domingo, 25 de novembro de 2012

DISCIPLINA


“PARA TORNAR-SE UM MESTRE, É NECESSÁRIO TORNAR-SE PRIMEIRO UM FIEL SEGUIDOR DE SI MESMO”



DISCIPLINA



É um mingau indispensável para quem deseja conquistar um objetivo. Contém ingredientes que organizam o seu mundo interno, requisito básico para a posterior organização do mundo que o rodeia. Com a vida organizada é muito mais fácil chegar onde se deseja.



CUSTO



         Você perde a posição de relaxado e pode até chegar a ser encarado como uma pessoa sistemática. Mas, na verdade, investir na disciplina não pressupõe impor-se nenhuma regra, mas oferecer-se instrumentos que possam torná-lo capaz de ser um sábio mestre e discípulo de si próprio. Sendo assim, você estará investindo seu tempo e energia numa ação relaxante, porém, comprometida com um ideal.


TIRA GOSTO



DISCÍPULO DE MIM


SOU DISCÍPULO
DO MESTRE QUE ME HABITA
ORIENTANDO-ME A FAZER POR MIM
O QUE A MIM FOI DESTINADO
OFERATAR AO DESTINO
A SABEDORIA DE CONSTRUÍ-LO
A MEU MODO


INGREDIENTES


 Pó de Discernimento
Leitoso Comprometimento


PREPARO



         Há de se tomar muito cuidado para não deixar o mingau da disciplina empelotar. Dissolva no leitoso comprometimento, o pó do discernimento daquilo que lhe é realmente importante e prioritário na vida. Jogue o conteúdo numa panela que seja do tamanho de suas metas e leve ao fogo da vida que tudo transforma. Vá mexendo continuamente e pacientemente sempre presente a cada transformação. Quando o mingau adquirir a consistência desejada e apreciada por você, sirva-se no profundo prato da realização e bom apetite.
Não abandone sua panela no fogo, dispersando-se ou dedicando-se a outra atividade que não seja a de preparar o seu mingau. Agindo assim, ele poderá empelotar ou queimar lhe trazendo o incômodo sabor da frustração.



SOBREMESA



HERANÇA


         Vivendo seus momentos finais, o mestre reuniu seus discípulos para pronunciar a maior herança que deixaria aos mesmos. Sem ter a mínima ideia do testamento do mestre e utilizando a sabedoria adquirida durante anos de convivência e doutrina, cada discípulo limitou-se a esperar pacientemente, sem ansiedade e sovinice, a herança que caberia a cada um deles:
— Deixo a todos vocês a posição de mestre. Sentenciou.
         Os discípulos se entreolharam surpresos. Estariam eles preparados para uma missão tão nobre? Na comunidade pequena onde viviam haveria espaços para tantos mestres? Quase todas as pessoas daquela comunidade eram fiéis seguidores daquele sábio homem que se despedia ali, naquele momento, deixando para todos, sem predileção e distinção a mesma posição. Como um número tão grande de pessoas poderia ocupar uma mesma posição?  Com tantos questionamentos, jamais conseguiriam adquirir a serenidade de um mestre. Preocupado, um deles perguntou confuso:
— Quem serão nossos discípulos?
— Seu discípulo será você mesmo. Respondeu o mestre.
— Como poderei ser discípulo da minha própria pessoa e como é possível ser discípulo e mestre ao mesmo tempo?
— Exercendo a disciplina. Afirmou o mestre com firmeza.
— Que disciplina devemos ter? Perguntou novamente o discípulo, repleto de dúvidas e desejando uma receita normativa.
— Ter disciplina não é simplesmente seguir uma norma, mas é, sobretudo, ser fiel seguidor de seus mais nobres objetivos. Seja um mestre ditando a si mesmo as metas que deverá seguir para realizar o seu sonho e seja seu discípulo sendo leal ao verdadeiro caminho que o levará ao encontro deste sonho. Lembre-se sempre que ser disciplinado não pressupõe estar preso a uma norma, mas sim, comprometido com seus objetivos e com seus sonhos. Nosso maior tesouro está adormecido em nossos sonhos. Ele precisa ser despertado para ser vivido.
         Os discípulos ouviram atentamente cada palavra pronunciada pelo mestre. Agradeceram-lhe pela transmissão de tamanha sabedoria. Cientes de que precisavam aprender a serem mestres consigo próprio para, depois, serem para com o outro, trataram de usar toda a disciplina necessária para assimilar e conquistar mais este importante saber. O mestre partiu, mas a sua sabedoria foi herdada por todos aqueles que se permitiram, antes de qualquer coisa, tornarem fiéis seguidores de si mesmo.














quarta-feira, 7 de novembro de 2012

GRATIDÃO


DEUS NÃO POSSUI DÍVIDAS E NEM CRÉDITOS.

AGRADEÇA AO INVÉS DE DIZER: — DEUS LHE PAGUE!”

GRATIDÃO


         Quem consegue ter à mesa este alimento, consegue diante da fartura ou mesmo da falta, sentir que a vida é bela e nutritiva.


CUSTO


         Você só tem a ganhar investindo na gratidão, pois mesmo diante dos maus investimentos você estará propenso a procurar a lucratividade em algum ponto do mesmo. Agindo assim, nunca se sentirá subtraído.


TIRA GOSTO


OBRIGADA


OBRIGADA

POR TER SIDO

GRATUITO

E NÃO SENDO OBRIGADO A NADA

REALIZOU A MAIOR OBRIGAÇÃO

NÃO OBRIGAR

ABRIGANDO

POR NADA


INGREDIENTES


Amanteigada aceitação

Mel da valorização

Pó da resignação


PREPARO


         Vocês já comeram a deliciosa banana caramelada? O preparo da gratidão é parecido. Agradecer o que a gente sempre desejou é fácil, o difícil é adquirir a capacidade de agradecer aquela experiência não requisitada pelo nosso ego, mas sem que a gente saiba, nutritiva para a nossa alma.

         Nesta vida há muitas experiências que precisam ser “descascadas” para melhor serem compreendidas. Comer banana com casca e tudo pode ser bem indigesto para quem possui uma digestão difícil. Sendo assim, descasque aquela experiência que você precisa digerir. Descubra que o interior de uma casca aparentemente dura pode conter um fruto extremamente nutritivo. Para que este fruto fique bem saboroso, passe sobre o mesmo a amanteigada aceitação, o mel da valorização, polvilhando ao final com o pó da resignação.

Leve ao forno quente de seu coração e bom apetite.


SOBREMESA


HONRANDO A VIDA


         Doído, porém sereno, diante da maior tragédia que um ser humano é algumas vezes obrigado a suportar, estava um iluminado pai perante a perda de seu único filho. Os amigos chegavam a todo o momento com a intenção de consola-lo. Nenhum deles conseguia colher palavras que pudessem justificar ou preencher o vazio que aquela perda tão significativa impunha àquele pai. No entanto, palavras faltavam apenas aos amigos. Dentro de seu peito doído saíram sábias citações que surpreenderam a todos.

— Tenho tanto a agradecer! Entoou o pai diante daquela perda.

         Ninguém entendeu como um homem pudesse ter naquele momento de tamanha lesão agradecimentos a fazer. O mais inconsolável dos amigos, revivendo projetivamente aquele momento doloroso, iniciou uma lamentação que denotava claramente a projeção da morte de sua querida esposa:

— Eu não posso aceitar isso! É horrível e inaceitável ele ter morrido!

         Inundado por lágrimas que faziam escorrer pelos seus olhos um sofrimento fácil de compreender, o enlutado pegou a mão fria do amigo, olhando-o no fundo de seus olhos  pronunciou a mais sabia experiência de vida que um ser humano é capaz de adquirir:

— Foi simplesmente maravilhoso ele ter vivido. Sinto agora mais do que nunca que o maior presente que ganhei nesta vida foi este meu único e querido filho.

— De que adianta este presente se ele lhe foi roubado? Deus não foi justo com você. Como pode ter tirado de um homem tão bondoso a sua única joia preciosa? Questionou o amigo roendo antigas revoltas e insatisfações dentro de seu ser.

— Deus não roubou o meu filho. Pelo contrário, ele me presenteou durante anos com sua magnífica presença. Eu não tenho como lamentar a dádiva e alegria de tê-lo vivido. Pior seria não ter tido a benção de tê-lo merecido.

— De que adianta esta gratidão se não pode vive-lo mais agora? Interrogou-lhe o amigo — A garantia de tê-lo para sempre é que mereceria gratidão.

— Aquele que expressa reconhecimento apenas fazendo barganhas é, na verdade,  um grande ingrato que só consegue regozijar-se se tiver a eterna garantia de que só irá receber e nada mais. A gratidão não pressupõe retribuição de cortesias. Este tipo de comportamento é típico de seres egoístas que jamais conseguem retribuir a alegria recebida e vivida. Assegurou-lhe aquele pai diante da revolta do amigo.

         Não havia palavras que pudessem rebater a revolta e inconformismo do amigo que sem delicadeza alguma ironizou com aspereza:

— E por acaso, você está alegre de ter perdido seu filho?

— Estou muito triste. É como se eu tivesse perdido uma parte do meu ser. É como se tivessem amputado um pedaço da minha vida. A angústia queima dilacerando o meu peito, mas tenho consciência de que preciso curar esta dor. Eu não posso deixar que ela aniquile este pleno ser que me habita. Eu não posso deixar que a dor faça comigo o que fez com você. Advertiu, pacientemente, o pai em confronto com a revolta do amigo.

— E o que você acha que a dor fez comigo? Perguntou o amigo querendo checar a imagem que estava passando para as pessoas.

— A sua dor deixou que a revolta, o rancor e o ódio tomassem mais força que o amor, a alegria e a gratidão que lhe habitava. Hoje você se transformou numa pessoa fraca, pois tem se deixado ser dominado por sentimentos pequenos que roubaram o encanto de seu passado, de seu presente e de toda a beleza que lhe aguarda no futuro.

         Em prantos o amigo começou a chorar a morte da mulher. Aquela visita era muito mais uma visita à sua dor do que à dor do amigo que acabara de perder o filho.

— Desculpe-me! Eu precisava estar aqui para ajuda-lo e não para falar de minha dor. Mas a minha dor é tanta que não consigo ser solidário com você neste momento tão difícil. Eu não posso aceitar não vive-la. Jamais irei me conformar com a perda de minha esposa.

— A sua dor não trará a sua querida esposa de volta e nem fará com que ela perceba o amor que nutre por ela. Pelo contrário, a energia negativa desta dor só a manterá cada vez mais distante de você. O negativo repele tudo aquilo que é saudável. Se continuar assim, daqui um tempo perderá todas as boas lembranças que possui dela por estar se nutrindo apenas de sentimentos venenosos que roubarão toda a sua vitalidade. Restarão para você apenas lembranças de infortúnios e com a mente limitada só será capaz de enxergar o mal.

— Me diga então o que você fez para se conformar. Suplicou-lhe o amigo inconformado.

— Aprendi a aceitar a vida tal qual ela é e não como a minha imaginação gostaria que ela fosse. Tente prestar atenção na palavra com – formar. Conformar é dar à vida a forma que lhe pertence. É como se ela fosse um quebra-cabeça onde as peças possuem formas especiais que se encaixam cada qual no seu espaço e não no espaço que gostaríamos que elas se encaixassem. Sua mulher é uma peça que pertence a uma parte de seu quebra-cabeça que já foi montada. Não adianta você querer monta-la novamente, pois este pedaço já está terminado. O quebra-cabeça da vida é um pouco diferente de nossos brinquedos. Depois que você consegue encaixar uma peça no seu lugar, ela jamais é descolada dali. Ela vira uma coisa chamada passado que ninguém consegue mudar. Aprenda a admirar a parte de seu quebra-cabeça que já foi montada e se comprometa a encaixar as peças que ainda estão soltas esperando você se prontificar a encaixa-las no lugar certo. Tentar encaixar uma peça num local errado só atrasa nosso processo de construção. Precisamos armar nosso quebra-cabeça e agradecer cada parte que foi montada. Não seria nada agradável partir desta vida com ele todo desajustado. Este quebra-cabeça é grande demais para alguns e menores para outros. Cada experiência, cada pessoa que cruza o nosso caminho é uma peça. Alguns precisam de muito tempo para ajustar no lugar certo tantas experiências e pessoas que lhe cabem. Outras precisam de um tempo menor. Espero que você saiba aproveitar bem o seu tempo. Aconselhou o pai enlutado.

— Pois saiba que a morte bagunçou o meu quebra-cabeça.

— Engano seu. A morte não destrói e nem anula aquilo que foi vivido. Tudo que você construiu continua intacto em suas lembranças. Você pode viver estas lembranças com saudade ou com revolta. A escolha é sua. A sabedoria reside na capacidade de agradecermos a alegria daquilo que foi. Pare de alimentar o pesar daquilo que não pôde ser. Solicitou com firmeza o amigo pai.

— A morte pode não ter me roubado o passado, mas me privou de meu presente e de meu futuro. Lamentou o amigo.

— A morte pode ter lhe privado do presente e do futuro que sua limitada imaginação impôs a você. Quanto a isto eu só tenho dois conselhos a lhe dar. O primeiro é que o futuro não existe e nem mesmo nos pertence. Daí, não tente viver algo que não é seu. O segundo conselho é tornar-se capaz de presentear-se com o presente. O passado é o quebra-cabeça formado e o presente é a peça que você se dispõe a encaixar agora. Que seja a peça da gratidão de estar VIVO e de ter a graça de ser VIVO.

         Naquele momento os dois se entreolharam e lá no fundo de seus olhos apareceu uma peça do quebra-cabeça que finalmente se encaixou no lugar certo. Surgiu dali um grande abraço que encaixou um corpo no outro externando uma empatia e afinidade muito especial que aquele momento de tanta dor presenteou aos dois.