“ANTES DE BUSCAR A PAZ,
AQUIETE SEU CORAÇÃO”
PAZ
A paz é um prato bem leve e incapaz de
produzir obesidade, ou seja, torna-lo uma pessoa pesada. Quem dele se alimenta
elimina tudo que pesa a consciência. É alta a pressão sobre aquele que não vive
a paz. Sendo assim, nutrir-se dela capacita o ser humano viver sem a incômoda
pressão “alta” que o impede sentir-se aliviado, solto e sereno. Previne,
também, o infarto de uma vida leve e tranquila.
CUSTO
Para viver em paz é necessário abrir
mão dos lucros advindos da infelicidade do outro e da sua própria. Para isso, é
fundamental que você perca toda a vingança, estresse, sovinice e culpas que
porventura esteja juntando pela vida afora. Permitir-se não ser dono de nada,
mas usufruir tudo que necessite é uma grande estratégia na conquista da paz. Ter
apenas a posse de si mesmo e contentar-se com o suficiente; não acumular e ganhar além daquilo que você realmente
precisa é outra estratégia importante
Para viver a paz paga-se o preço de não ganhar desmedidamente
e o de não ser um miserável.
TIRA GOSTO
MINHA MAIS RECENTE DESCOBERTA
MERGULHO DENTRO DE MIM
COMUNICO COM UM SER SINGELO E
SERENO
QUE ME APAZIGUA E CONFORTA
MEU MAIOR ALIADO
MEU MELHOR AMIGO
MERGULHO DENTRO DE MIM
COMUNICO COM UM SER ARROGANTE
E OPRIMIDO
QUE ME PROVOCA E ME SUFOCA
MEU MAIOR ADVERSÁRIO
MEU MAIOR INIMIGO
NO MEU UNIVERSO INTERNO
VEJO O ALIADO E O ADVERSÁRIO
VEJO O AMIGO E O INIMIGO
VEJO-ME
VEJO O QUE QUERO VER E VIVER
QUERO VIVER O CONFORTO E A
PAZ DO AMIGO
QUERO LUTAR CONTRA A
ARROGÂNCIA E OPRESSÃO DO INIMIGO
QUERO JAMAIS ESQUECER A MINHA
MAIS RECENTE DESCOBERTA
DE PODER SER EU MESMA MINHA
MELHOR ALIADA E AMIGA
DE PODER SER EU MESMA MINHA
MAIOR ADVERSÁRIA E INIMIGA
RESTA ESTABELECER OS LIMITES
DA CONVIVÊNCIA
NO UNIVERSO DO MEU EU
AMPLIAR INFINITAMENTE O
ESPAÇO AMIGO
LIMITAR, COM FIRMEZA, O
TERRITÓRIO INIMIGO
PROCLAMANDO A PAZ CESSANDO O
CONFLITO COMIGO MESMA
LÁ FORA
NO UNIVERSO EXTERNO DO MEU EU
VEJO O SER HUMANO
ENFRAQUECENDO SEU MELHOR
AMIGO
DANDO TRÉGUA AO SEU INIMIGO
ÍNTIMO
O UNIVERSO DIVINO
ANINHA ESTE SER
QUERENDO QUE ELE SINTA QUE O
CORAÇÃO É MACIO
PASSÍVEL DE DESCANSO
DESDE QUE SE AME SEM MEDO DE
SER FELIZ
QUE ESTE SER APRENDA A LUTAR
A LUTAR POR TUDO QUE O
LIBERTE
QUE ESTE SER DESAPRENDA A
GUERRIAR
A GUERRIAR POR TUDO QUE O
APRISIONE
QUE LUTE SEM GUERRA
SABENDO BEM A DIFERENÇA
ENTRE LUTA E GUERRA
ELE HÁ DE DESCOBRIR DENTRO DO
SEU PRÓPRIO SER
O PARAÍSO PERDIDO
VIVÊ-LO E NADA MAIS
INGREDIENTES
Discernimento à
vontade
Simplicidade bem fresquinha
Grãos de Aceitação
Serenidade natural
Tranquilidade natural
Tempero de Harmonia
PREPARO
Use todo discernimento que possuir em sua casa para
usar nesta salada que deve ser bem simples, apenas os produtos que o seu ser
precisar. Não vá a busca de nada que possa deixar o seu prato mais sofisticado,
para isto colha em sua horta folhinhas de simplicidade bem fresquinhas e forre
toda a tigela da vida com elas. Procure uma tigela bem aberta. Para que as
folhinhas de simplicidade fiquem ainda mais atraentes, salpique sobre elas
grãos de aceitação que deverão ser cozidos no caldeirão do coração. Ao invés de
comprar a tranquilidade e a serenidade enlatadas em supermercados sentimentais,
tente colhe-las na própria natureza. Caso você não conheça, saiba que tranquilidade
é uma plantinha que gosta de viver em sombra e água fresca e serenidade habita
sempre locais onde possa receber o sereno da madrugada. Colhendo-as ao invés de
comprá-las, você estará evitando comprar produtos com cólera tóxica. De posse
da serenidade e tranquilidade, disponha-as na tigela da forma que melhor lhe
convier e tempere com bastante harmonia. Não se preocupe se precisar de muita
harmonia para agradar seu paladar, pois ela é um tempero leve incapaz causar
azia ou de deixá-lo pesado e indisposto. Mastigue tudo muito bem, pois paz a
gente não engole; paz a gente saboreia.
SOBREMESA
LIBERTE
SUA CRIANÇA
De repente, me
dei conta de que precisava ir a busca da paz. Resolvi fazer uma viagem pelo
mundo certo de que a encontraria em algum lugar. Pensava que se estivesse em
paz tudo estaria resolvido, pois são justamente os problemas que não
conseguimos resolver que nos deixam em conflito. Queria nesta busca descobrir
se a paz é que resolve nossos problemas ou se é a resolução de nossos problemas
que nos deixa em paz.
Quando, finalmente, decidi sair pelo
mundo reuni com minha família informando-a sobre esta minha importante viagem.
Deixei claro que ficaria um bom tempo distante deles para tentar encontrar a
paz em algum lugar e assim que a encontrasse voltaria com ela ofertando-a a
todos. Curioso, meu filho mais novo perguntou:
—
Papai, o que é paz?
Não tive naquele momento uma resposta para uma
pergunta tão simples e ele me questionou novamente:
—
Se não sabe o que é paz, como poderá encontrá-la?
Sentindo-me envergonhado com o questionamento de uma
criança tentei dar-lhe a todo custo uma resposta:
—
Na verdade, a paz é um estado de harmonia e tranquilidade.
Como toda criança, ele me fez uma nova
pergunta:
—
E o que é harmonia e tranquilidade?
Percebi que se tentasse apenas buscar
conceitos para responder suas perguntas ficaríamos eternamente presos em
definições. Achei que seria mais prudente dar-lhe uma resposta buscando uma
experiência concreta.
—
Toda vez que estamos bem alegres sem pensar em nada que nos perturbe, estamos
em paz.
Neste momento os olhinhos de meu filho
se encheram de luz. Foi como se tivesse feito a maior descoberta de sua vida.
Cheio de entusiasmo, falou:
—
Já que esta paz que procura é tão importante, eu posso ajudá-lo a encontrá-la.
Você não precisa rodar o mundo, ela está aqui, eu a conheço e brinco com ela
todos os dias. Amanhã deixarei que brinque com ela também.
Tentando brincar com meu filho e não
dando tanta credibilidade ao que falava por julgá-lo inocente e ingênuo, o
censurei com doçura:
—
Mas, como é que você não me apresentou ela até hoje?
—
Por dois motivos, papai. Primeiro, porque você nunca me falou que a procurava,
talvez estivesse mais preocupado em procurar problemas. E segundo, porque
apesar de brincar com ela todos os dias nunca me preocupei em perguntar o seu
nome, me sentia satisfeito com o simples fato de tê-la ao meu lado.
Fiquei chocado com o que ouvi. Nunca
pensara que meu filho, na condição de criança, pudesse estar atento à forma
como eu vinha conduzindo minha vida. Percebi que o ingênuo ali era eu e que a
inocência talvez fosse um atributo importante para quem deseja a paz. Na
verdade, só os inocentes conseguem senti-la. Quem não vive a inocência, se
sente culpado e vive em conflito constante consigo próprio. Sem perceber que
era um mestre a criança que eu pensara educar, acabei recebendo ali uma lição
de vida. A simplicidade era tanta que cheguei, no meu íntimo, achar impossível
encontrar a paz que eu julgava tão complexa na pureza de uma criança. Mesmo
assim, combinamos encontra-la no outro dia. Iria muito mais para cumprir o
dever de um pai no sentido de julgar-se interessado pelas coisas do filho do
que na esperança de ser realmente apresentado à paz por uma simples criança.
No outro dia meu filho tomou-me pela
mão e saiu comigo rumo às montanhas. Durante a caminhada ele me falou assim:
—
Hoje, nós combinamos brincar de voar como os passarinhos. Ontem, nós brincamos
de nadar como os peixes no rio. Foi ótimo!
—
Me fale de tudo que vocês costumam brincar. Perguntei, curioso, tentando
desvendar as fantasias de uma criança.
—
A gente brinca de ser... De ser... De ser, sei lá... Ser... Ele não conseguia
complementar a sua resposta.
Percebi que sua resposta talvez não
tivesse mesmo um complemento. Talvez fosse simples o suficiente para a nossa
mente adulta querer complicar. Brincar de SER seria a resposta. Não tentei
complicar a questão, na verdade nem tive abertura para isto, pois antes que me
desse conta, meu filho já estava lá no alto da montanha com os braços abertos
prontos para voar como um pássaro. Desceu correndo, batendo os braços e dando
gargalhadas de soluçar. Chegou, finalmente, junto a mim e pediu que voasse
também. Tentei, mas não senti a harmoniosa sensação que meu filho demonstrava.
Decepcionado, ele olhou-me nos olhos e disse:
—
Talvez, você prefira planar...
Levou-me até o alto da montanha
novamente. Tirou as roupas, fechou os olhos, abriu os braços e se limitou a
ficar quietinho apenas sentindo o vento tocar em seu corpo. Tentei fazer o
mesmo, mas achei-me ridículo. Abri meus olhos e encontrei a paz, não em mim,
mas em meu filho. Descobri que ela era muito mais do que a tranquilidade e
harmonia; era, na verdade, a genuína alma de uma criança. Tive a plena
consciência de que enquanto eu estivesse fechado e achando ridículo o que era
demasiadamente simples e belo, jamais conseguiria encontra-la. Era necessário
me abrir. Antes de voar, talvez precisasse abrir meus braços para acolher o que
sempre rejeitei. Naquele momento abri meus braços para abraçar meu filho e lhe
disse com fervor:
—
Obrigado filhinho! Adorei a sua companheira, no entanto preciso ainda aprender
a brincar com ela. Acho que estou pesado demais, não consigo voar e nem planar.
—
Por que você ficou pesado, papai?
—
Acho que é porque virei gente grande.
—
Desse jeito eu não vou querer crescer, eu vou querer ser sempre uma criança.
—
Pois eu lhe digo uma coisa muito importante, meu filho. Você pode crescer sem
receios, só não pode deixar nunca de ser uma criança também.
—
Tem jeito de ser gente grande e criança ao mesmo tempo? Perguntou-me confuso.
—
Acho que sim. Preciso descobrir. Acho que preciso ir atrás da criança que mora
dentro de todos nós, principalmente aquela que mora dentro de mim. Se eu
encontra-la, com certeza ela estará assim como você, de mãos dadas com a paz e
brincando com ela todos os dias.
Foi assim que resolvi sair pelo mundo
em busca da criança. Passei por campos de guerra e vi a criança bombardeada nos
corações dos homens. Estava muito ferida e não conseguia se exercer. Na maioria
dos combatentes ela já havia morrido. Passei pela miséria e vi a criança
desnutrida e sem força. Não conseguia levantar-se e chorava de fome. Descobri
aí, que para ser criança não basta ter pouca idade, pois vi muitos seres
pequeninos carregando a senilidade dentro deles e mais à frente deparei-me com
um idoso que trazia junto de si a criança mais levada que conheci. Todos diziam
que ele havia caducado, mas ele me disse um grande segredo ao pé do ouvido que
jamais esquecerei:
—
Cansei de ser adulto. Se eu precisar ser um velho caduco para libertar a minha
criança, serei. Não conte a eles que não estou caduco, pois senão me obrigarão
a ficar, novamente, cego como eles que só enxergam a luta da vida. Sem enxergar,
eu corro o risco de perder minha criança e se eu perde-la não terei paz
enquanto não encontra-la novamente.
Saí dali pensando na minha luta para
encontrar a paz. Que contradição! Passei também por templos religiosos. A
criança não estava lá, somente pessoas sérias, e a paz eles afirmavam estar no
paraíso. Ali, fiquei sabendo que o paraíso é um lugar muito distante onde mora
um homem chamado Deus. Se o Deus deles pelo menos fosse criança, eu acreditaria
no paraíso deles.
Tive contato com ambientes festivos
onde vi de tudo. Vi pessoas brincando com sua criança e outras tentando
alicia-la. Tive a oportunidade de observar muitas famílias educando suas
crianças, ensinando a elas etiquetas de boas maneiras. Na maioria delas, boas
maneiras para deixar de ser criança e deixar de ser feliz. Nos ambientes de
trabalho, simplesmente, nunca houve espaços para a criança. Existem, inclusive,
leis que proíbem o trabalho para criança. Sendo assim, no trabalho a gente
aprende a ser apenas gente grande.
Depois de buscar tanto a criança, eu me
perdi. Não sabia mais porque a buscava. A lembrança de meu filho e da paz que
brincava com o mesmo todos os dias me ajudou muito. Cheguei à conclusão que
faltava apenas eu olhar para dentro de mim mesmo e ter a coragem de correr o
risco de libertar a minha criança. Não sei como, mas tive esta coragem. Quando
me olhei com carinho e ternura a vi sorrindo para mim. Linda! Apesar de
sapiente não sabia ainda se defender dos adultos. Ela me olhou com um olhar
triste e disse:
—
Estou de castigo.
—
Por que? Perguntei.
—
Porque deixei de fazer o dever de casa para poder brincar. Respondeu
melancólica.
—
Por que você não fez o dever de casa para brincar depois? Questionei,
censurando-a.
—
Porque além de chato ele é grande demais para mim e não sobra tempo para
brincar.
Tomei um susto e a criança desapareceu.
Parei para pensar no tamanho e na qualidade de meu dever e cheguei à conclusão
que eu só consigo pensar no que devo fazer e nunca no que posso fazer. Devendo
fazer tanta coisa eu passei a dever muito e perdi a paz com tanta dívida. Desde
então, passei a buscar o que posso fazer diferente e vez e outra vejo minha
criança reaparecendo para mim com um rostinho mais alegre dizendo:
—
Parece que falta muito pouco para o castigo acabar!
Outro dia sonhei com ela e no meu sonho
ela era um lindo anjinho com asinhas salientes prontas para voar. Depois deste
sonho subi, novamente, a montanha com meu filho e consegui finalmente voar.
E se você não entendeu ainda esta história
e deseja que eu lhe explique mais uma vez o que criança tem haver com paz, eu
lhe respondo:
-Tudo!!!!!!!
E tem mais... Se você ainda tem esta
dúvida é porque não tirou a sua criança do castigo.