quarta-feira, 30 de maio de 2012

PAZ


ANTES DE BUSCAR A PAZ, AQUIETE SEU CORAÇÃO”



PAZ


         A paz é um prato bem leve e incapaz de produzir obesidade, ou seja, torna-lo uma pessoa pesada. Quem dele se alimenta elimina tudo que pesa a consciência. É alta a pressão sobre aquele que não vive a paz. Sendo assim, nutrir-se dela capacita o ser humano viver sem a incômoda pressão “alta” que o impede sentir-se aliviado, solto e sereno. Previne, também, o infarto de uma vida leve e tranquila.




CUSTO



         Para viver em paz é necessário abrir mão dos lucros advindos da infelicidade do outro e da sua própria. Para isso, é fundamental que você perca toda a vingança, estresse, sovinice e culpas que porventura esteja juntando pela vida afora. Permitir-se não ser dono de nada, mas usufruir tudo que necessite é uma grande estratégia na conquista da paz. Ter apenas a posse de si mesmo e contentar-se com o suficiente; não acumular e  ganhar além daquilo que você realmente precisa é outra estratégia importante

Para viver a paz paga-se o preço de não ganhar desmedidamente e o de não ser um miserável.



TIRA GOSTO




MINHA MAIS RECENTE DESCOBERTA




MERGULHO DENTRO DE MIM

COMUNICO COM UM SER SINGELO E SERENO

QUE ME APAZIGUA E CONFORTA

MEU MAIOR ALIADO

MEU MELHOR AMIGO



MERGULHO DENTRO DE MIM

COMUNICO COM UM SER ARROGANTE E OPRIMIDO

QUE ME PROVOCA E ME SUFOCA

MEU MAIOR ADVERSÁRIO

MEU MAIOR INIMIGO




NO MEU UNIVERSO INTERNO

VEJO O ALIADO E O ADVERSÁRIO

VEJO O AMIGO E O INIMIGO

VEJO-ME

VEJO O QUE QUERO VER E VIVER




QUERO VIVER O CONFORTO E A PAZ DO AMIGO

QUERO LUTAR CONTRA A ARROGÂNCIA E OPRESSÃO DO INIMIGO

QUERO JAMAIS ESQUECER A MINHA MAIS RECENTE DESCOBERTA

DE PODER SER EU MESMA MINHA MELHOR ALIADA E AMIGA

DE PODER SER EU MESMA MINHA MAIOR ADVERSÁRIA E INIMIGA




RESTA ESTABELECER OS LIMITES DA CONVIVÊNCIA

NO UNIVERSO DO MEU EU

AMPLIAR INFINITAMENTE O ESPAÇO AMIGO

LIMITAR, COM FIRMEZA, O TERRITÓRIO INIMIGO

PROCLAMANDO A PAZ CESSANDO O CONFLITO COMIGO MESMA




LÁ FORA

NO UNIVERSO EXTERNO DO MEU EU

VEJO O SER HUMANO

ENFRAQUECENDO SEU MELHOR AMIGO

DANDO TRÉGUA AO SEU INIMIGO ÍNTIMO




O UNIVERSO DIVINO

ANINHA ESTE SER

QUERENDO QUE ELE SINTA QUE O CORAÇÃO É MACIO

PASSÍVEL DE DESCANSO

DESDE QUE SE AME SEM MEDO DE SER FELIZ




QUE ESTE SER APRENDA A LUTAR

A LUTAR POR TUDO QUE O LIBERTE

QUE ESTE SER DESAPRENDA A GUERRIAR

A GUERRIAR POR TUDO QUE O APRISIONE

QUE LUTE SEM GUERRA




SABENDO BEM A DIFERENÇA

ENTRE LUTA E GUERRA

ELE HÁ DE DESCOBRIR DENTRO DO SEU PRÓPRIO SER

O PARAÍSO PERDIDO

VIVÊ-LO E NADA MAIS


INGREDIENTES



Discernimento à vontade

Simplicidade bem fresquinha

Grãos de Aceitação

Serenidade natural

Tranquilidade natural

Tempero de Harmonia




PREPARO




         Use todo discernimento que possuir em sua casa para usar nesta salada que deve ser bem simples, apenas os produtos que o seu ser precisar. Não vá a busca de nada que possa deixar o seu prato mais sofisticado, para isto colha em sua horta folhinhas de simplicidade bem fresquinhas e forre toda a tigela da vida com elas. Procure uma tigela bem aberta. Para que as folhinhas de simplicidade fiquem ainda mais atraentes, salpique sobre elas grãos de aceitação que deverão ser cozidos no caldeirão do coração. Ao invés de comprar a tranquilidade e a serenidade enlatadas em supermercados sentimentais, tente colhe-las na própria natureza. Caso você não conheça, saiba que tranquilidade é uma plantinha que gosta de viver em sombra e água fresca e serenidade habita sempre locais onde possa receber o sereno da madrugada. Colhendo-as ao invés de comprá-las, você estará evitando comprar produtos com cólera tóxica. De posse da serenidade e tranquilidade, disponha-as na tigela da forma que melhor lhe convier e tempere com bastante harmonia. Não se preocupe se precisar de muita harmonia para agradar seu paladar, pois ela é um tempero leve incapaz causar azia ou de deixá-lo pesado e indisposto. Mastigue tudo muito bem, pois paz a gente não engole; paz a gente saboreia.




SOBREMESA

 

 


LIBERTE SUA CRIANÇA





De repente,  me dei conta de que precisava ir a busca da paz. Resolvi fazer uma viagem pelo mundo certo de que a encontraria em algum lugar. Pensava que se estivesse em paz tudo estaria resolvido, pois são justamente os problemas que não conseguimos resolver que nos deixam em conflito. Queria nesta busca descobrir se a paz é que resolve nossos problemas ou se é a resolução de nossos problemas que nos deixa em paz.

         Quando, finalmente, decidi sair pelo mundo reuni com minha família informando-a sobre esta minha importante viagem. Deixei claro que ficaria um bom tempo distante deles para tentar encontrar a paz em algum lugar e assim que a encontrasse voltaria com ela ofertando-a a todos. Curioso, meu filho mais novo perguntou:

— Papai, o que é paz?

Não tive naquele momento uma resposta para uma pergunta tão simples e ele me questionou novamente:

— Se não sabe o que é paz, como poderá encontrá-la?

Sentindo-me envergonhado com o questionamento de uma criança tentei dar-lhe a todo custo uma resposta:

— Na verdade, a paz é um estado de harmonia e tranquilidade.

         Como toda criança, ele me fez uma nova pergunta:

— E o que é harmonia e tranquilidade?

         Percebi que se tentasse apenas buscar conceitos para responder suas perguntas ficaríamos eternamente presos em definições. Achei que seria mais prudente dar-lhe uma resposta buscando uma experiência concreta.

— Toda vez que estamos bem alegres sem pensar em nada que nos perturbe, estamos em paz.

         Neste momento os olhinhos de meu filho se encheram de luz. Foi como se tivesse feito a maior descoberta de sua vida. Cheio de entusiasmo, falou:

— Já que esta paz que procura é tão importante, eu posso ajudá-lo a encontrá-la. Você não precisa rodar o mundo, ela está aqui, eu a conheço e brinco com ela todos os dias. Amanhã deixarei que brinque com ela também.

         Tentando brincar com meu filho e não dando tanta credibilidade ao que falava por julgá-lo inocente e ingênuo, o censurei com doçura:

— Mas, como é que você não me apresentou ela até hoje?

— Por dois motivos, papai. Primeiro, porque você nunca me falou que a procurava, talvez estivesse mais preocupado em procurar problemas. E segundo, porque apesar de brincar com ela todos os dias nunca me preocupei em perguntar o seu nome, me sentia satisfeito com o simples fato de tê-la ao meu lado.

         Fiquei chocado com o que ouvi. Nunca pensara que meu filho, na condição de criança, pudesse estar atento à forma como eu vinha conduzindo minha vida. Percebi que o ingênuo ali era eu e que a inocência talvez fosse um atributo importante para quem deseja a paz. Na verdade, só os inocentes conseguem senti-la. Quem não vive a inocência, se sente culpado e vive em conflito constante consigo próprio. Sem perceber que era um mestre a criança que eu pensara educar, acabei recebendo ali uma lição de vida. A simplicidade era tanta que cheguei, no meu íntimo, achar impossível encontrar a paz que eu julgava tão complexa na pureza de uma criança. Mesmo assim, combinamos encontra-la no outro dia. Iria muito mais para cumprir o dever de um pai no sentido de julgar-se interessado pelas coisas do filho do que na esperança de ser realmente apresentado à paz por uma simples criança.

         No outro dia meu filho tomou-me pela mão e saiu comigo rumo às montanhas. Durante a caminhada ele me falou assim:

— Hoje, nós combinamos brincar de voar como os passarinhos. Ontem, nós brincamos de nadar como os peixes no rio. Foi ótimo!

— Me fale de tudo que vocês costumam brincar. Perguntei, curioso, tentando desvendar as fantasias de uma criança.

— A gente brinca de ser... De ser... De ser, sei lá... Ser... Ele não conseguia complementar a sua resposta.

         Percebi que sua resposta talvez não tivesse mesmo um complemento. Talvez fosse simples o suficiente para a nossa mente adulta querer complicar. Brincar de SER seria a resposta. Não tentei complicar a questão, na verdade nem tive abertura para isto, pois antes que me desse conta, meu filho já estava lá no alto da montanha com os braços abertos prontos para voar como um pássaro. Desceu correndo, batendo os braços e dando gargalhadas de soluçar. Chegou, finalmente, junto a mim e pediu que voasse também. Tentei, mas não senti a harmoniosa sensação que meu filho demonstrava. Decepcionado, ele olhou-me nos olhos e disse:

— Talvez, você prefira planar...

         Levou-me até o alto da montanha novamente. Tirou as roupas, fechou os olhos, abriu os braços e se limitou a ficar quietinho apenas sentindo o vento tocar em seu corpo. Tentei fazer o mesmo, mas achei-me ridículo. Abri meus olhos e encontrei a paz, não em mim, mas em meu filho. Descobri que ela era muito mais do que a tranquilidade e harmonia; era, na verdade, a genuína alma de uma criança. Tive a plena consciência de que enquanto eu estivesse fechado e achando ridículo o que era demasiadamente simples e belo, jamais conseguiria encontra-la. Era necessário me abrir. Antes de voar, talvez precisasse abrir meus braços para acolher o que sempre rejeitei. Naquele momento abri meus braços para abraçar meu filho e lhe disse com fervor:

— Obrigado filhinho! Adorei a sua companheira, no entanto preciso ainda aprender a brincar com ela. Acho que estou pesado demais, não consigo voar e nem planar.

— Por que você ficou pesado, papai?

— Acho que é porque virei gente grande.

— Desse jeito eu não vou querer crescer, eu vou querer ser sempre uma criança.

— Pois eu lhe digo uma coisa muito importante, meu filho. Você pode crescer sem receios, só não pode deixar nunca de ser uma criança também.

— Tem jeito de ser gente grande e criança ao mesmo tempo? Perguntou-me confuso.

— Acho que sim. Preciso descobrir. Acho que preciso ir atrás da criança que mora dentro de todos nós, principalmente aquela que mora dentro de mim. Se eu encontra-la, com certeza ela estará assim como você, de mãos dadas com a paz e brincando com ela todos os dias.

         Foi assim que resolvi sair pelo mundo em busca da criança. Passei por campos de guerra e vi a criança bombardeada nos corações dos homens. Estava muito ferida e não conseguia se exercer. Na maioria dos combatentes ela já havia morrido. Passei pela miséria e vi a criança desnutrida e sem força. Não conseguia levantar-se e chorava de fome. Descobri aí, que para ser criança não basta ter pouca idade, pois vi muitos seres pequeninos carregando a senilidade dentro deles e mais à frente deparei-me com um idoso que trazia junto de si a criança mais levada que conheci. Todos diziam que ele havia caducado, mas ele me disse um grande segredo ao pé do ouvido que jamais esquecerei:

— Cansei de ser adulto. Se eu precisar ser um velho caduco para libertar a minha criança, serei. Não conte a eles que não estou caduco, pois senão me obrigarão a ficar, novamente, cego como eles que só enxergam a luta da vida. Sem enxergar, eu corro o risco de perder minha criança e se eu perde-la não terei paz enquanto não encontra-la novamente.

         Saí dali pensando na minha luta para encontrar a paz. Que contradição! Passei também por templos religiosos. A criança não estava lá, somente pessoas sérias, e a paz eles afirmavam estar no paraíso. Ali, fiquei sabendo que o paraíso é um lugar muito distante onde mora um homem chamado Deus. Se o Deus deles pelo menos fosse criança, eu acreditaria no paraíso deles.

         Tive contato com ambientes festivos onde vi de tudo. Vi pessoas brincando com sua criança e outras tentando alicia-la. Tive a oportunidade de observar muitas famílias educando suas crianças, ensinando a elas etiquetas de boas maneiras. Na maioria delas, boas maneiras para deixar de ser criança e deixar de ser feliz. Nos ambientes de trabalho, simplesmente, nunca houve espaços para a criança. Existem, inclusive, leis que proíbem o trabalho para criança. Sendo assim, no trabalho a gente aprende a ser apenas gente grande.

         Depois de buscar tanto a criança, eu me perdi. Não sabia mais porque a buscava. A lembrança de meu filho e da paz que brincava com o mesmo todos os dias me ajudou muito. Cheguei à conclusão que faltava apenas eu olhar para dentro de mim mesmo e ter a coragem de correr o risco de libertar a minha criança. Não sei como, mas tive esta coragem. Quando me olhei com carinho e ternura a vi sorrindo para mim. Linda! Apesar de sapiente não sabia ainda se defender dos adultos. Ela me olhou com um olhar triste e disse:

— Estou de castigo.

— Por que? Perguntei.

— Porque deixei de fazer o dever de casa para poder brincar. Respondeu melancólica.

— Por que você não fez o dever de casa para brincar depois? Questionei, censurando-a.

— Porque além de chato ele é grande demais para mim e não sobra tempo para brincar.

         Tomei um susto e a criança desapareceu. Parei para pensar no tamanho e na qualidade de meu dever e cheguei à conclusão que eu só consigo pensar no que devo fazer e nunca no que posso fazer. Devendo fazer tanta coisa eu passei a dever muito e perdi a paz com tanta dívida. Desde então, passei a buscar o que posso fazer diferente e vez e outra vejo minha criança reaparecendo para mim com um rostinho mais alegre dizendo:

— Parece que falta muito pouco para o castigo acabar!

         Outro dia sonhei com ela e no meu sonho ela era um lindo anjinho com asinhas salientes prontas para voar. Depois deste sonho subi, novamente, a montanha com meu filho e consegui finalmente voar.

         E se você não entendeu ainda esta história e deseja que eu lhe explique mais uma vez o que criança tem haver com paz, eu lhe respondo:

-Tudo!!!!!!!

         E tem mais... Se você ainda tem esta dúvida é porque não tirou a sua criança do castigo.












































segunda-feira, 21 de maio de 2012

HUMILDADE


GRANDIOSO AQUELE QUE ALICERÇADO PELA HUMILDADE TORNA-SE CAPAZ DE RECONHECER A SUA PEQUENEZ”




HUMILDADE




         Trata-se de um simples e nutritivo coquetel, porém de difícil preparo. Permite ao ser humano valorizar ingredientes sutis que muitas vezes despreza e joga fora, tornando-se capaz de identificar-se com o divino sabor de ser ele mesmo e não com o pretensioso desejo de ser um Deus onipotente. É como se esta bebida ativasse a consciência real que o ser humano precisa ter de si, tornando-o mais receptivo à sua própria pessoa e aos outros.



CUSTO




O preço a ser pago é o doloroso reconhecimento de nossa impotência e fragilidade.




TIRA-GOSTO



DE DESEJOS ERRANTES A DESEJOS VITAIS




MAIOR CONTENTAMENTO NÃO HÁ
EM VIVER E SENTIR O MUNDO
DESEJEI MAIS



MAIOR CONTENTAMENTO NÃO HÁ
EM VIVER E SENTIR AS PESSOAS
DESEJEI MAIS



MAIOR CONTENTAMENTO NÃO HÁ
EM VIVER E SENTIR VOCÊ
DESEJEI MAIS



MAIOR CONTENTAMENTO NÃO HÁ
EM VIVER E SENTIR-ME
DESEJEI MAIS



DESEJOS ERRANTES
FEZ A VIDA PARECER CARA
VENDENDO A MORTE A PRESTAÇÃO



DESEJEI TRANSFORMAR O MUNDO
AO INVÉS DE SER TRANSFORMADA POR ELE
ONIPOTÊNCIA



DESEJEI SER RECONHECIDA POR TODOS
AO INVÉS DE RECONHECÊ-LOS
VAIDADE



DESEJEI SER A FONTE MAIOR E EXCLUSIVA DE SEU DESEJO
AO INVÉS DE SER UMA FONTE QUE NÃO MATA A SUA SEDE, APENAS A SACIA
POSSESSIVIDADE



DESEJEI SER O MÁXIMO
AO INVÉS DE SER O MÍNIMO POSSÍVEL DIANTE DO INFINITO
AMBIÇÃO



DESEJEI TER UM CORPO PERFEITO
AO INVÉS DE VIVER E SENTIR O MEU
COMPLEXOS



DESEJOS ERRANTES
TORNOU O VIVER INACESSÍVEL
TRANSFORMOU A MORTE EM LEI



DEREPENTE ME VEJO EM TRANSIÇÃO
TRANSGREDINDO A ERRATA LEI
VIVENDO O REVÉS DOS ERRANTES DESEJOS



REVERTE-SE A ORDEM DO DESEJO
A VIDA PASSA A SER A LEI
GERMINANDO BROTOS DE DESEJOS VITAIS EM MIM



MESMO QUE NÃO SEJA VIVIDA E SENTIDA POR INTEIRO
SINTO O GOSTO DA VIDA
SABOR DE QUERO MAIS



QUERO MAIS É ME TRANSFORMAR
ACEITAR A IMPOTÊNCIA
TRANSFORMAR ONIPOTÊNCIA EM POTÊNCIA



QUERO MAIS É RECONHECER A TODOS
RECONHECER QUE SOMOS PARTES
TER A HUMILDADE DE SER PARTE DE UM TODO



QUERO MAIS É SER UMA SIMPLES FONTE
NÃO SER A DONA DE SUA SEDE
DOAR A MINHA ABUNDÂNCIA



QUERO MAIS É SER O MÍNIMO POSSÍVEL
E NÃO ME ESTRESSAR TANTO
COMPREENDER QUE O MÁXIMO É INALCANÇÁVEL



QUERO MAIS É SENTIR E VIVER O MEU CORPO NORMAL
NÃO SER TÃO PERFEITA
ACEITAR A MINHA IMPERFEIÇÃO



QUERO MAIS É SEGUIR EM FRENTE
DEPARAR-ME COM O INFINITO E COM A ETERNIDADE
CONCLUIR QUE NÃO SE CONCLUI NADA




INGREDIENTES



Um cálice bem caprichado de autoconhecimento

Uma boa dose de aceitação

Simplicidade a gosto




PREPARO




Antes de começar a preparar, abra a geladeira e sua despensa verificando quais os ingredientes que você realmente possui. Se tentar fazer este coquetel com ingredientes que gostaria de ter e não com os que têm disponíveis, não conseguirá executar nem mesmo a primeira etapa e correrá o risco de preparar doses de orgulho e inveja que além de lhe intoxicar poderão também lhe causar uma ressaca horrível no dia seguinte.

         Se durante o preparo encontrar fragilidade e impotência, não tema o seu efeito no coquetel. Elas poderão ser adicionadas sem riscos para a sua saúde, bastando que você as use para certificar-se de seus limites e não para imobilizar-se. Conhecer os limites nos ajuda a não estragar a receita, colocando quantidades exageradas ou ínfimas de um ingrediente fundamental. O autoconhecimento lhe ajudará muito neste sentido atuando como um processador de alimentos congelados e esquecidos que julgava insignificantes. Lembre-se sempre que a insignificância não existe para quem dá significado à vida. Ela nos é injustamente imposta quando nos embriagamos com doses de vaidade e orgulho.

         Dos ingredientes que você descobriu possuir e resolveu utilizar em seu coquetel, adicione igual quantidade de simplicidade e adoce com aceitação. Misture tudo com bastante energia até obter uma bebida bem cremosa, que deverá ser ingerida por você e por todos que tiverem humildade para prová-la com a valiosa consciência de que nenhuma marca de bebida, por mais cara que seja,  não é excepcionalmente mais importante do que a nossa própria marca.

         Desta bebida, você pode beber sem receios. Não provoca ressaca moral, principalmente aquela ressaca de humilhação, quando nos embriagamos com o orgulho ou com a mediocridade. A única sensação que provoca será a deliciosa vibração de paz e felicidade.




SOBREMESA



O GRÃOZINHO DE AREIA






DEDICO ESTA ESTÓRIA A TODO GRÃOZINHO DE AREIA QUE ÀS VEZES SE DEBATE COM A SUA CONDIÇÃO, MAS QUE BUSCA LÁ, NO FUNDO DO SEU SER, O NOBRE SENTIDO DE SÊ-LO.





         Era uma vez um grãozinho de areia chamado José. José andava muito insatisfeito consigo mesmo. Achava que a vida de grão de areia não valia à pena. Pensava que talvez valesse mais à pena ser uma estrela ou qualquer outra coisa que fosse grande, luminosa, forte e poderosa. Tinha vontade de deixar de ser um grão de areia, mas não sabia como deixar de sê-lo. Chegava a pensar que, se talvez fosse levado ao vento, solitário, pudesse deixar de sê-lo, mas era sempre advertido  de que este seu desejo era impossível. E assim vivia em eterno conflito consigo mesmo.

         José encontrava, frequentemente,  ao seu redor muitos grãos de areia assim como ele, todos lamentando a sua lastimável condição de ser um simples grão. Um dia, porém, viu uma grãozinha sorrindo alegremente no meio de tanta lamentação. Surpreso, perguntou à mesma:

— O que faz de você um ser tão feliz?

— Viver é uma grande felicidade! Respondeu a grãozinha irradiando entusiasmo pela vida.

— Viver pode ser bom para uma estrela, mas para um grão de areia... É terrível ser um grão de areia. Lamentou José.

— Mas eu sou também um grão de areia e não me sinto infeliz na minha condição de sê-lo. Qual a diferença entre um grão e uma estrela? Perguntou a grãozinha.

— A estrela vive nas alturas, é grande e brilha. Nós vivemos aqui em baixo podendo ser pisado por todos e, além do mais, somos minúsculos e opacos. Respondeu José cheio de insatisfação.

— Nossa, que jeito mais esquisito de enxergar a vida! Exclamou a grãozinha cheia de indignação.

— E por acaso há outra maneira de enxergar esta vida miserável? Perguntou José desafiando a grãozinha.

— Eu não sei se o meu jeito de enxergar é certo ou errado, só sei que é completamente diferente do seu. 

Tentando ironiza-la José falou:

— Se o jeito que você se enxerga for bom, talvez você esteja cega.

         A grãozinha com toda delicadeza e humildade falou com ternura:

   Talvez eu seja cega mesmo e com isto tenha adquirido a capacidade de enxergar diferente. Você enxerga usando a mágoa como instrumento. Eu utilizo o meu coração e dentro dele há muito amor, principalmente por mim.

— O amor faz a gente se enxergar diferente? Perguntou José.

— O amor faz a gente enxergar tudo belo! Esse seu jeito estranho de enxergar a vida me faz pensar que lhe falta amor.

— Você está querendo dizer que não existe amor na minha vida? Que petulância! Eu sei muito bem o que vem a ser o amor. Censurou José àquela grãozinha que parecia  tê-lo desafiado naquele momento.

— Eu não estou querendo dizer que não existe amor na sua vida. Eu estou querendo dizer que lhe falta amor. Existir e faltar são duas coisas bem diferentes. É justamente por existir que você sabe o que é, e é por saber o que é que você se sente mal quando o amor lhe falta. Ponderou a grãozinha com sabedoria.

— E quanto de amor me falta? Perguntou o grãozinho curioso.

— Amor não se mede, amor se sente. Falta apenas você sentir amor por si mesmo. Explicou a grãozinha.

— Me diga como se faz isto, pois na verdade eu sempre passei a minha vida preocupado em sentir amor pelos outros e tentando comprovar o amor que os outros sentiam  pela minha pessoa. Buscando a aprovação de todos acabei me esquecendo de mim. Lamentou José.

— Você pode começar por aí, por lembrar-se mais de si mesmo.

— Isso não funciona. Eu passo o dia inteiro me lembrando desta coisa horrível que sou e a estrela que não consigo ser. Tudo seria perfeito se eu fosse uma estrela.

A grãozinha já estava quase perdendo a paciência com o jeito pobre e pequeno que aquele grão tinha de se perceber. Ela, grão como ele, não se via assim. Onde estava a diferença? Tentando ajudá-lo resolveu persistir naquela conversa.

— Pare com este seu jeito de queixar-se da vida e de si mesmo! Enquanto você não corrigir este seu comportamento autodepreciativo você não conseguirá se amar. Sem amar a si mesmo tornará impossível amar a vida por mais bela que ela seja. Tente se conhecer melhor. Será que não percebe a importância de um grão de areia?

              José foi ficando assustado com a firmeza da grãozinha. Limitou-se a ficar caladinho escutando a bronca de um ser que se dizia igual a ele, mas que parecia, ao mesmo tempo, ser tão diferente. Não conseguia encontrar uma razão sequer que pudesse justificar a importância de um grão de areia. Ela, por sua vez, continuava falando, tentando buscar, se necessário, no lugar mais longínquo do universo uma razão para a sua existência.

— Eu me aceito porque sei que tudo tem uma razão de ser.  Se sou uma pequena grãozinha é porque o  universo precisa muito de mim. Se o universo não precisasse de mim, eu não seria um grão, eu simplesmente não existiria. O universo precisa que eu seja um grão e não uma estrela, assim como você. O fato de sermos uma coisa e não outra, não aniquila o nosso valor. A quem foi dado o poder de atribuir valor a coisas? Perguntou a grãozinha desafiando José que afirmou logo em seguida:

— Boa pergunta. Eu não saberia respondê-la.

— Pois, eu sei! Este poder foi dado a todos nós. Valemos por aquilo que afirmamos ser, como tudo aquilo que nos rodeia. Eu não sou como você que não se atribui valor algum. Eu me sinto importante, pois fui inteligente o suficiente para criar uma razão que pudesse me transformar num ser significativo e indispensável neste universo. Ninguém neste mundo conseguiria aniquilar o meu valor, pois eu já o defini. Sou um grande tesouro!

               José deu uma grande risada e falou com sarcasmo:

— Deixa de ser pedante! Por que você não consegue enxergar a realidade e se aceitar como um ser pequeno, opaco e cravado neste chão?

— Você é quem não consegue enxergar a realidade e se aceitar como é. O seu orgulho lhe deixa cego. Não sou eu quem estou lamentando a condição de ser um grão. Eu aceito a minha condição, você não. O fato de sermos pequenos não significa que não sejamos grandes. O fato de sermos opacos não significa que não tenhamos o nosso brilho. O fato de estarmos cravados no chão não significa que não estejamos nas alturas.

Sem entender aquilo que a grãozinha tinha acabado de falar, José enrugou a testa num sinal de reprovação. A sua expressão denotava grande insatisfação. Parecia desejar ser o universo e não o grão que o constituía.

A grãozinha, por sua vez, permaneceu ali, feliz.  Uma das coisas que lhe dava imenso prazer era olhar para uma linda estrela abaixo da terra que sempre dirigia o seu olhar para cima admirando este gigantesco planeta. O brilho do olhar dela era tão intenso que a grãozinha conseguia adivinhar o que aquela estrela  pensava. Com certeza ela dizia:

— Que planeta maravilhoso! De quantos grãos é feito a terra? Abençoados sejam todos eles,  ali juntinhos,  criando o chão que abriga tantas espécies, tanta riqueza e tanta beleza. Majestosa grã!

         Esta estória termina com o universo sussurrando no ouvido desta estrela:

— Daí não dá para você enxergar, mas habita este planeta um grão megalomaníaco chamado homem, que não descobriu ainda o sentido e a consistência de ser um simples grão. Ao invés de se sentir parte, ele se sente o todo – O TODO PODEROSO. Com isso ele sofre. Sofre ao descobrir que não tem tanto poder quanto gostaria. Se não descobrir a parte importante que é, e principalmente a parte importante que cada espécie que habita este maravilhoso planeta representa, acabará transformando a majestosa grã em pó.
















domingo, 13 de maio de 2012

DESAPEGO

 
“AGARRADO AO OUTRO E ATRELADO AO MEDO DE PERDÊ-LO, VOCÊ CORRE O SÉRIO RISCO DE DISTANCIAR DE SI MESMO E PERDER-SE”



DESAPEGO





Este prato é uma massa suculenta capaz de nos manter alimentados por um bom tempo mesmo quando passamos um grande período sem poder provar aquele alimento que a gente mais gosta. Ele evita que fiquemos com aquela incômoda sensação de vazio, nos nutrindo diante da falta. Deve estar sempre solto para poder ser saboreado. Se grudar perde toda a sua essência saborosa provocando uma inconveniente dor na barriga de nossa alma.




CUSTO




O grande mistério deste prato é que mesmo tendo que pagar um alto preço, você jamais se sentirá subtraído.

        


TIRA GOSTO




MENSAGEM AO BEIJA-FLOR




NÃO TENHO PALAVRAS
PRA DIZER MAIS DO QUE TE AMO
MAIS DO QUE TE AMO
TALVEZ POSSA SER
ETERNAMENTE TE AMO


NÃO TENHO DESEJO
DE VIVER SEM O TEU AMOR
SEM O TEU AMOR
DEVORO A SOLIDÃO
E NÃO MATO A FOME DE TI


NÃO TENHO OUTRO SENTIMENTO
QUE NÃO SEJA SAUDADE
NÃO SEJA A SAUDADE
O ÚNICO SENTIMENTO
ETERNAMENTE DURADOURO


NÃO TENHO VOCÊ
SEM VOCÊ ME PERDÍ
PERDÍ A TÍ E A MIM
PROCURO POR NÓS
ENCONTRO APENAS NÓS A DESATAR


PRECISO DAS PALAVRAS
PRECISO DO DESEJO
PRECISO DE TODOS OS SENTIMENTOS
PRECISO DE VOCÊ
PRECISO VIVER 


PRECISO VIVER
SEM PALAVRAS PRA VOCÊ
SEM DESEJO POR VOCÊ
SEM SAUDADE DE VOCÊ
SEM VOCÊ


PRECISO DE VOCÊ
DESAPEGADO DE TUDO QUE FOI
DESAPEGADO DE TUDO QUE FUI
LIVRE PARA QUE A ETERNIDADE EXERÇA
TUDO O QUE A VIDA LHE NEGOU


PRECISO DE TODOS OS SENTIMENTOS
QUE A VIDA PUDER ME OFERECER
OFERECER À VIDA TODOS OS SENTIMENTOS
À VIDA ME EXERCER
E SER EXERCIDA POR ELA


PRECISO DO DESEJO
DESEJO DE VIVER
VIVER BEM COMIGO
VIVER BEM COM TUDO QUE ME RESTOU
VIVER BEM COM TUDO QUE VIRÁ


PRECISO DE PALAVRAS
PALAVRAS LIVRES
PALAVRAS MINHAS
PALAVRAS QUE EXPRESSEM COM HARMONIA
A CONEXÃO DE MINHA VIDA COM MINHA EXISTÊNCIA


AMOR DA MINHA VIDA
TRANSFORMO-TE AGORA NO AMOR DA MINHA EXISTÊNCIA
HOJE VOCÊ NÃO VIVE
HOJE VOCÊ EXISTE
VIVENDO SEU SER EXISTENCIAL



AMOR DA MINHA EXISTÊNCIA
NÃO VIVO MAIS COM VOCÊ
EXISTO NESTE MOMENTO VIVENDO A VIDA
EXISTIREI AMANHÃ ASSIM COMO VOCÊ HOJE
É SÓ UMA QUESTÃO DE TEMPO



ONTEM, JUNTOS
VIVEMOS A VIDA
HOJE, SEPARADOS
VIVEMOS A IMPOSSIBILIDADE DE CONECTARMOS O NOSSO SER ATUAL
AMANHÃ, JUNTOS
CONECTAREMOS A NOSSA EXISTÊNCIA



PRA AGORA
RESTA A PACIÊNCIA
RESTA A ESPERANÇA
RESTA O QUE RESTOU
RESTOS



 A CIÊNCIA DA PAZ NOS SOLICITA
VIVER CADA UM O SEU MOMENTO
ABRIRMOS A GAIOLA DO APEGO
VOARMOS LIVRES
PARA TERMOS O QUE COMPARTILHAR NO MOMENTO DO ENCONTRO



VAI, MEU AMOR
NÃO TE QUERO MEU
QUERO-TE SEU
NÃO ME QUERO SUA
QUERO-ME MINHA



VOE, MEU AMOR
SEM MEDO DE PERDER-ME
NÃO QUEBRE AS SUAS ASAS NA GAIOLA DO APEGO
ABRA-SE PARA A ETERNIDADE
LIBERTE SUAS ASAS



FAREI A MINHA PARTE
FAÇA A SUA
DA GAIOLA DO APEGO ME LIBERTAREI
ABRIREI AS ASAS PRA VIDA
SEREI FELIZ



VAI DOER
MAS A DOR HÁ DE SE TRANSFORMAR
TRANSFORMANDO-ME
TRANSFORMANDO-TE
E SEM SABER NO QUE VAI DAR
SEGUIREMOS



SEGUIREMOS SEM OBRIGAÇÕES
SEM OBRIGAÇÃO DE NOS ENCONTRAR
SEM OBRIGAÇÃO DE NOS SEPARAR
RESTANDO APENAS O PRAZER
PRAZER DE SEGUIR EM FRENTE



SEM DESPEDIDAS
SEM ADEUS
EU FICO POR AQUI
VOCÊ FICA POR AÍ
ATÉ QUANDO...


INGREDIENTES


Uma ilimitada quantidade de eternidade

Independência por inteiro

Tempero da fé

Entrega

Fluido oleoso de Aceitação

Amor Incondicional para o molho

Instrumentos utilizados: Máquina da criatividade e varal da receptividade




PREPARO


Quem sabe preparar um bom macarrão, com certeza não terá dificuldade para compreender como se processa esta receita. Inicialmente será necessário preparar a massa. A mistura da eternidade com a independência regada com entrega forma a massa do desapego. Jogue um pouco de fé para dar tempero à massa. Amasse bastante estes ingredientes até sentir elasticidade e firmeza. Adquirida esta consistência elástica e firme, deixe descansar por um tempo duradouro. O descanso é fundamental para a massa conseguir manter a consistência que conquistou, pois depois de tantos amassos e apertos poderá estar se sentindo estressada e sem energia para os próximos passos.

Depois do descanso, passe a massa na máquina da criatividade cortando-a em partes separadas, dispondo-as no formato que desejar. Cada parte deverá ser mantida longe da outra para receber uma ventilação que permita a mesma se curtir. Curtida, cada segmento de massa se permitirá viver separada da outra. Se você vacilar e deixar as partes se juntarem, elas se grudarão numa tentativa de resgatar a condição passada de ter sido uma só massa. Para facilitar este processo, você poderá criar o varal da receptividade, onde você pendura cada segmento até ficar no ponto de ser cozido, ou poderá deixá-lo esticado sobre uma superfície plana para que ele se alongue o bastante evitando com isto que cada segmento corra o risco de se encurtar grudando em partes de si mesmo que necessitam estar sempre soltas e livres.

Encha o caldeirão da vida com a valiosa entrega que deverá estar fervendo para receber os segmentos da massa cortada. Se a entrega estiver fria, a massa grudará totalmente uma na outra. A frieza gera insegurança fazendo com que uma parte busque na outra a calorosa segurança. Mesmo com uma fervilhante entrega, corre-se o risco do grude acontecer. Para evitar isto, adicione a oleosa aceitação. A aceitação permitirá a cada parte descobrir o prazer de ser ela mesma, mesmo separada da outra parte que tanto deseja. Neste momento você poderá adicionar mais um pouquinho de fé na entrega para evitar que a massa corra o risco de sentir-se destemperada. Depois de cozidas estarão definitivamente maduras e flexíveis para viver a sua real condição e serem finalmente saboreadas sem causarem danos ao outro. Se bem cozidas, descobrirão que o fato de existirem separadas não lhes causará nenhum aniquilamento ou subtração. Estarão suficientemente maduras para descobrirem que estar junto não pressupõe estar grudado. Lembre-se que um macarrão grudento pode gerar uma grande indisposição, e que a grande característica de um macarrão realmente apetitoso consiste em ter vários segmentos juntos, porém separados um do outro. Estar grudado consiste em estar preso. Estar solto consiste em estar livre para se exercer. O sabor da liberdade é bem melhor do que o sabor do aprisionamento.

Finalmente é chegada a hora de acrescentar o delicioso molho preparado com amor incondicional. Este molho sobre a massa do desapego forma uma parceria perfeita tornando a sua vida muito mais nutritiva e saborosa.

Eu posso lhe garantir que este prato é MASSA!



SOBREMESA




DONA SEPARAÇÃO




         O grande desejo que prevalece entre duas pessoas que se amam é estarem sempre juntas. Imaginam tudo que podem fazer juntinhas uma da outra, só não imaginam o que podem fazer distanciadas. Quando se unem imaginam que poderão ser “felizes para sempre”, pois desde criança escutaram isto nos finais dos contos de fada. Na verdade parece que o final de um conto de fada é sempre o começo. Do final de um conto ninguém nunca falou, pois o final é um lugar desconhecido.  Tem uma dona atrevida que não habita os contos de fada. Ela é real demais para estar lá. O nome dela é Dona Separação.

          Dona Separação não tem casa própria, vive fazendo visitas. Cada dia ela escolhe um lugar novo para habitar. Chega batendo na porta, entra sem pedir licença e sempre impõe que um saia para que ela possa entrar.  É uma visita inesperada e inoportuna. Ninguém gosta dela, mas ela ama todos e nunca se esquece de ninguém. Parece espaçosa, pois não respeita o espaço do outro. Se o espaço que ela decidir ocupar for o seu, você tem que sair mesmo. A gente nunca sabe ao certo para onde vai a pessoa que ela escolhe, mas sabemos muito bem como  ficamos sem esta pessoa.

Vou lhes contar como fiquei no dia que Dona Separação bateu na minha porta. Fiquei perdida e atordoada sem saber ao que me agarrar. Sempre me agarrei naquilo que ela me roubou. Furtada de minha segurança, me vi, repentinamente, sem apoio e pronta para desabar. Dei uma bronca em Dona Separação, mas ela nem parecia se comover com meu sofrimento. Em momento algum, ela pensou em amenizar a minha dor trazendo de volta o que havia me roubado. O vazio que ficou dentro do meu ser provocou um eco que acabou me ensinando algumas coisas. Muito brava e revoltada tentei travar com a mesma um diálogo que na verdade se tornou um monólogo:

— Você é terrível, serve apenas para arruinar o que com tanto esforço construí. Falei.

— Você é terrível, serve apenas para arruinar o que com tanto esforço construí. Repetiu o eco.

— Não estou lhe pedindo para repetir o que falo ou faço. Retruquei.

— Não estou lhe pedindo para repetir o que falo ou faço. Repetiu novamente aquele misterioso eco.

— Pare com isso! Gritei irritada.

— Pare com isso! Repetiu.

— Você deveria ocupar seu tempo com uniões. Solicitei.

— Você deveria ocupar seu tempo com uniões. Repetiu aquele eco.

— Por que não faz isto? Perguntei.

— Por que não faz isto? Repetiu.

— Você não sabe ouvir, sabe apenas repetir. Censurei.

— Você não sabe ouvir, sabe apenas repetir. Repetiu aquele som enigmático.

— Você não pode se sentir dona da vida impondo apenas o que tem vontade. Falei.

— Você não pode se sentir dona da vida impondo apenas o que tem vontade. Repetiu.

— O que você pretende? Perguntei.

— O que você pretende? Repetiu aquele fenômeno acústico que parecia insistir no desejo de me ensinar alguma coisa.

Neste momento parei por um instante e ouvi a pergunta que o eco me fizera a partir de minha própria indagação. Percebi o quanto precisava me ouvir ao invés de buscar respostas e o quanto precisava dizer a mim cada pergunta ou solicitação que fizera à Dona Separação. Foi aí que travei um diálogo comigo.

— O que pretendo?

— Será que pretendo ser a dona da vida impondo a ela apenas o que tenho vontade?

— Será que não estou sendo terrível comigo mesma construindo revolta e tristeza depois de ter me esforçado tanto para construir a paz e a felicidade que eu já julgava ter conquistado?

— Será que ao invés de perder meu tempo lamentando o que perdi, eu não deveria ocupá-lo com as conquistas que me aguardam?

— Será que preciso me unificar novamente juntando meus cacos para lentamente me sentir uma pessoa inteira?

— Por que não faço isto?

— Não posso continuar repetindo este comportamento de falar e fazer apenas o que é destrutivo.

— Pare com isso!

Parei com tudo isso, não sei bem como, só sei que parei. Parei quando rompi meu  relacionamento com Dona Separação e me uni à  Dona Vida que tudo oferece na medida certa e no momento certo. Descobri que Dona Separação nos tira apenas o que não é nosso. Aquilo que é nosso se eterniza dentro da gente. O amor, a paz, a felicidade e a sabedoria continuaram vivos dentro de mim. Da muda Dona Separação nunca obtive respostas, mas estou sempre ouvindo Dona Vida me dizer uma única palavra:

-VIVA!