“CRIE
ATIVIDADE E LIBERTE-SE DO TÉDIO”
CRIATIVIDADE
Criatividade é uma iguaria inédita,
que você terá o prazer de preparar pela primeira vez. Se eu ensiná-lo, não estarei
permitindo a você criar a sua própria receita. E tudo que é próprio da gente,
nos faz sentir mais gente, grande gente. De gente grande nascem grandes ideias;
das grandes ideias, grandes transformações; das grandes transformações, um
mundo melhor para se viver.
CUSTO
O preço maior a ser pago é o de ter
que enfrentar a cara feia e críticas daquelas pessoas que não agradaram da sua
receita. No entanto, o mais importante é agradar primeiro o seu paladar. Se
isto acontecer, você só tem a lucrar pois, além de satisfazer a si mesmo, estará também
satisfazendo a todos que possuem um paladar semelhante ao seu.
TIRA GOSTO
MELHOR IDÉIA
INSPIRO
O
DESEJO CÓSMICO,
EXPIRO
IDÉIAS
NOVAS.
COMO
PARTE INTEGRANTE
DESTE
ORGANISMO CÓSMICO,
RESPIRO,
EVITO
A ANÓXIA
QUE
PARALIZA O POTENCIAL
DE
UM UNIVERSO CHAMADO VIDA.
RESPIRO
PROFUNDAMENTE,
OXIGENANDO
COM ENERGIA CRIATIVA
TODO
O MEU SER,
QUE,
EM SEU ÚLTIMO SUSPIRO,
HÁ
DE LANÇAR A IDÉIA
DE
QUE VIVER
É
A MELHOR DELAS.
INGREDIENTES
Muita
confiança
Bastante
ousadia
PREPARO
Agora é com você. Eu bem que
gostaria de provar da sua receita, pois adoro o sabor da confiança e da
ousadia. Sei que estes ingredientes são estruturais para a composição de uma
infinidade de pratos maravilhosos. Acho difícil esta mistura dar errada. Daí,
boa sorte e bom apetite! Que o mundo possa provar de sua confiança e de sua
ousadia.
Esta receita eu não dito, eu apenas
aguardo.
SOBREMESA
A DOR É SER SOLITÁRIO
Houve uma época em que cada parte do
ser humano vivia solitária a vagar pelo mundo, sem saber a sua razão de ser. O
ser humano ainda não existia como um ser completo. Existiam apenas partes
desintegradas e desconectadas, insatisfeitas com a sua insignificante condição
existencial.
Os olhos viviam olhando e admirando
o mundo ao seu redor, mas mesmo enxergando tantos estímulos, viviam
desestimulados com a sensação incômoda de inutilidade. Os ouvidos ouviam as
mais belas melodias do cantarolar dos pássaros, do barulho das cachoeiras, do
ruído do vento, enfim todos os mais diferenciados sons à sua volta. No entanto,
mesmo envolto a tantos estímulos sonoros, sentia-se surdo por não conseguir dar
significação a tudo que ouvia. O nariz inalava o aroma delicioso de todas as
flores, inspirava os mais variados cheiros, mas ainda assim sentia-se
incompleto e vazio. A boca experimentava o sabor de cada alimento que a
natureza oferecia, beijava cada ser que a envolvia; no entanto, sentia fome de
algo que não sabia o que. Os braços abraçavam todos os seres, mas sentiam-se
soltos demais. As mãos tudo pegavam, mas não sabiam o que fazer com a matéria
que apalpavam. Os órgãos sexuais, sempre estimulados, não sabiam o que fazer
com tanto desejo preso e contido. As pernas caminhavam com dificuldade, sem
saber que direção seguir. Os pés cheios de tropeços tentavam, em vão, pisar com
firmeza no chão. O tronco, vazio de órgãos, sentia-se vazio sem ter o que
abrigar. A cabeça vazia não pensava em nada. O cérebro pensava em tudo, mas,
ainda assim, sentia-se um tolo, pois não encontrava razão para tanto
pensamento. O coração, já cansado de tanto bater, encontrava mais razão para
parar do que para continuar batendo. O pulmão se enchia de ar, mas vivia
sufocado pela angústia da solidão. O pescoço girava para um lado e para outro
parecendo uma piorra desgovernada. Os rins filtravam o tédio. O estômago vazio
vivia roncando. O fígado, irritado com sua solidão, vivia se intoxicando. O
pâncreas desenvolveu uma pancrealgia que o fazia doer por não saber a sua razão
de ser. Os intestinos, sem ter o que prender ou soltar, se movimentavam num
peristaltismo desgovernado. Enfim, cada órgão, que hoje trabalha
harmonicamente, foi naquele momento contraindo a dor de ser desintegrado. Cada
parte angustiada suplicava, em oração, seu lamento e seu pedido de socorro:
—
A dor é ser solitário, desintegrado e desunido!
Diante deste lamento doído nasceu a
sentença “A DOR É SER” criando uma doença que urgia ser tratada. Ouvindo esta
oração, Deus se viu diante de um problema que exigia uma rápida solução. Sabia
que o melhor remédio para este problema só poderia ser oferecido pela sua
valiosa assistente, chamada Criatividade. Sendo assim, o eco divino ordenou:
—
Criatividade, vá ao mundo e crie uma atividade que faça sentido para aqueles
seres.
Atendendo a ordem divina,
Criatividade chegou diante de cada parte como se estivesse diante de um grande
quebra-cabeça e pensou:
—
O que vou fazer com tudo isto? Cada um com um problema diferente...
Pensativa, resolveu reverter a ordem
do problema. Sabia que, para criar, precisava eliminar o pessimismo e pensar em
soluções. Iluminada por esta nova ideia se corrigiu-se dizendo:
—
Melhor afirmar — cada um com uma solução diferente! Com tantas soluções e
diferenças, talvez seja interessante uni-los. O que vai dar esta união?
Criatividade foi juntando as peças
soltas pelo mundo sem saber ao certo no que daria os resultados daquela união.
Sabia apenas que toda criação demandava ousadia. Suas obras sempre foram, a
princípio, um grande mistério. Não foi diferente com esta. Sua ousadia resultou
na formação de um grande mistério chamado homem.
Hoje, quando Deus olha para esta ousada obra de sua
assistente Criatividade, fica às vezes confuso, sem saber se tudo isto resultou
num grande problema ou numa grande solução para o mundo. Sabe apenas que, sendo
filho da iluminada Criatividade, carrega com certeza seu gene da transformação.
Se você for doutor e achar que esta
obra anda meio adoentada, não cometa o erro de tentar tratar isoladamente o que
sempre desejou funcionar junto para, enfim, conquistar o sentido de estar vivo.
Seja, no mínimo, CRIATIVO.