“A VERDADE É UM HOLOFOTE QUE IRRITA E
OFUSCA OS OLHOS DE QUEM NÃO DESEJA SE ENXERGAR, POIS ILUMINA O QUE,
CUIDADOSAMENTE, DESEJAMOS MANTER NO ESCURO”
Verdade não é, na verdade, uma receita a ser preparada.
Ela já se encontra pronta em algum lugar e possui todos os elementos capazes de
matar a sua sede de SER e VIVER.
CUSTO
O preço maior que se paga é o da censura. Por não ser
compreendido, você pode perder a aprovação de alguns, mas, com certeza, ganhará
a aprovação e reconhecimento de uma pessoa muito especial: você mesmo.
No final deste investimento, ganhará autenticidade,
liberdade e coragem com juros e correções. Apossado desta grande riqueza,
ninguém conseguirá tirar de você aquilo que conquistou. Jamais se sentirá nesta
vida um miserável.
TIRA GOSTO
MINHA VERDADE
MINHA VERDADE É
APENAS O QUE ESTOU SENDO
AGORA
AMANHÃ ELA PODERÁ SE
TRANSFORMAR
NUMA GRANDE MENTIRA
MAS UMA NOVA VERDADE
ESTARÁ ME ESPERANDO
DE BRAÇOS ABERTOS
PRONTA PARA ME CONDUZIR
EM MEU NOVO DIA
ACOLHIDA PELA VERDADE
SINTO-ME PROTEGIDA
DE RUBROS E NEGROS OLHARES
SINTO-ME LIBERTA
DAS PESADAS CORRENTES DO MAL
SINTO A VIDA
ESPANTANDO A MORTE
PERMITINDO-ME SER E VIVER
A ESSÊNCIA DAQUILO QUE SOU
INGREDIENTES
Essencialmente ela mesma.
PREPARO
Vá à fonte da vida e tome a verdade
para si saciando a sede de ser aquilo que voce é realmente e de poder viver
aquilo que deseja, harmonizando-se com a essência do seu verdadeiro ser.
Não troque a fonte da vida pelas
doentias águas paradas que possuem em sua constituição a padronização de um
jeito de ser massificado e ultrajado pelos interesses dominantes.
Se você não sabe onde está a fonte da
vida, eu posso lhe contar. Esta fonte se encontra na sua propriedade; é só
procurá-la com desejos de encontrá-la. Não cometa o erro de procurá-la na
propriedade vizinha.
SOBREMESA
O MANTO
Quando Deus criou a Verdade, o diabo
criou a Mentira para competir com a obra divina. A função da Mentira seria
encobrir a divina obra para que ninguém pudesse contemplar a sua beleza, para
isto, a invenção diabólica usava sempre um manto negro.
Curiosidade, que sempre acabava se
deparando com a Mentira pelas encruzilhadas da vida, perguntou em um dos seus
ocasionais encontros:
—
O que você esconde debaixo deste manto preto?
—
Eu escondo a Verdade. Respondeu a Mentira repleta de satisfação.
—
De quem você esconde a Verdade?
—
Daquele que, finalmente, consegue chegar muito próximo dela, correndo assim, o
risco de se apaixonar por ela. Respondeu Mentira com uma expressão que denotava
receio.
—
Por que alguém se apaixonaria pela Verdade? Perguntou a curiosa Curiosidade.
—
Porque, infelizmente, ela é bela demais. Qualquer um ficaria encantado por ela.
Desabafou, pesarosa, a Mentira, tendo que se valer de uma verdade que lhe
incomodava profundamente.
—
Se a verdade é tão bela, você deveria deixar-nos apreciá-la. Ponderou
Curiosidade.
—
De jeito nenhum! Como é que eu ficaria? Irritou-se Mentira.
—
Como assim? Não estou entendendo.
—
Se a Verdade fica encoberta eu consigo parecer mais bela do que ela. Ninguém
nesta vida tem o poder de imaginar a beleza da Verdade até ter a divina chance
de contemplar de frente a sua face. Antes que consigam abraça-la e sentir o seu
calor e proteção, eu entro em cena com meu jeitinho astuto e a maioria acaba
facilmente se iludindo comigo. Zombou Mentira.
—
Engraçado, eu sempre tive a impressão de que as pessoas temiam muito mais a
Verdade do que a apreciavam. Argumentou Curiosidade.
Mentira deu um longo suspiro e
continuou sua conversa:
—
Ninguém teme a Verdade, pois ela é uma dádiva que afasta o medo. As pessoas
temem a si mesmas. Confundem seus anseios e medos com a Verdade.
—
Não estou entendendo. Você poderia me explicar melhor. Solicitou Curiosidade.
—
É claro! Você pode me acompanhar?
—
Para onde?
—
Para um lugar onde eu possa lhe mostrar, na prática, como funciona o que estou
lhe tentando explicar. Já estou sentindo alguém me chamando. Devo ir rápido
para chegar à frente da Verdade, encobri-la e fazer o meu teatro.
Mentira levou Curiosidade para um
comício político. Um grande público aguardava ansioso o discurso de um
candidato. Antes de subir no palanque, o político orou pela mentira:
—
Como farei para enganar este povo? Preciso demonstrar que estou preocupado com
eles.
Foi só terminar sua oração inconsciente
que Mentira se aproximou com seu manto negro encobrindo a Verdade antes que
esta tivesse a chance de subir as escadas do palanque. O candidato se encheu de
força, subiu no palco como se fosse um ator representando um personagem. Fez o
seu discurso vazio de Verdade e repleto de Falsidade, sendo aplaudido por
todos.
Assim que Mentira executou o seu
trabalho, pôde novamente retornar ao seu agradável bate-papo com Curiosidade.
—
Curioso! Exclamou Curiosidade — Como é que o povo aceita um discurso tão
pueril?
—
O povo adora ilusões! Ironizou Mentira — Tudo que é fácil seduz este povinho; e
eu tenho a arte de apresentar soluções fáceis.
—
A Verdade é mais difícil? Perguntou Curiosidade.
—
Talvez seja mais trabalhosa. Completou Mentira.
—
E como você conseguiu fazer aquele candidato se sentir forte? Indagou
Curiosidade.
—
Criando uma ilusão dentro dele que o impeça de enxergar claramente a pessoa
podre que está sendo. Faço isto lhe ofertando uma fantasia que lhe agrade. Até
ele se confunde com os belos personagens que lhe ofereço.
—
Por que a Verdade não lutou para se exercer? Questionou Curiosidade.
—
Porque aquele candidato não orou por ela. Regozijou Mentira.
—
Se a Verdade fosse tão bela quanto você diz, por que ele não quis apresentá-la
ao público? Interrogou Curiosidade.
—
Na verdade, ele não quis se apresentar a ela. Quando certos homens covardes se
apresentam à mesma, tomam consciência do quanto estão sujos e corrompidos. Com
medo da própria imagem, eles oram por mim. Eu os fantasio e os faço sentirem
belos e poderosos. A Verdade, por outro lado, lhes mostra apenas o espelho.
Quem é feio não gosta de espelho. Daí, eles não gostam da imagem que veem e
erroneamente pensam que a verdade é feia. Confundem a própria imagem com a
Verdade Suprema.
—
A feia imagem que possuem não seria a Verdade deles?
—
Seria apenas a suposta verdade que construíram. A feia imagem deles é na verdade
uma realidade que pode ser mudada. A Verdade suprema transcende esta imagem e o
próprio ser, podendo libertá-lo com sua beleza e poder, pois, cada um tem a
bondade e a maldade dentro de si. Salientou Mentira com sabedoria.
—
Eu bem que gostaria de assistir uma cena de libertação. Você tem como me
mostrar? Perguntou Curiosidade.
—
Impossível! Eu não liberto ninguém, eu apenas os aprisiono nas mais loucas
fantasias, ilusões e imagens que desejam. Proferiu Mentira.
—
Acho que estou começando a entender, no entanto, tem mais um pedaço
interessante desta história que não lhe cabe mostrar-me e que eu gostaria de
desvendar. Agradeço a sua atenção, mas agora tenho que partir.
Curiosidade despediu-se de Mentira e
partiu em busca de um novo conhecimento que lhe interessava profundamente.
Desejava ter o privilégio de assistir a atuação da Verdade no palco da Vida.
Caminhando, incessantemente, entre vales e montanhas, encontrou Consciência
cavalgando nua num lindo cavalo branco. Uma expressão de plenitude tomava conta
do semblante da mesma. Sem conter a sua essência curiosa, Curiosidade comentou
perguntando:
—
Te vejo agora tão feliz e realizada... O que aconteceu com você hoje?
—
É raro acontecer, mas quando acontece eu me sinto livre, totalmente livre, leve
e em paz. A sensação de peso e aprisionamento me faz muito mal. Quando me vir
neste robusto cavalo branco, saiba que estou feliz, muito feliz. Refletiu
Consciência com alacridade sem, no entanto, responder, claramente, a pergunta
de Curiosidade.
—
Seja mais clara! Desse jeito eu me arrebento de tanta curiosidade.
— Hoje eu pude mais uma vez
ser tocada, massageada e contemplada pela Verdade. Quando isto acontece me
sinto leve e tranquila. Explicou Consciência repleta de satisfação.
Certa de que poderia finalmente
desvendar o mistério que Mentira jamais poderia lhe revelar, Curiosidade
implorou a Consciência que lhe apresentasse a Verdade:
—
Por favor, me leve até ela. Eu preciso vê-la atuar.
—
Então vamos lá! Prepare-se para uma viagem no tempo e no espaço. Acho que uma
cena histórica poderia conceder-lhe uma grande revelação.
Curiosidade montou na garupa daquele
vigoroso cavalo branco cavalgado por Consciência e sem perceber a partida e a
chegada, viu-se, repentinamente, diante de uma cena muito forte que lhe partiu
o coração. Um homem acabava de morrer da forma mais desumana pregado numa cruz.
Curiosidade assustada e perplexa perguntou:
—
O que esta cena horrível tem haver com a Verdade?
—
Buscando-a, este homem se libertou e a muitos que seguem seu exemplo. Esclareceu
Consciência.
—
Como pode ter se libertado com seu corpo pregado nesta cruz? Arguiu
Curiosidade.
—
A Verdade é um presente para a nossa alma e não para o nosso corpo. Elucidou
Consciência.
—
Não sei se valeria à pena morrer para ver a cara dela. Ironizou Curiosidade.
—
Ninguém morre pela verdade, pelo contrário, ganhamos mais vida com ela. Só a
Mentira é capaz de matar e destruir, no entanto, muitos crimes cometidos por
ela ficam ocultos. Para facilitar a vida, o ser humano é capaz de destruir,
quando poderia construir para facilitá-la. Entretanto, toda construção
pressupõe trabalho e nem sempre ele está disposto a se comprometer com o mesmo.
Curiosidade ouvia, atentamente, cada
palavra proferida por Consciência e optando pelo silêncio se viu, subitamente,
diante de uma nova cena que a hipnotizou com tamanha beleza. Uma linda criança
de semblante angelical, exalando pureza e doçura, usufruía jubilosa e faceira,
cada porção de uma realidade paradisíaca da qual parecia ser dona. Tudo parecia
ganhar mais vida ao leve toque de suas mãos. Naquele lugar, as flores pareciam
mais flores, o rio mais rio, as árvores mais árvores, os animais mais animais,
o céu mais céu, a terra mais terra, o ar mais ar, o ser humano mais humano.
Antes que Curiosidade saísse de seu estado hipnótico e se dirigisse àquela
criança para conhecê-la melhor e perguntar o seu nome, uma voz vinda não se
sabe de onde ressoou como um eco dentro do seu coração:
—
Verdade, corra aqui que eu preciso de você agora.
Naquele momento, a criança correu se
transformando num manto de luz, cobriu Curiosidade como se estivesse
abraçando-a e a transformou em Sabedoria.
Hoje, quando vejo um sábio fico curiosa
a me perguntar:
—
Por onde andou a curiosidade dele?