quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

CORAGEM



“A VIDA NÃO SE MANIFESTA PARA QUEM TEM MEDO DELA”


CORAGEM

         Coragem é um prato que todo mundo sabe que faz um grande bem para a alma. No entanto, todos têm receio de prová-lo, talvez por ser um pouco apimentado. Esta pimenta é como um combustível que queima como fogo, fazendo com que a pessoa se mova em direção ao que precisa enfrentar para conquistar seus objetivos e realizar todos os desejos que pulsam forte no seu coração. É na verdade um tônico para tudo que desejamos realizar.


CUSTO



         Se paga a pena da legítima defesa por ter matado o medo de fome desviando para a preciosa coragem todo o investimento que antes era reservado apenas para o esfomeado medo fortalecendo-o. Sendo assim, você será, com certeza, absolvido da prisão que o medo lhe condenou.



TIRA GOSTO


ALIANÇA


ONDE MORA O MEDO?
ELE MORA NAS ENCRUZILHADAS
CHEGUEI ATÉ UMA DELAS
E O ENCONTREI FORTE E DESTEMIDO

MEDO DESTEMIDO
MEDO SEM MEDO
MEDO CORAJOSO
ENCURRALA A TODOS SEM DÓ

O MEDO SABE O QUE QUER
QUER QUE AS PESSOAS NÃO SAIBAM
SABE MOSTRAR BEM OS PERIGOS DA VIDA
E DEIXA CLARO QUE A CORAGEM É UM DELES


O MEDO APRISIONA A ALMA
NÃO PERMITE A VIDA
NÃO PERMITE A MORTE
NÃO PERMITE A TRANSFORMAÇÃO

DIANTE DO MEDO ESTREMECI
EVITEI A VIDA
EVITEI A MORTE
EVITEI A TRANSFORMAÇÃO

OBSERVANDO A FORÇA DO MEDO
O ADMIREI ALIANDO-ME À SUA FORÇA
IDENTIFICANDO COM ELA, DESEJEI SER FORTE TAMBÉM
A FORÇA DE MEU DESEJO CRIOU A CORAGEM

A CORAGEM ALIOU-SE A MIM, LIBERTANDO-ME
PERMITINDO-ME VIVER
PERMITINDO-ME MORRER, SE NECESSÁRIO
TRANSFORMANDO-ME

EM MEU PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO
HÁ ESPAÇOS PARA O MEDO
HÁ ESPAÇOS PARA A CORAGEM
HÁ ESPAÇOS PARA MIM E PARA VOCÊ

QUERO-ME E QUERO-TE
VIVENDO, MORRENDO, VIVENDO
COMIGO, SE DER
SE DER BEM COMIGO


INGREDIENTES


Aceitação
Decisão
Otimismo sem medida (à vontade)
Determinação bem afiada
Confiança madura
Experiência de vida para o recheio


PREPARO



         Se você souber preparar uma boa linguiça, não terá dificuldade para preparar-se para a coragem. O mecanismo é o mesmo. Se não souber, prepare-se para aprender.
         Tripa de porco a gente poderia jogar fora. No entanto, a gente limpa, enche com muita carne boa, temperos e está pronta a linguiça para ser levada ao fogo e ingerida saborosamente.
         O medo é como uma tripa cheia de “merda” dentro dela. Usando um linguajar mais refinado, poderíamos dizer que os bolos fecais que o intestino retém em seu interior se associariam às fantasias e pensamentos negativos que o medo retém. Sendo assim, o primeiro passo é aceitar que suas tripas estão cheias de “merda” para, posteriormente, tomar a decisão de limpá-las, pois uma linguiça com restos fecais poderia causar um grande dano ao organismo. Desta forma, não tente se enganar. O primeiro passo é tomar consciência de seus pensamentos negativos e se propor, definitivamente, desapegar-se dos mesmos, pois fragmentos destes, ao invés de coragem, poderão gerar autodestruição. Deixe jorrar muito otimismo sobre os pensamentos e fantasias negativas, da mesma forma que se limpa as tripas deixando a água correr por dentro e por fora delas  eliminando qualquer resíduo fecal. Para a limpeza ser bem feita, se vira a tripa ao avesso, com a faca raspam-se as gosmas passando limão e fubá para retirar qualquer ranço. Saiba que o mesmo deverá ser feito com o medo. Assim que for virado ao avesso, lentamente ele irá se transformando em coragem. Sem medo não se prepara coragem, ela depende dele para existir. A coragem é o lado avesso do medo. Raspe o medo com uma afiada determinação, retirando as gosmas da covardia e passando bastante fé e confiança para eliminar os ranços de qualquer insegurança que estiver impregnado no mesmo. Feito isto, o medo se transformará em coragem podendo finalmente ser recheado com a experiência que você tanto deseja vivenciar.
         Quando estiver saboreando sua deliciosa linguiça, com certeza se lembrará do sábio ditado de ter feito das TRIPAS, CORAÇÃO.



SOBREMESA


              
UMA VIAGEM POR DIVERSOS SABORES

DEDICO ESTA ESTÓRIA ÀQUELE PEIXINHO QUE NADA NO FUNDO DO SEU CORAÇÃO


 Vou contar para você a história de um peixe um pouco diferente dos demais. Peixes vivem em água doce ou salgada. Este vivia num pequeno lago de águas amargas. Num passado remoto, o lago que vivia fora lindo e cristalino; porém, a instalação de uma indústria de produtos químicos em seus arredores, começou lentamente a poluí-lo, amargando definitivamente as águas do mesmo. Todos os seres que ali viviam foram ficando amargos como as águas do lago. Sentiam muita raiva de viver ali, mas não conseguiam sair dali por acreditarem que aquele era o único lugar do mundo capaz de abrigá-los. Mas, como toda regra tem uma exceção, havia lá o tal peixinho que pensava diferente e, por pensar diferente, ele acreditava em coisas totalmente diferentes de todos os habitantes do lago. O sabor amargo daquele lago nunca agradou o seu paladar, intensificando seu desejo de poder sair daquele lugar.
O sonho do peixinho era cantar, sonho este bem incomum para um peixe. Os outros peixes olhavam para ele com pena e descrédito. Alguns teciam comentários, numa tentativa de desestimulá-lo:
— Peixes não cantam e, se cantassem, você jamais seria capaz de cantar. És pequeno demais. Se acomode e faça como todos nós, sacuda seus sonhos no canal ribeirinho para que eles possam ir embora para sempre e não lhe perturbar mais.
 Outros diziam:
— Fique caladinho que é melhor! Aprenda a gostar daqui, pois este é o seu lugar. Somos tão miseráveis! Seja caridoso e pense numa forma de aliviar a nossa dor. O canto jamais poderá trazer benefícios e enriquecimento a você e ao nosso mundo.
         A única coisa que aquele peixinho não conseguia era ficar calado. Carregava consigo o dom de acreditar mais em seus sonhos do que no conformismo daqueles seres. Falava sempre com muita firmeza naquilo que acreditava:
— Eu não amo este lugar! Eu não me sinto seguro aqui! Quando eu conseguir amar e sentir-me seguro e feliz, estarei definitivamente livre da amargura que vocês sentem.
         Alguns o ironizavam, dizendo:
— Até parece que você não é amargo também. Você vive aqui e não há como ser diferente. Esta é a nossa característica.
O peixinho argumentava:
— Vocês estão enganados. Eu vivo nos meus sonhos e não sou amargo. Posso estar amargo, mas estar é diferente de ser. Serei aquilo que sonho! De agora em diante irei à busca da liberdade de vivê-los intensamente. Ao contrário de vocês, meus sonhos não me incomodam, eles me entusiasmam. Eu não tenho medo de ser feliz.
— Se você procura a segurança, saiba que a liberdade não oferece segurança para ninguém. Ela apenas impõe riscos que nenhum ser aqui teve a coragem de assumir. O nosso lago é seguro, pois nos protege dos riscos. Para se libertar do lago amargo, terás de passar pelo canal ribeirinho onde todos nós despejamos os nossos sonhos assim que eles começam a nos incomodar. O canal é estreito demais e, com certeza, você não resistiria. Haja coragem para enfrentá-lo!
— Prefiro a morte a me amarrar a esta falsa segurança que vocês pregam. É preciso arriscar para conquistar a felicidade.
Com muita raiva de tudo, porém determinado, o peixinho partiu sem querer ouvir mais nada. Sentiu que ensurdecer diante do pessimismo era a melhor maneira de seguir em frente. Partiu com sua raiva, fruto de sua amargura, acreditando poder deixá-la ao longo do caminho. Mas partiu também com sua coragem, acreditando aumenta-la cada vez mais durante sua trajetória. Aceitando os desafios, embrenhou-se no tão falado estreito canal que, realmente, o fez sentir-se apertado e comprimido. Teve medo, chorou muito, viveu a dor, menos o conformismo. Quanto mais doído se sentia, mais vontade ele tinha de sair dali. Apesar de sentir-se enfraquecido pela dor, carregava dentro de si a força de seu sonho e um possante otimismo. Esta força o impulsionava à frente. Precisava lutar, jamais se render. E foi assim, nadando e lutando incessantemente, confiando apenas em si e em Deus, que conseguiu finalmente desaguar-se num belo rio de águas cristalinas. Neste momento, foi como se tivesse acontecido uma explosão dentro dele mesmo. Era como se tivesse sendo parido para uma nova vida. Passado o aperto, pôde experimentar um sabor diferente que muito agradou o seu paladar. Sentiu-se grande, bem maior do que o peixinho do lago amargo. Pensou que havia encontrado o seu lugar definitivo, que finalmente deparara com a concretização de seu sonho.
Viveu ali por algum tempo revolucionando as águas daquele rio, ensinando para muitos peixes o que na verdade nunca fizera antes — cantar. Ficava confuso por saber algo que na verdade nunca lhe fora ensinado. Era como se aquela habilidade para cantar fosse inata. Descobriu que qualquer peixe poderia cantar, cantando. Certificou-se que seu sonho não era uma ilusão, mas uma realidade, que poderia ser vivida por todos os peixes que partilhassem deste mesmo sonho e que tivessem, antes de tudo, muita confiança em si mesmos.
E assim ele foi descendo rio abaixo ensinando aos peixes que se pode morrer pela boca, mas se pode também viver plenamente através dela. Teve que ser muito esperto para não ser fisgado por anzóis ou preso a redes e outras armadilhas. Viver experiências novas e desafiadoras lhe fazia sentir-se mais forte e seguro.
O tempo foi passando e à medida que nadava rio abaixo foi percebendo que, num determinado lugar e momento, as águas do rio foram ficando turvas e poluídas. O cenário foi mudando gradativamente, já não tinha diante de si um caminho cristalino, tudo parecia opaco. Ficou confuso com esta mudança repentina, pois pensara já ter conquistado uma condição segura, confortável e garantida de vida. Não sabia mais se esta nova característica do rio estava presente apenas naquele lugar ou se havia acontecido uma transformação repentina semelhante ao acontecido no antigo lago que vivera. Foi crescendo o desejo de se libertar daquele novo e incômodo acontecimento. Olhava para frente, olhava para trás e empacado não conseguia definir qual o melhor caminho. Apesar de não saber ainda o que fazer, sabia apenas que aquele já não era mais um lugar agradável para se viver. Como todos os peixes gostavam muito de seus ensinamentos e do seu jeito de ser diziam:
— Fique com a gente, você nos ensina tanto! Precisamos de você para ficarmos do tamanho de nossos sonhos. Olhe como as águas à sua frente estão turvas. Você não sabe o que vai encontrar. É mais seguro ficar aqui. Se nadar de volta contra a correnteza poderá encontrar o rio límpido outra vez.
Algumas vezes, receoso, com aquela significativa , resistiu seguir em frente e nadou contra a correnteza numa tentativa de encontrar as águas límpidas anteriormente vividas. No entanto, foi ficando muito cansado, cada vez mais cansado e sem esperanças de encontrar as águas cristalinas que buscava trilhando aquela direção. Parecia que todo rio tinha se transformado num rio de águas poluídas. Teve medo de ficar amargo novamente, pois o seu cansaço ora se transformava em raiva. Teve saudade da paz dos tempos cristalinos que, limpara toda a amargura que carregara no seu íntimo. Entretanto, foi percebendo que não dava para voltar. Tinha conquistado a sabedoria de que seguir em frente era sempre o melhor caminho. Num ímpeto de coragem, decidiu arriscar mais uma vez. Chegara à conclusão de que ali não era mais o seu lugar. Gritou finalmente para si mesmo e para todos seus companheiros:
 — Eu não quero ficar parado aqui e nem mesmo voltar atrásA ida é sempre mais interessante do que a volta, pois guarda com ela o mistério de tudo que se pode encontrar. A ida em busca dos meus sonhos me aguarda e me entusiasma. Este já foi o meu lugar, no entanto, já não é mais. Vocês não precisam de mim para ficarem do tamanho de seus sonhos, vocês precisam apenas da coragem de vivê-los.
Lançou-se nas águas turvas deixando que a correnteza lhe levasse por algum tempo. Deixando-se levar, sentiu-se mais leve e tranquilo mesmo sem enxergar com clareza o que estava à sua frente. Sentiu-se sozinho e com frequência se assustava ao confrontar-se com obstáculos que só eram percebidos ao se chegar bem próximo deles.  Mesmo um pouco inseguro, continuava convicto de que não dava para voltar atrás. Entregou-se à correnteza da vida sem, no entanto, render-se a ela.
O tempo passou como sempre e finalmente chegou o dia de novas e inesperadas mudanças. Repentinamente, começou a sentir um sabor estranho, diferente de todos já experimentados; não era amargo e não era doce, era salgado. Sem conseguir definir os limites de um ou de outro, foi lançado num mundo novo e cristalino onde parecia estar usando lentes azuis de aumento. Imerso numa imensidão azul, que lhe proporcionou uma sensação de leveza e relaxamento, foi possuído por um agradável e misterioso encantamento. Tudo era grande, até mesmo os obstáculos. Mas, as possibilidades eram enormes também. Montanhas e seres enormes habitavam aquele local. Sua morada ali poderia e deveria ser bem maior, pois já não era mais um peixinho pequeno e amargo. Transformou-se num ser abissal e confuso ficava a pensar consigo:
 — Será que não conseguia enxergar-me por ter vivido em ambientes turvos ou será que os grandes espaços é que são capazes de nos transformar em grandes seres?  
Sem obter respostas para as suas indagações continuava nadando. Tudo era novidade. Vendo diante de si inúmeras conchas, aproximou-se da maior delas perguntando:
— Quem são vocês?
— Somos ouvidos. Respondeu a concha com uma voz que parecia mais um eco.
— Para que servem os ouvidos?
— Para ouvir o canto dos golfinhos, das baleias e de todos os seres que sabem cantar e nos alegrar.
 Com um sorriso imenso nos lábios e certo de que a canção naquele mundo era bem vinda, o pequeno e grande peixinho pôs-se a cantar uma canção que expressava uma grande indagação:                                                                           

 SOU GRANDE
POR QUE?
ESPAÇO
PRA QUE?
DIGAM-ME POR QUE
ENSINEM-ME PRA QUE
E ASSIM...
SEREI

Quando terminou de cantar a grande concha lhe disse:
— Linda música! Acho que o mar adorou e acabou lhe dando rapidamente uma resposta.
— Qual? Perguntou o peixinho
— Você não ouviu? Perguntou a concha surpresa.
— Não, talvez ele tenha falado muito baixo.
— Ou talvez você não tenha ainda aprendido a escutar o mar. Continuou a concha.
— Pode ser, afinal sou muito novo por aqui. Tenho muito que aprender. Mas estou curioso, o que o mar respondeu?
— Ele disse que você é grande porque cresceu e cresceu porque foi corajoso o suficiente para abrigar a felicidade e a prosperidade que moram agora dentro do seu ser. Basta exerce-las, elas só habitam e são habitadas pelos grandes.
E assim termina a história de um peixinho que experimentou sabores bem diferentes de vida, todos eles importantes para apurar o seu paladar. Ao decidir correr o risco de ser ele mesmo, deixou de lado o rejeitado sabor amargo que passou a ser também um registro presente, porém apenas como lembrança de tudo que não se deveria ser. Hoje, quando olho para aquários, lagos, represas, rios e mares, fico a pensar onde mora o peixinho que habita o nosso ser.