estamos preparando bala delícia, mas uma massa grudenta ou quebradiça que nada
tem haver com a macia e saborosa bala que se dissolve em nossa boca adocicando
nosso paladar. Existem também balas delícia industrializadas que parecem
possuir apenas açúcar da pior qualidade. Nestes produtos de baixa qualidade é
irreconhecível o sabor do delicioso leite de coco. Metaforicamente falando, o
egoísmo vestido de amor próprio é também como estas balas enjoativas. No seu
preparo foram usados egoísmo falsificado
de amor-próprio e doses ínfimas ou mesmo ausentes do leitoso respeito. Egoísmo
fantasiado de amor-próprio gera falta de cuidado com o próximo podendo gerar
conflitos que desintegram ou quebram qualquer relação ou faz o indivíduo grudar
em si mesmo esquecendo que o outro existe. Assim, egoísmo nada tem haver com
amor-próprio. Ele é como a receita de bala delícia que saiu errada. A falta de
cuidados especiais, ausência dos ingredientes adequados e de consciência do
ponto certo pode gerar uma bala nem um pouco deliciosa, capaz de ferir, jamais
alimentar. Diante disto tudo, como se prepara o amor próprio?
Leve os ingredientes de amor e respeito
para a panela da vida bem aquecida pelo fogo da consciência. Aquecidos pelo
calor da consciência, deixe que eles se dissolvam um no outro se integrando e
soldando o amor e o respeito que devemos ter por nós mesmos ao amor e respeito
que devemos ter pelo outro. Feito isso, é só estar atento ao ponto certo, ou
seja, ao ponto em que o amor e respeito a si mesmo e ao outro estejam bem
integrados. Se esta integração não estiver no ponto, a massa desta guloseima
vai se grudar ou quebrar toda quanto você tentar manipula-la em suas próprias
mãos para, finalmente, modelar a seu modo cada bala que será posteriormente
saboreada pelo seu paladar. A não integração destes ingredientes gera egoísmo
que pode ser direcionado ao outro ou a si mesmo. Ser “egoísta” consigo é
satisfazer apenas as necessidades do ego do próximo, sendo tão prejudicial
quanto ser egoísta para com o outro. A falta do tão importante ingrediente de
amor e respeito ao outro e a si mesmo, além do egoísmo poderá gerar a tão
indigesta inveja que intoxica tantas almas. Estando o amor e o respeito no ponto
certo, ou seja, integrados, é só despejar esta substanciosa massa no seu espaço
de ser, que deverá ser sempre uma superfície lisa, jamais rugosa e áspera. Este
espaço deverá ser untado com a determinação do desejo de ser o que se é
realmente e finalmente modelado pelas suas próprias mãos com todas as formas de
SER que você deseja adquirir.
SOBREMESA
ESPAÇO DE LUZ
Admirando o céu
estrelado, deitada na rede com caneta e folha na mão, tentei buscar em algum
lugar do universo uma história que pudesse falar do brilho que cada um carrega
dentro de si. Observando o infinito que abriga estrelas de diferentes formas,
tamanhos e brilhos pude associar o universo delas com o intrigante universo
humano. E foi assim, que encontrei diante de enormes estrelas um ponto de luz,
minúsculo o suficiente, para iluminar as minhas ideias. De uma pequena luz
nasceu uma grande história.
Era
uma vez um ponto luminoso que residia no infinito universo das estrelas.
Escondido em meio a tanta luz trazia consigo o sonho de ser um dia chamado
estrela. Era pequeno demais para ser designado assim, precisava crescer, mas
não sabia como. Sonhava ser visto e admirado por todos que dirigissem o olhar
para o céu, invejando as outras estrelas que brilhavam de felicidade ao receber
olhares vindo de inúmeros lugares do universo.
O único
desejo que o ponto luminoso possuía era ser como as outras estrelas e a única
certeza que tinha era a de não querer ser ele mesmo. Comparava-se o tempo todo
com as grandes estrelas e invejava o lugar delas. A inveja e a vaidade roubavam
a sua vitalidade e o seu brilho. Cansado e opaco, já quase se apagando, recebeu,
finalmente, a visita do guardião estrelar que aparecia toda vez que o universo
corria o risco de perder uma estrela.
Era como se ele fosse um salva-vidas tentando salvar com sabedoria qualquer estrela
ameaçada de se afogar na escuridão.
O guardião estrelar era considerado a
maior estrela do universo. O seu brilho era como se fosse a junção de milhares
de estrelas juntas. Ponto de luz surpreso com tanta luz se aproximando gritou
temeroso:
—
Pare, por favor! Eu não quero morrer consumido pela sua luz.
O guardião continuou se aproximando e
despertando um pavor cada vez mais intenso naquele pontinho luminoso.
—
Eu não quero morrer! Eu não quero morrer! Por favor, não roube a pouca luz que
me resta.
Serenamente, o
guardião lhe tranquilizou:
—
Eu não vim roubar a sua luz. Eu vim ajudá-lo a intensificá-la.
—
Como assim? Perguntou com indignação aquele ponto minúsculo.
—
Se você não deseja morrer necessita romper com as trevas.
—
Por que você me diz isto? Eu não sou parceiro das trevas.
—
Mas está se afogando nelas. Talvez queira ajuda, é por isso que vim.
—
Você me daria um pouco de sua luz para que eu possa me transformar numa estrela
igual às outras? Perguntou o ponto de luz intensificando a sua esperança.
—
Eu não posso lhe ceder a minha luz, ela só pertence a mim. E, não há como você
se transformar numa estrela igual as
outras. Cuidado com a inveja e com a
vaidade que não lhe permite valorizar as diferenças.
—
Como pode dizer que invejo?
—
Não há como negar aquilo que está registrado em seu brilho e em seu olhar.
Incomodado e decepcionado, ponto de luz foi se afastando devagarzinho
dirigindo-se cada vez mais para o interior das trevas. O seu brilho foi se
ofuscando e a sua fragilidade desatou um desabafo agressivo:
—
Se sou um invejoso, você é um grande egoísta. Não custava nada me oferecer um
pouco desta farta luz que recebeu.
— Você
está enganado! Eu não recebi minha luz de ninguém, eu a conquistei.
—
Eu não acredito! Como posso ter algo sem que alguém me dê?
—
Conquistando!
—
Não acredito em conquistas. Eu acredito na sorte. Eu não tive a sorte que as
outras estrelas tiveram de conseguir um lugar estratégico no universo.
— O
que você chama de lugar estratégico?
—
Um lugar onde possamos ser vistos e admirados por todos.
Percebendo a visão equivocada daquela
minúscula luz, o guardião estrelar tentou firmar um pacto com a mesma.
—
Provarei para você que não é o lugar que faz a estrela, mas o inverso, ou seja,
a estrela faz o lugar. No entanto, terás que firmar um acordo comigo.
—
Que acordo?
—
Caso eu consiga provar para você o que acabei de dizer, você terá que aceitar
um desafio.
—
Qual desafio?
—
Deixar de olhar as outras estrelas por um instante para desenvolver a
capacidade de enxergar a si próprio.
—
Para onde deverei desviar o meu olhar para que eu possa me enxergar?
—
Para o espelho das águas do mar.
Desesperado e colérico, ponto luminoso
se exaltou relutando cumprir o acordo a
ser firmado.
—
Você quer me enganar e me transformar numa estrela do mar. Dizem que todas as
estrelas que perderam o brilho caíram para sempre no fundo abismo do mesmo. Eu
não quero correr este risco.
—
Por medo de se afogar no mar, você afogará nas trevas infinitas do universo.
Boa sorte! Nunca diga que não teve uma opção de escolha. Lamento por ti.
O guardião estrelar foi se afastando
lentamente. À medida que se afastava a sua luz continuava a mesma, forte e
poderosa. A distância não diminuía a sua intensidade. Surpreso com o que viu,
ponto de luz inflou o peito e deu um estridente grito de socorro:
—
Volte, por favor! Não me abandone. Eu aceito o desafio.
Guardião estrelar retornou
pacientemente. A insignificante luz fez
ainda algumas conjeturas antes de aceitar definitivamente o desafio, parecia
não acreditar muito na possibilidade do guardião conseguir provar um discurso
que parecia mais uma utopia.
—
Só terei que me olhar caso você prove que o lugar não faz a estrela, mas sim o
inverso. Ponderou a luzinha num tom de exigência.
—
Perfeitamente!
—
Como você conseguirá me provar isto?
—
Muito fácil! Apenas tirando você do lugar que ocupa hoje.
—
Maravilha! Isto é tudo que desejei durante toda a minha vida. Para onde me
levará? Perguntou a opaca luz num misto de ansiedade e exaltação.
—
Você será levado para onde desejar. Escolha a estrela mais invejada por você
que providenciarei todos os recursos para que ocupe o lugar dela.
Padecendo em ânsia apontou rapidamente
para a segunda maior estrela do universo, já que a primeira era o próprio
guardião, sendo, portanto, inapropriado querer ocupar o lugar da estrela que o
ajudaria.
—
Quero ocupar o lugar da estrela Lúcy.
—
Aguarde um momento que providenciarei as mudanças de posições. Preciso comunicar
com Lúcy para que ela possa ceder-lhe este lugar que tanto deseja.
—
Você acha que ela aceitaria ocupar este lugar horrível que ocupo? Acha que
abriria mão do brilho que possui para passar a viver nestas trevas que vivo?
—
A mudança de lugar não afetará o brilho de Lúcy, aliás, uma das coisas que mais
intensifica a sua luz é a possibilidade de estar mudando sempre de lugar. Ela
adorará esta nova aventura. Vou provar que as trevas que você enxerga fora
existe apenas dentro de si mesmo.
Ponto de luz expressou desprezo, mas
limitou-se se manter calado aguardando o momento tão esperado. Guardião
estrelar aproximou-se de Lúcy fazendo os ajustes necessários e retornou
exultante.
—
Preparado? Tudo acontecerá como um flash.
Repentinamente, raios de luz cruzaram o
universo. Ponto de luz se viu lançado para um espaço totalmente novo no extremo
oposto espaço sideral. Ainda tonto, tentando administrar sua euforia e seu
medo, ouviu as palavras finais do atencioso guardião estrelar:
—
Cumpri a minha parte. Agora me diga o que vê e o que sente.
Decepcionado, ponto de luz pôs-se a chorar
lamentando a ilusão que alimentou durante toda a sua vida.
—
Mudamos de lugar, no entanto Lúcy continua linda. Seu brilho aumentou ainda
mais no espaço que para mim era só de trevas. Neste momento ele se transformou
num espaço de luz e eu o perdi. Não consegui roubar a luz de Lúcy ocupando seu
lugar. Sinto-me cada vez mais opaco e frágil e o espaço de luz que pertencia a
Lúcy já não ilumina nada ao ser ocupado por mim. Você tem razão, o espaço não
faz a estrela. Talvez seja mesmo a estrela responsável por construir o seu
espaço, no entanto, eu não aprendi ainda construir o meu por ter passado uma
vida inteira cobiçando um lugar que não me pertencia.
—
Lamento muito, porém, quero que perceba que a tomada de consciência sobre a
ignorância que o dominou até então se
transformou em luz dentro de ti. Cumpri a minha missão, espero
que consiga concluir a sua. Não tenho mais o que fazer aqui.
O guardião estrelar partiu, mas
continuou visível mesmo distante. Uma luz daquela jamais se apaga, se
presentifica eternamente. Quanto ao ponto de luz, desiludido, pôs-se a chorar
por tempo indeterminado. Ninguém soube explicar até hoje por quanto tempo
chorou. Dizem apenas que suas lágrimas se transformaram num mar de água salgada
e cristalina de onde emergiu uma linda estrela brilhante que mergulhou no
universo com o propósito de ocupar, continuamente, um novo lugar no infinito.
Hoje, quando olho para o céu eu a vejo muito grande sorrindo para mim.
Parece apreciar-se e amar-se muito. Ela me contou que lá de cima a terra parece
mais um mar de estrelas de diferentes tamanhos, formas e brilhos. Foi a partir
disto que descobri ser muito importante tentarmos resgatar aqueles pontos de
luz que não conseguiram ainda se enxergar como estrela. Se você for uma estrela
talvez possa me ajudar. Desde já lhe agradeço, pois o nosso planeta precisa de
muita luz. Você estará fazendo por mim, por você, por nós. Abençoada seja a sua
luz!