domingo, 30 de dezembro de 2012

FELICIDADE



“FELIZ AQUELE QUE MESMO TRANSITANDO EM SUAS TRISTEZAS, CONSEGUE EQUILIBRAR-SE, NEGANDO-SE CARREGAR UM PESO CAPAZ DE ABALAR OU DESTRUIR O ALICERCE DE SUA FELICIDADE”


FELICIDADE


Felicidade é um prato constituído por uma multivariedade de ingredientes saudáveis. Algumas pessoas demonstram grande dificuldade para prepará-lo, pois exigem ter em suas prateleiras todos os ingredientes que o hipermercado da vida tem para oferecer. No entanto, o grande segredo para uma boa nutrição não repousa na quantidade de elementos a serem utilizados, mas na sabedoria de aproveitar ao máximo as propriedades nutritivas de cada alimento que o indivíduo tiver acesso.



CUSTO



Felicidade tem um alto custo para os exigentes que acabam pagando o preço da indigesta frustração e desenvolvendo a falsa crença de que este prato é uma ilusão. E nada custa para quem sabe humildemente fazer combinações saudáveis.



TIRA GOSTO


REMEXENDO A FELICIDADE


REMEXI A FELICIDADE
ENCONTREI O AMOR ACARICIANDO
A ALEGRIA GARGALHANDO
A SAÚDE TONIFICANDO
A CRIATIVIDADE IDEALIZANDO
A VERDADE REVELANDO
A SOLIDARIEDADE DOANDO
O DINHEIRO FACILITANDO
O TRABALHO EXECUTANDO
A FÉ ILUMINAMDO
A CORAGEM ENFRENTANDO
A LIBERDADE DESAMARRANDO
O PRAZER GOZANDO
O TESÃO DESEJANDO
O MISTÉRIO DESAFIANDO
O RESPEITO REVERENCIANDO
O PERDÃO ACEITANDO
A HUMILDADE VALORIZANDO
A SIMPLICIDADE DESCOMPLICANDO
A TOLERÂNCIA SUPORTANDO
A CONFIANÇA DESARMANDO
O HUMOR BRINCANDO
A PACIÊNCIA ESPERANDO
O DIVINO ME ORIENTANDO
MEXA UM POUCO MAIS
E, NESTE REMELEXO
ENCONTREI VOCÊ
REPLETO DISTO TUDO
FINALMENTE EXCLAMANDO
MAIS PARA DENTRO DO QUE PARA FORA,
MEIO SEM JEITO
COM RECEIO NÃO SEI DE QUE,
COMO SE QUISESSE GUARDAR
OU MANTER ESCONDIDO
DUAS PALAVRAS MÁGICAS:
“TE AMO”!
ESTA MÁGICA
QUE ME TOCA
SEM TRUQUES,
FAZ MEU CORAÇÃO GRITAR
SEM QUERER GUARDAR
O QUE PRECISA COMPARTILHAR:
“QUE FELICIDADE!”


INGREDIENTES



Todos que você tiver acessível nas prateleiras de sua vida e que mais combinarem com o seu desejo e paladar no momento. Não tente e nem deseje preparar este prato com ingredientes acessíveis nas prateleiras de uma vida que não seja a sua. Aquilo que ainda não lhe foi dado pela vida poderá lhe causar intoxicação. Assim como nosso corpo, nem tudo nossa alma está preparada para digerir.


PREPARO



Acho que não existe alguém neste mundo que nunca tenha provado um mexido, um mexidinho ou um mexidão. Mexido pode ser uma mistura pequena, média ou grande. O sabor deste prato dependerá muito mais da forma como você irá prepará-lo e saboreá-lo do que dos ingredientes a serem utilizados. Se você possui a consciência de que poderia utilizar dez ingredientes, mas só possui cinco, não desista de preparar o mexido da felicidade em função desta limitação. Preparando-o com amor e estando atento a degustar com prazer o sabor de cada ingrediente utilizado, o seu mexido ficará, sem dúvida, uma delícia!
Satisfaça com aquilo que possui e lembre-se que, em cada momento de sua vida, os ingredientes acessíveis serão certamente diferentes. Daí, ao longo de sua jornada por este mundo, você terá oportunidade de preparar vários mexidos diferenciados. No final das contas, nunca saberá ao certo qual deles ficou mais gostoso, no entanto, jamais esquecerá que, além de deliciosos, mataram a sua fome.
Um alerta! Se não der para preparar um mexidão, contente-se com um mexidinho e bom apetite!


SOBREMESA


MEXIDO DE FELICIDADE


Em algum lugar que não sei bem onde, morava uma bruxa misteriosa e bondosa que trazia consigo a receita da felicidade. No nosso mundo, sempre ouvi muitas pessoas dizerem que a felicidade não existe, que o que existe são apenas momentos felizes. Esta maneira de pensar sempre me deixou confusa pois, na verdade, nunca consegui sentir a felicidade como um momento, sempre a senti muito forte vibrando dentro de mim. Foi assim que resolvi consultar a minha intuição para que ela pudesse me levar até a tão famosa bruxa que, com certeza, me ofertaria a tão desejada receita da felicidade. De posse dela, eu a eternizaria dentro de mim, sem deixá-la jamais correr o risco de se tornar um momento fugaz.
Fui atrás da tal bruxa. Para encontrá-la tive que escalar a dura realidade e adentrar em meus sonhos e fantasias. Sem saber como, me vi repentinamente defronte de uma mulher que não tinha cara de bruxa; tinha cara de criança, corpo de adolescente, jeito de adulto e sabedoria de quem já viveu muito. Com uma colher minúscula, ela mexia uma porção invisível dentro de um minúsculo tacho de cobre. Inspirava com prazer o aroma de seu preparado e experimentando-o, deleitava-se dizendo:
— Que delícia!
A expressão de felicidade que aparecia em seu rosto desencadeou em mim um enorme desejo de provar também a sua porção mágica, apesar de não conseguir enxergar nada dentro daquele tacho. Antes que eu lhe pedisse um pouquinho de seu preparado ou fizesse qualquer pergunta ou apresentação referente à minha pessoa, ela procurou certificar-se da minha presença afirmando com toda certeza:
— Aposto que veio à procura da receita da felicidade.
— Como sabes que vim aqui para isto? - perguntei.
— A sua expressão revela busca e revela dúvida também. Está confusa com alguma coisa?
— Achei o seu tacho pequeno demais para caber um sentimento tão grandioso quanto a felicidade. O mais intrigante é que não consigo ver nada dentro dele e você se delicia com algo que não consigo ver e sentir.
— A felicidade cabe em qualquer lugar, ela não tem tamanho. O seu cheiro e sabor escapa aos sentidos daqueles que não a prepararam. Sendo assim, a minha poção da felicidade só pode ser sentida por mim - afirmou convicta.
— Interessante! Como posso preparar a minha poção? - perguntei exalando curiosidade.
— Tem certeza que deseja ser feliz? – perguntou-me.
— É claro!  - respondi — Há alguém neste mundo que não deseja?
— Há pessoas que desejam apenas a alegria.
— Alegria e felicidade não seriam a mesma coisa?
— Alegria é só um ingrediente da felicidade. Felicidade é um preparado muito simples, porém complexo. Nem todo mundo está disposto a prepará-la. Muitos acham mais fácil comprar nos hipermercados da vida uma substância apetitosa já pronta, ao invés de se dar ao trabalho de preparar algo que leva vários ingredientes.
— Quais os ingredientes necessários para preparar a poção da felicidade?
— Adivinhe! – exclamou a bruxa.
— A única certeza que tenho é que não há espaço para a tristeza neste preparado. – falei convicta.
— Engano seu. Até mesmo da tristeza é possível se retirar um extrato para a felicidade.
Fiquei ainda mais confusa. Tristeza nunca combinou com felicidade em minha filosofia de vida e, naquele momento, aquele ser misterioso  afirmava que ela também poderia contribuir para com a poção do sentimento mais requisitado pelos homens. Vendo a minha expressão de perplexidade, a bruxa continuou:
— Nesta busca por um sentimento tão nobre quanto a felicidade, talvez fosse mais sensato deparar-se com uma fada e, no entanto, você deparou com uma bruxa. Às vezes, achamos que a tristeza nos apresentará a infelicidade e ela muitas vezes vem nos preparar para saborear a felicidade que nos aguarda. Outras vezes, achamos que a alegria é a base da felicidade e ela acaba nos jogando no terreno da infelicidade. Parece um paradoxo viver, mas na verdade o que realmente acontece é que não conhecemos bem a essência dos sentimentos. Todo sentimento tem um tempero. É necessário sabermos usar a dose certa que agrade o paladar ou tirar dele a essência capaz de dar sabor agradável à vida.
— Quer dizer que posso estar triste e estar feliz ao mesmo tempo? Perguntei.
— Não. Você pode estar triste e SER feliz. Estar é diferente de ser. A felicidade não é um estado, mas sim, uma estrutura, ou melhor dizendo, uma construção. Eu diria que ninguém está feliz, uma pessoa é feliz ou não dependendo da obra que realizou em sua própria vida.
— Então, não sou alegre. Eu estou alegre. Nossa, como é difícil diferenciar a alegria da felicidade.
— Sabe por que? – perguntou-me a bruxa rindo.
— Por que?
— Se eu lhe contar uma lenda sobre as travessuras de alguns sentimentos arteiros, você vai entender.
— Conte-me que já estou ficando curiosa.  – solicitei.
— Dizem que o criador realizou uma festa de fantasia onde todos os sentimentos foram convidados. Ninguém soube explicar o por que desta festa, soube-se apenas do resultado dela. Relatam que a alegria foi fantasiada de felicidade, a paixão de amor, a preocupação de interesse, a rebeldia de liberdade, a indiferença de paz e por aí vai. Eles ficaram tão parecidos com estes sentimentos que ficava difícil identificar quem era um e outro. O pior é que eles gostaram tanto de viver a fantasia de ser um sentimento mais nobre que até hoje vivem pregando peças nos mais desavisados.
— Acho que estes sentimentos já me pregaram muitas peças. Daqui para frente tenho que ficar mais vigilante. Mas quero ficar mais atenta à receita da felicidade. É possível você me ensina-la agora?  - perguntei.
— Você veio atrás de uma receita como todos que conseguiram chegar até aqui. Só que daqui você não sairá com receita alguma, mas lhe darei algo mais precioso do que esta receita que você julga existir.
— O que? – perguntei curiosa.
— Lhe darei o tacho para que você prepare a sua própria poção de felicidade.
A bruxa foi até a despensa e saiu de lá com um lindo tacho de cobre na mão. Entregou-o a mim, ordenando-me:
— Não me pergunte mais nada. Vá embora e prepare a sua poção com os ingredientes que desejar. Nunca se importe se alguém lhe disser que algum tempero é picante, azedo, amargo, doce ou salgado. O que importa é a combinação e o sabor final que ele dará ao seu paladar.
Não pude perguntar mais nada, pois sem que eu percebesse já estava de volta. Talvez você esteja se perguntando: De volta para onde? Voltei para este mundo onde as pessoas julgam a felicidade apenas como um momento fugaz. Assim que cheguei, parei para pensar como prepararia este alimento tão importante e cheguei a conclusão que já o ando preparando desde criança, pois olhei para o meu tacho e vi dentro dele um delicioso mexidão. Não sei se você o enxergaria ou sentiria o delicioso sabor dele. Só sei que meu mexido além de simples me alimenta e sempre me dá água na boca.
— Que delícia!

domingo, 25 de novembro de 2012

DISCIPLINA


“PARA TORNAR-SE UM MESTRE, É NECESSÁRIO TORNAR-SE PRIMEIRO UM FIEL SEGUIDOR DE SI MESMO”



DISCIPLINA



É um mingau indispensável para quem deseja conquistar um objetivo. Contém ingredientes que organizam o seu mundo interno, requisito básico para a posterior organização do mundo que o rodeia. Com a vida organizada é muito mais fácil chegar onde se deseja.



CUSTO



         Você perde a posição de relaxado e pode até chegar a ser encarado como uma pessoa sistemática. Mas, na verdade, investir na disciplina não pressupõe impor-se nenhuma regra, mas oferecer-se instrumentos que possam torná-lo capaz de ser um sábio mestre e discípulo de si próprio. Sendo assim, você estará investindo seu tempo e energia numa ação relaxante, porém, comprometida com um ideal.


TIRA GOSTO



DISCÍPULO DE MIM


SOU DISCÍPULO
DO MESTRE QUE ME HABITA
ORIENTANDO-ME A FAZER POR MIM
O QUE A MIM FOI DESTINADO
OFERATAR AO DESTINO
A SABEDORIA DE CONSTRUÍ-LO
A MEU MODO


INGREDIENTES


 Pó de Discernimento
Leitoso Comprometimento


PREPARO



         Há de se tomar muito cuidado para não deixar o mingau da disciplina empelotar. Dissolva no leitoso comprometimento, o pó do discernimento daquilo que lhe é realmente importante e prioritário na vida. Jogue o conteúdo numa panela que seja do tamanho de suas metas e leve ao fogo da vida que tudo transforma. Vá mexendo continuamente e pacientemente sempre presente a cada transformação. Quando o mingau adquirir a consistência desejada e apreciada por você, sirva-se no profundo prato da realização e bom apetite.
Não abandone sua panela no fogo, dispersando-se ou dedicando-se a outra atividade que não seja a de preparar o seu mingau. Agindo assim, ele poderá empelotar ou queimar lhe trazendo o incômodo sabor da frustração.



SOBREMESA



HERANÇA


         Vivendo seus momentos finais, o mestre reuniu seus discípulos para pronunciar a maior herança que deixaria aos mesmos. Sem ter a mínima ideia do testamento do mestre e utilizando a sabedoria adquirida durante anos de convivência e doutrina, cada discípulo limitou-se a esperar pacientemente, sem ansiedade e sovinice, a herança que caberia a cada um deles:
— Deixo a todos vocês a posição de mestre. Sentenciou.
         Os discípulos se entreolharam surpresos. Estariam eles preparados para uma missão tão nobre? Na comunidade pequena onde viviam haveria espaços para tantos mestres? Quase todas as pessoas daquela comunidade eram fiéis seguidores daquele sábio homem que se despedia ali, naquele momento, deixando para todos, sem predileção e distinção a mesma posição. Como um número tão grande de pessoas poderia ocupar uma mesma posição?  Com tantos questionamentos, jamais conseguiriam adquirir a serenidade de um mestre. Preocupado, um deles perguntou confuso:
— Quem serão nossos discípulos?
— Seu discípulo será você mesmo. Respondeu o mestre.
— Como poderei ser discípulo da minha própria pessoa e como é possível ser discípulo e mestre ao mesmo tempo?
— Exercendo a disciplina. Afirmou o mestre com firmeza.
— Que disciplina devemos ter? Perguntou novamente o discípulo, repleto de dúvidas e desejando uma receita normativa.
— Ter disciplina não é simplesmente seguir uma norma, mas é, sobretudo, ser fiel seguidor de seus mais nobres objetivos. Seja um mestre ditando a si mesmo as metas que deverá seguir para realizar o seu sonho e seja seu discípulo sendo leal ao verdadeiro caminho que o levará ao encontro deste sonho. Lembre-se sempre que ser disciplinado não pressupõe estar preso a uma norma, mas sim, comprometido com seus objetivos e com seus sonhos. Nosso maior tesouro está adormecido em nossos sonhos. Ele precisa ser despertado para ser vivido.
         Os discípulos ouviram atentamente cada palavra pronunciada pelo mestre. Agradeceram-lhe pela transmissão de tamanha sabedoria. Cientes de que precisavam aprender a serem mestres consigo próprio para, depois, serem para com o outro, trataram de usar toda a disciplina necessária para assimilar e conquistar mais este importante saber. O mestre partiu, mas a sua sabedoria foi herdada por todos aqueles que se permitiram, antes de qualquer coisa, tornarem fiéis seguidores de si mesmo.














quarta-feira, 7 de novembro de 2012

GRATIDÃO


DEUS NÃO POSSUI DÍVIDAS E NEM CRÉDITOS.

AGRADEÇA AO INVÉS DE DIZER: — DEUS LHE PAGUE!”

GRATIDÃO


         Quem consegue ter à mesa este alimento, consegue diante da fartura ou mesmo da falta, sentir que a vida é bela e nutritiva.


CUSTO


         Você só tem a ganhar investindo na gratidão, pois mesmo diante dos maus investimentos você estará propenso a procurar a lucratividade em algum ponto do mesmo. Agindo assim, nunca se sentirá subtraído.


TIRA GOSTO


OBRIGADA


OBRIGADA

POR TER SIDO

GRATUITO

E NÃO SENDO OBRIGADO A NADA

REALIZOU A MAIOR OBRIGAÇÃO

NÃO OBRIGAR

ABRIGANDO

POR NADA


INGREDIENTES


Amanteigada aceitação

Mel da valorização

Pó da resignação


PREPARO


         Vocês já comeram a deliciosa banana caramelada? O preparo da gratidão é parecido. Agradecer o que a gente sempre desejou é fácil, o difícil é adquirir a capacidade de agradecer aquela experiência não requisitada pelo nosso ego, mas sem que a gente saiba, nutritiva para a nossa alma.

         Nesta vida há muitas experiências que precisam ser “descascadas” para melhor serem compreendidas. Comer banana com casca e tudo pode ser bem indigesto para quem possui uma digestão difícil. Sendo assim, descasque aquela experiência que você precisa digerir. Descubra que o interior de uma casca aparentemente dura pode conter um fruto extremamente nutritivo. Para que este fruto fique bem saboroso, passe sobre o mesmo a amanteigada aceitação, o mel da valorização, polvilhando ao final com o pó da resignação.

Leve ao forno quente de seu coração e bom apetite.


SOBREMESA


HONRANDO A VIDA


         Doído, porém sereno, diante da maior tragédia que um ser humano é algumas vezes obrigado a suportar, estava um iluminado pai perante a perda de seu único filho. Os amigos chegavam a todo o momento com a intenção de consola-lo. Nenhum deles conseguia colher palavras que pudessem justificar ou preencher o vazio que aquela perda tão significativa impunha àquele pai. No entanto, palavras faltavam apenas aos amigos. Dentro de seu peito doído saíram sábias citações que surpreenderam a todos.

— Tenho tanto a agradecer! Entoou o pai diante daquela perda.

         Ninguém entendeu como um homem pudesse ter naquele momento de tamanha lesão agradecimentos a fazer. O mais inconsolável dos amigos, revivendo projetivamente aquele momento doloroso, iniciou uma lamentação que denotava claramente a projeção da morte de sua querida esposa:

— Eu não posso aceitar isso! É horrível e inaceitável ele ter morrido!

         Inundado por lágrimas que faziam escorrer pelos seus olhos um sofrimento fácil de compreender, o enlutado pegou a mão fria do amigo, olhando-o no fundo de seus olhos  pronunciou a mais sabia experiência de vida que um ser humano é capaz de adquirir:

— Foi simplesmente maravilhoso ele ter vivido. Sinto agora mais do que nunca que o maior presente que ganhei nesta vida foi este meu único e querido filho.

— De que adianta este presente se ele lhe foi roubado? Deus não foi justo com você. Como pode ter tirado de um homem tão bondoso a sua única joia preciosa? Questionou o amigo roendo antigas revoltas e insatisfações dentro de seu ser.

— Deus não roubou o meu filho. Pelo contrário, ele me presenteou durante anos com sua magnífica presença. Eu não tenho como lamentar a dádiva e alegria de tê-lo vivido. Pior seria não ter tido a benção de tê-lo merecido.

— De que adianta esta gratidão se não pode vive-lo mais agora? Interrogou-lhe o amigo — A garantia de tê-lo para sempre é que mereceria gratidão.

— Aquele que expressa reconhecimento apenas fazendo barganhas é, na verdade,  um grande ingrato que só consegue regozijar-se se tiver a eterna garantia de que só irá receber e nada mais. A gratidão não pressupõe retribuição de cortesias. Este tipo de comportamento é típico de seres egoístas que jamais conseguem retribuir a alegria recebida e vivida. Assegurou-lhe aquele pai diante da revolta do amigo.

         Não havia palavras que pudessem rebater a revolta e inconformismo do amigo que sem delicadeza alguma ironizou com aspereza:

— E por acaso, você está alegre de ter perdido seu filho?

— Estou muito triste. É como se eu tivesse perdido uma parte do meu ser. É como se tivessem amputado um pedaço da minha vida. A angústia queima dilacerando o meu peito, mas tenho consciência de que preciso curar esta dor. Eu não posso deixar que ela aniquile este pleno ser que me habita. Eu não posso deixar que a dor faça comigo o que fez com você. Advertiu, pacientemente, o pai em confronto com a revolta do amigo.

— E o que você acha que a dor fez comigo? Perguntou o amigo querendo checar a imagem que estava passando para as pessoas.

— A sua dor deixou que a revolta, o rancor e o ódio tomassem mais força que o amor, a alegria e a gratidão que lhe habitava. Hoje você se transformou numa pessoa fraca, pois tem se deixado ser dominado por sentimentos pequenos que roubaram o encanto de seu passado, de seu presente e de toda a beleza que lhe aguarda no futuro.

         Em prantos o amigo começou a chorar a morte da mulher. Aquela visita era muito mais uma visita à sua dor do que à dor do amigo que acabara de perder o filho.

— Desculpe-me! Eu precisava estar aqui para ajuda-lo e não para falar de minha dor. Mas a minha dor é tanta que não consigo ser solidário com você neste momento tão difícil. Eu não posso aceitar não vive-la. Jamais irei me conformar com a perda de minha esposa.

— A sua dor não trará a sua querida esposa de volta e nem fará com que ela perceba o amor que nutre por ela. Pelo contrário, a energia negativa desta dor só a manterá cada vez mais distante de você. O negativo repele tudo aquilo que é saudável. Se continuar assim, daqui um tempo perderá todas as boas lembranças que possui dela por estar se nutrindo apenas de sentimentos venenosos que roubarão toda a sua vitalidade. Restarão para você apenas lembranças de infortúnios e com a mente limitada só será capaz de enxergar o mal.

— Me diga então o que você fez para se conformar. Suplicou-lhe o amigo inconformado.

— Aprendi a aceitar a vida tal qual ela é e não como a minha imaginação gostaria que ela fosse. Tente prestar atenção na palavra com – formar. Conformar é dar à vida a forma que lhe pertence. É como se ela fosse um quebra-cabeça onde as peças possuem formas especiais que se encaixam cada qual no seu espaço e não no espaço que gostaríamos que elas se encaixassem. Sua mulher é uma peça que pertence a uma parte de seu quebra-cabeça que já foi montada. Não adianta você querer monta-la novamente, pois este pedaço já está terminado. O quebra-cabeça da vida é um pouco diferente de nossos brinquedos. Depois que você consegue encaixar uma peça no seu lugar, ela jamais é descolada dali. Ela vira uma coisa chamada passado que ninguém consegue mudar. Aprenda a admirar a parte de seu quebra-cabeça que já foi montada e se comprometa a encaixar as peças que ainda estão soltas esperando você se prontificar a encaixa-las no lugar certo. Tentar encaixar uma peça num local errado só atrasa nosso processo de construção. Precisamos armar nosso quebra-cabeça e agradecer cada parte que foi montada. Não seria nada agradável partir desta vida com ele todo desajustado. Este quebra-cabeça é grande demais para alguns e menores para outros. Cada experiência, cada pessoa que cruza o nosso caminho é uma peça. Alguns precisam de muito tempo para ajustar no lugar certo tantas experiências e pessoas que lhe cabem. Outras precisam de um tempo menor. Espero que você saiba aproveitar bem o seu tempo. Aconselhou o pai enlutado.

— Pois saiba que a morte bagunçou o meu quebra-cabeça.

— Engano seu. A morte não destrói e nem anula aquilo que foi vivido. Tudo que você construiu continua intacto em suas lembranças. Você pode viver estas lembranças com saudade ou com revolta. A escolha é sua. A sabedoria reside na capacidade de agradecermos a alegria daquilo que foi. Pare de alimentar o pesar daquilo que não pôde ser. Solicitou com firmeza o amigo pai.

— A morte pode não ter me roubado o passado, mas me privou de meu presente e de meu futuro. Lamentou o amigo.

— A morte pode ter lhe privado do presente e do futuro que sua limitada imaginação impôs a você. Quanto a isto eu só tenho dois conselhos a lhe dar. O primeiro é que o futuro não existe e nem mesmo nos pertence. Daí, não tente viver algo que não é seu. O segundo conselho é tornar-se capaz de presentear-se com o presente. O passado é o quebra-cabeça formado e o presente é a peça que você se dispõe a encaixar agora. Que seja a peça da gratidão de estar VIVO e de ter a graça de ser VIVO.

         Naquele momento os dois se entreolharam e lá no fundo de seus olhos apareceu uma peça do quebra-cabeça que finalmente se encaixou no lugar certo. Surgiu dali um grande abraço que encaixou um corpo no outro externando uma empatia e afinidade muito especial que aquele momento de tanta dor presenteou aos dois.















































quarta-feira, 19 de setembro de 2012

ENERGIA DIVINA


 

SE EXISTE UMA PERGUNTA SEM RESPOSTA, ESTA PERGUNTA É CERTAMENTE:

— QUEM É DEUS?

QUEM EXIGE UMA RESPOSTA TORNAR-SE-A UM CÉTICO OU UM FANÁTICO

 

 
ENERGIA DIVINA


Trata-se de uma bebida de imenso valor energético. Ela é suave, não causa embriaguez e nem ressacas morais. Quem dela saborear encontrará forças para superar todos os obstáculos que a vida nos impõe. É importante tomar cuidado, pois existem várias falsificações no mercado cujo agente tóxico denominado fanatismo é capaz de deixar não só um indivíduo, mas também grandes massas de pessoas totalmente embriagadas, dopadas e com ressaca.

 

CUSTO



         Por se tratar de uma bebida que deverá ser preparada e enriquecida naturalmente pelo próprio indivíduo e por, concomitantemente, haver poderosos interesses de mercado no sentido de se apoderar da fórmula da mesma e de traficar falsificações, o preço que se paga ao preparar a própria bebida é o de competir com um comércio sujo que fará de tudo para destruir a sua imagem. Por ser mais fraco em termos de valor de mercado, você corre o risco de ser rotulado de herege. No entanto, por ser mais forte em termos de dignidade, você com certeza descobrirá que vale à pena pagar o preço.

 

TIRA GOSTO

 


DIVINA LUZ

 


ÉS A MINHA FONTE INSPIRADORA

ÉS A MINHA VERDADE MUTÁVEL

MUTÁVEL COMO A VIDA

MUTÁVEL COMO O UNIVERSO

MUTÁVEL COMO SI MESMO

 

ÉS A FORÇA QUE ME DETERMINA

ÉS A ENERGIA QUE ME IMPULSIONA

IMPULSIONA A REFLETIR

IMPULSIONA A QUESTIONAR

IMPULSIONA A AGIR

 


ÉS

SEM PRECISAR SER

SER SOBRENATURAL

SER SOBERANO

SER DIVINO

 

ÉS POR TODOS

ÉS POR TUDO

TUDO QUE EXISTIU

TUDO QUE EXISTE

TUDO QUE EXISTIRÁ

 

ÉS PRESENÇA

PASSADA

PRESENTE

FUTURA

ONIPRESENÇA

 

ÉS REPLETO

ÉS VAGO DEMAIS

DEMASIADAMENTE COMPLETO

ININTELIGÍVEL

À NOSSA VAGA INTELIGÊNCIA

 

ÉS PALAVRA

ÉS A FALTA DELA

SEM SIGNIFICADO

PORÉM SIGNIFICATIVO

EXPRESSIVAMENTE ACEPTIVO

 

ÉS SIMPLESMENTE

ÉS DEFINITIVAMENTE

DEFINITIVAMENTE SEM CONCEITO

DEFINITIVAMENTE SEM EXPLICAÇÃO

DEFINITIVAMENTE SEM SENTIDO

 

SEM SENTIDO

ÉS APENAS SENTIDO

O QUE FAZ SENTIDO

MUITO SENTIDO

SENTINDO

 

INGREDIENTES

 


Só fé e nada mais.

 


PREPARO
 

         Para preparar esta bebida você terá primeiro que colher a fruta preciosa da mesma. Esta fruta se encontra no quintal da vida. Caso você pense não possuir este quintal é porque está de certa forma morto. Sendo assim, será preciso ressuscitar, pois a vida é um quintal com infinitas árvores. Se estiver morto, tente descobrir quem lhe assassinou. Muitas pessoas são mortas ao ingerir crenças, dogmas, enfim por uma infinidade de valores, padrões doentios que servem muito mais ao outro do que a si mesmo. Ao descobrir seu assassino, mande-o para o inferno que o habita e apodere-se finalmente de seu paraíso. Ao entrar em seu paraíso, você descobrirá que ele não é nada mais, nada menos do que a sua própria vida. Neste momento você se lembrará de que todas as vezes que viveu o inferno foi por ter delegado sua própria vida a pessoas manipuladoras que julgavam poder direcioná-la ao seu bel prazer.

         Neste paraíso que eu chamo de quintal da vida existe bem na entrada uma árvore frondosa com os frutos da fé. Basta saboreá-los para que você possa encontrar em seguida a árvore cujo suco contém a tão valiosa energia divina, pois o sumo da fé é que lhe direcionará exatamente ao local onde você precisa estar. O mais interessante é que não existe uma regra rígida. O fruto que contém a energia divina pode estar em qualquer árvore e em qualquer lugar. Tudo vai depender muito do seu momento presente; da sua abertura e da sua necessidade atual. Assim que encontrar o fruto com a energia divina, esprema todo caldo que tiver dentro dele fazendo uma bebida bem apetitosa capaz de estimular todos os seus sentidos e sensações. Deleite-se com este inesquecível prazer sem jamais abrir mão da energia que sentirá fluir dentro de seu ser, agora mais forte e pleno.



SOBREMESA

 
 

O LAMPIÃO MÁGICO



          Era uma vez um certo lugar aonde as pessoas chegavam e ganhavam de presente um lindo lampião mágico. Dentro dele vivia uma luz capaz de iluminar todos os caminhos que levavam à felicidade. Tamanho era o poder deste lampião que muitos  chegavam a acreditar que Deus morava dentro dele, no entanto, havia também os que duvidavam simplesmente por alimentar a crença de que Deus habitava um paraíso muito distante onde poucos poderiam chegar. Aquelas pessoas que acreditavam na presença de Deus no lampião tratavam de cuidar bem do mesmo e manter a luz sempre acesa.  Encaravam-no como uma bússola da felicidade e tratavam de explorar todos os caminhos e direções que a vida lhes oferecia sempre com o lampião à mão. Aquelas que acreditavam na presença de Deus no paraíso, passavam uma vida inteira fazendo promessas, reparando culpas, trabalhando pelo futuro na esperança de um dia poderem desfrutar de um prazer que jamais se permitiam desfrutar no presente. Estas pessoas menosprezavam o seu lampião a ponto de deixa-lo largado em um canto qualquer deste mundo, pois o único mundo que lhes interessava estava sempre muito além.

O tempo, companheiro de todos, sempre vai passando devagarzinho sem que ninguém perceba. Andando sem fazer rumor e com muita sutileza, promove em algum momento o inesperado e surpreendente encontro com a eternidade. Diante de tal surpresa, muitas pessoas se sentem traídas pelo mesmo, inaugurando um conflito que as impedem abraçar a eternidade neste inesquecível encontro que pode ser triste ou alegre dependendo da descoberta que cada um faz. E foi assim aconteceu uma interessante conversa em algum lugar e em algum momento.

— Quem é você? Perguntou um homem.

— Eu sou a Eternidade.

— O que estou fazendo aqui?

— Você é quem deveria saber! Respondeu Eternidade.

— Por que eu é que tenho que saber o que estou fazendo aqui? Perguntou com ar petulante o recém chegado daquele lugar novo e desconhecido.

— Porque é você quem está aqui agora! Afirmou Eternidade.

— Onde estou?

— Você está aqui! Respondeu cheia de convicção a desconhecida Eternidade.

— É claro que estou aqui. Quero saber que lugar é este. Falou impacientemente o homem.

— Este lugar é o lugar que ocupa agora! Respondeu com serenidade a voz da Eternidade.

— Mas o que é que posso fazer neste lugar?

— O que você quiser!

— Mas eu não quero fazer nada! Respondeu o homem com muita raiva.

— Então não faça nada! Aconselhou Eternidade.

— Eu quero que me digam o que devo fazer!

— Então diga a si mesmo o que acha que deva fazer!

— Eu não sei o devo fazer e não estou acostumado a dizer nada a mim mesmo. Sei apenas dizer ao outro o que fazer. Sendo assim, me diga agora o que devo fazer! Ordenou com firmeza aquele novato homem que começava a se enfurecer com as vagas respostas da Eternidade.

— Epa, mais um! Provavelmente você não saiba o que queira fazer por nunca ter feito o que realmente quis – Pontuou Eternidade querendo esclarecer algo que lhe parecia bem comum de acontecer ali.

— E o que eu realmente quis e não fiz? Perguntou com sarcasmo o homem

— Isso só você sabe.

— Pois saiba que sempre quis dar ordens e sempre fiz isto muito bem.

— Talvez precise agora dar ordens a si mesmo. Ponderou Eternidade com sabedoria.

— Eu nunca fiz isto e nem pensei nunca nisto... Divagou pensativo o homem arrogante.

— Em que você pensava?

— Eu pensava fazer aquilo que aprendi ser correto fazer.

— O que é correto? Perguntou Eternidade com ar de questionamento.

— Correto é tudo aquilo que vem de Deus.

— Então você sabe que deva fazer aquilo que vem de Deus! Esclareceu Eternidade tentando ajudá-lo.

— Sei.

— E por que não faz? Questionou Eternidade.

— Sei que o correto é fazer o que vem de Deus, mas não sei o que fazer agora. Falou decepcionado aquele homem que se julgava tão certo de si.

— Talvez você não saiba o que vem de Deus. Inferiu Eternidade.

— Eu sei sim! O que vem de Deus é tudo que me falaram, é tudo que escutei a minha vida inteira.

— Então faça o que lhe falaram! Recomendou Eternidade.

— O que me falaram não faz mais sentido aqui neste lugar.

— Mas, por que perdeu o sentido logo agora?

— Porque eu não tenho o que fazer aqui para garantir meu lugar no paraíso. Respondeu o homem cheio de desilusão.

— Onde é o paraíso? Perguntou Eternidade

— É o lugar onde Deus mora.

— Onde Deus mora?  Voltou a perguntar tentando questiona-lo.

— Em algum lugar. Respondeu confuso.

— Mas, algum lugar é um lugar que não existe! Advertiu Eternidade.

— Como assim?  Perguntou o homem com uma expressão confusa.

— Ninguém pode ocupar algum lugar. Todos nós só ocupamos o lugar que estamos nele no momento. E é neste lugar que devemos construir o nosso paraíso. Orientou Eternidade àquela alma tão desavisada.

— Para que construir um paraíso se eu posso usufruir o paraíso de Deus? Ironizou o homem.

— Você já usufruiu em algum momento do paraíso de Deus? Retorquiu Eternidade.

— Não, mas me certificaram a vida inteira de que algum dia isto seria possível.

— Mas, algum dia é também um dia que não existe! Voltou adverti-lo aquela presença tão questionadora.

— Que dia existe então?  Perguntou o homem com um tom desafiador.

— Existe o agora para sempre. Respondeu Eternidade com toda segurança tentando clarear as ideias confusas daquele homem.

— Acho que estou começando a entender... Você está tentando me dizer que não existe algum lugar paradisíaco que eu possa viver algum dia?

— É isto mesmo. Viver é estar presente, o resto é pura fantasia.

— Quem me garante que você é portadora da verdade divina? A verdade que ouvi é totalmente diferente de tudo isto que você me diz agora e eu prefiro continuar acreditando naquilo que eu ouvi. A verdade de Deus é suprema. Contrapôs o homem desconfiado.

— Então continue acreditando naquilo que ouviu. Se isto lhe deixa mais seguro...

— Mas o problema é que não me sinto mais seguro. Desabafou o homem.

— Sinto muito por você pelo fato da verdade divina não ter tido o poder de lhe trazer segurança. Ressentiu Eternidade.

— Mas eles sempre me garantiram que tudo aquilo que eu ouvia me traria a segurança que todo ser humano busca.

— O que você ouviu foi dito por quem? Perguntou a voz Eterna.

— Por eles, ou seja, por inúmeras pessoas que cruzaram o meu caminho dizendo saber qual o caminho certo e garantido da vida.

— Então você não ouviu de Deus? Indignou-se Eternidade.

— Eu ouvi através deles o que Deus falava. Justificou o homem.

— Por que Deus só disse a eles e nunca a você?

— Eu é quem vou saber?

— Quem mais poderia? Censurou Eternidade.

— Só Deus. Respondeu o homem.

— Então pergunte pela primeira vez a Deus alguma coisa!

— O que eu devo perguntar?

— Tudo aquilo que deseja saber. Respondeu Eternidade

—E o que é importante saber? 

— É importante saber o que é importante para você.

— Mas eu não sei o que é importante para mim.

— Você não sabe o que é importante para você? Fitou-o perplexa aquela voz tão questionadora.

— Eu sei o que é importante para os outros. Aprendi através do outro o que era importante para mim e aprendi também a dizer a eles o que supostamente era importante para eles.

— Aqui não existe mais este outro que você tanto fala.

— E o que existe aqui?

— Existe o que você consegue enxergar e sentir.

— Eu não consigo enxergar e sentir nada. Falou o homem cheio de desânimo.

— Este nada é o que você conseguiu alcançar. Esclareceu com firmeza a voz da Eternidade.

— Não! Você está totalmente enganada! Eu consegui alcançar muitas coisas. Eu sou um homem vitorioso. Tenho títulos, bens, dinheiro, uma família, amigos e muito mais.

— Me mostre tudo isto que alcançou. Desafiou Eternidade.

— Eu não tenho como lhe mostrar isto agora. Ressentiu o homem.

— Se isto lhe pertencesse você deveria ter como me mostrar.

— Não sei como explicar, mas tudo ficou perdido em algum lugar.

— Onde? Perguntou Eternidade

— Sei lá. Talvez alguém tenha me roubado tudo isto.

— Quem faria isto?

— Você. Só pode ser você! Foi só me deparar com você e tudo perdeu o sentido. Quem é você?

— Eu já lhe disse, sou a Eternidade.

— Eternidade é um tempo que não existe. Expressou com escárnio tentando desqualificar Eternidade.

— Qual tempo existe mesmo? Perguntou Eternidade querendo checar o poder de assimilação daquele homem.

— Você acabou de me dizer que o agora é o único tempo que realmente existe, já que o passado passou e o futuro não chegou ainda. No entanto, tenho que admitir a minha dificuldade para entender isto na prática.

— Mas agora poderá entender perfeitamente,  pois  este  agora se eternizou para você.

— Eu não sei viver este agora. Sempre desprezei este momento.  Eu quero meu passado e um futuro brilhante para mim.

— Foi o que você sempre fez e o que não dá para fazer agora. — Ponderou Eternidade.

— E o que dá para fazer agora? Perguntou o homem cheio de curiosidade.

— Dá para fazer o que tiver vontade!

— Eu tenho vontade de viver o meu passado e o meu futuro. Afirmou o homem num tom de exigência.

— Eu já lhe disse que estes tempos não existem aqui.

— Eu não quero viver agora! Berrou o homem.

— Então, morra! Retrucou Eternidade.

— Eu não quero morrer.

— Deverá morrer para trazer de volta o que deseja.

— A morte trará de volta a vida? Perguntou o homem inundando-se de esperança.

— Não, pois não é bem a vida o que você deseja. A morte lhe trará de volta o que lhe matou em vida. Esclareceu Eternidade. É isto que deseja?

— Eu prefiro a morte a esta vida aqui.

— Então você optará pela morte e renegará novamente a vida?  Perguntou perplexa Eternidade.

— Mas eu nunca neguei a vida! Afirmou o homem.

— Como já lhe disse, vida só acontece no presente, o restante são lembranças ou fantasias. Você negou o seu presente deixando-o jogado em um canto qualquer do mundo.

— Que presente é este?

— Aquele que Deus oferece a todos. O seu lampião mágico. Elucidou Eternidade.

— Para que serve um lampião?

— Para iluminar o seu caminho.

— Eu não preciso de um lampião para iluminar o meu caminho, ele sempre foi muito claro.

— Engano seu. Você abandonou o seu lampião e a escuridão fez com que buscasse a segurança trilhando o caminho do outro. É preciso que encontre o seu lampião para conquistar finalmente a clareza que lhe falta agora.

Inesperadamente, foram interrompidos por um jovem que se aproximou carregando com reverência um lindo lampião. Com um ar de felicidade e prazer falou exultante:

— São tantas as belezas e os prazeres deste lugar! Mais um paraíso!

— Mais um paraíso? Interrogou-lhe surpreso o homem.

— Mais um paraíso dentre os muitos que já passei. Completou o jovem dono do lampião.

— O que você vai conseguir fazer aqui?

— Eu já estou fazendo tudo que tenho vontade.

— Você não se considera um egoísta fazendo tudo que possui vontade?

— Egoísta, como assim? Perguntou o jovem.

— Como fica os outros com você fazendo apenas as coisas que tem vontade?

— Os outros também podem fazer aquilo que possuem vontade. Afirmou o dono do lampião.

— E o que você tem vontade? Perguntou o homem.

— Tenho vontade de ser o que realmente sou.

— O que você é?

— Sou aquilo que descubro a cada momento.                         

— E o que você descobriu de você até agora? Perguntou o homem cheio de indignação.

— O grande prazer de me conhecer.

— E os desprazeres?

— Os desprazeres acontecem principalmente quando descuidamos do nosso lampião a ponto da nossa luz apagar nos obrigando a seguir a trilha do outro. Explicou o jovem.

— Isso já aconteceu contigo? Perguntou curioso identificando-se com a situação exposta pelo jovem.

— Algumas vezes.

— E o que você fez para encontrar seu lampião de novo?

— Tive que aceitar andar por algum tempo no escuro, mas levando comigo a clara meta de buscar a luz. Respondeu o jovem externando humildade.

— E como se faz isto?

— Tendo a coragem como parceira nesta busca.

— E onde podemos encontrar a coragem? Perguntou o homem.

— Apenas diante do medo.

— Você já teve medo?

—Algumas vezes.

—Pois eu nunca tive. Vangloriou-se o homem tentando, inutilmente, se sobressair sobre o jovem.

— Pois eu tive medo, enfrentei e conquistei a coragem que me permitiu encontrar meu lampião todas as vezes que o perdi.

— Quando é que se tem medo? Perguntou o homem temeroso pela resposta.

— Diante do desconhecido.

— E o que é o desconhecido?

— Talvez seja aquilo que lhe faltou conhecer.

— E o que me faltou conhecer? Perguntou o homem com ar irônico.

— Aquela presença discursada por muitos, mas praticada e vivida por poucos. Conjeturou o dono do lampião.

— Que presença?

— A presença de Deus dentro de si e não somente fora.

— Mas como você pode dizer isto?

— Digo isto porque vejo você sem o seu lampião. Finalizou o jovem.

Antes que a conversa pudesse ter continuidade, Eternidade solicitou que cada um retomasse  o seu caminho. Só Deus sabe o caminho que cada um deles tomou.