DEUS NÃO POSSUI DÍVIDAS E NEM CRÉDITOS.
AGRADEÇA AO INVÉS DE DIZER: — DEUS LHE PAGUE!”
GRATIDÃO
Quem consegue ter à mesa este alimento, consegue diante da fartura ou mesmo da falta, sentir que a vida é bela e nutritiva.
CUSTO
Você só tem a ganhar investindo na gratidão, pois mesmo diante dos maus investimentos você estará propenso a procurar a lucratividade em algum ponto do mesmo. Agindo assim, nunca se sentirá subtraído.
TIRA GOSTO
OBRIGADA
OBRIGADA
POR TER SIDO
GRATUITO
E NÃO SENDO OBRIGADO A NADA
REALIZOU A MAIOR OBRIGAÇÃO
NÃO OBRIGAR
ABRIGANDO
POR NADA
INGREDIENTES
Amanteigada aceitação
Mel da valorização
Pó da resignação
PREPARO
Vocês já comeram a deliciosa banana caramelada? O preparo da gratidão é parecido. Agradecer o que a gente sempre desejou é fácil, o difícil é adquirir a capacidade de agradecer aquela experiência não requisitada pelo nosso ego, mas sem que a gente saiba, nutritiva para a nossa alma.
Nesta vida há muitas experiências que precisam ser “descascadas” para melhor serem compreendidas. Comer banana com casca e tudo pode ser bem indigesto para quem possui uma digestão difícil. Sendo assim, descasque aquela experiência que você precisa digerir. Descubra que o interior de uma casca aparentemente dura pode conter um fruto extremamente nutritivo. Para que este fruto fique bem saboroso, passe sobre o mesmo a amanteigada aceitação, o mel da valorização, polvilhando ao final com o pó da resignação.
Leve ao forno quente de seu coração e bom apetite.
SOBREMESA
HONRANDO A VIDA
Doído, porém sereno, diante da maior tragédia que um ser humano é algumas vezes obrigado a suportar, estava um iluminado pai perante a perda de seu único filho. Os amigos chegavam a todo o momento com a intenção de consola-lo. Nenhum deles conseguia colher palavras que pudessem justificar ou preencher o vazio que aquela perda tão significativa impunha àquele pai. No entanto, palavras faltavam apenas aos amigos. Dentro de seu peito doído saíram sábias citações que surpreenderam a todos.
— Tenho tanto a agradecer! Entoou o pai diante daquela perda.
Ninguém entendeu como um homem pudesse ter naquele momento de tamanha lesão agradecimentos a fazer. O mais inconsolável dos amigos, revivendo projetivamente aquele momento doloroso, iniciou uma lamentação que denotava claramente a projeção da morte de sua querida esposa:
— Eu não posso aceitar isso! É horrível e inaceitável ele ter morrido!
Inundado por lágrimas que faziam escorrer pelos seus olhos um sofrimento fácil de compreender, o enlutado pegou a mão fria do amigo, olhando-o no fundo de seus olhos pronunciou a mais sabia experiência de vida que um ser humano é capaz de adquirir:
— Foi simplesmente maravilhoso ele ter vivido. Sinto agora mais do que nunca que o maior presente que ganhei nesta vida foi este meu único e querido filho.
— De que adianta este presente se ele lhe foi roubado? Deus não foi justo com você. Como pode ter tirado de um homem tão bondoso a sua única joia preciosa? Questionou o amigo roendo antigas revoltas e insatisfações dentro de seu ser.
— Deus não roubou o meu filho. Pelo contrário, ele me presenteou durante anos com sua magnífica presença. Eu não tenho como lamentar a dádiva e alegria de tê-lo vivido. Pior seria não ter tido a benção de tê-lo merecido.
— De que adianta esta gratidão se não pode vive-lo mais agora? Interrogou-lhe o amigo — A garantia de tê-lo para sempre é que mereceria gratidão.
— Aquele que expressa reconhecimento apenas fazendo barganhas é, na verdade, um grande ingrato que só consegue regozijar-se se tiver a eterna garantia de que só irá receber e nada mais. A gratidão não pressupõe retribuição de cortesias. Este tipo de comportamento é típico de seres egoístas que jamais conseguem retribuir a alegria recebida e vivida. Assegurou-lhe aquele pai diante da revolta do amigo.
Não havia palavras que pudessem rebater a revolta e inconformismo do amigo que sem delicadeza alguma ironizou com aspereza:
— E por acaso, você está alegre de ter perdido seu filho?
— Estou muito triste. É como se eu tivesse perdido uma parte do meu ser. É como se tivessem amputado um pedaço da minha vida. A angústia queima dilacerando o meu peito, mas tenho consciência de que preciso curar esta dor. Eu não posso deixar que ela aniquile este pleno ser que me habita. Eu não posso deixar que a dor faça comigo o que fez com você. Advertiu, pacientemente, o pai em confronto com a revolta do amigo.
— E o que você acha que a dor fez comigo? Perguntou o amigo querendo checar a imagem que estava passando para as pessoas.
— A sua dor deixou que a revolta, o rancor e o ódio tomassem mais força que o amor, a alegria e a gratidão que lhe habitava. Hoje você se transformou numa pessoa fraca, pois tem se deixado ser dominado por sentimentos pequenos que roubaram o encanto de seu passado, de seu presente e de toda a beleza que lhe aguarda no futuro.
Em prantos o amigo começou a chorar a morte da mulher. Aquela visita era muito mais uma visita à sua dor do que à dor do amigo que acabara de perder o filho.
— Desculpe-me! Eu precisava estar aqui para ajuda-lo e não para falar de minha dor. Mas a minha dor é tanta que não consigo ser solidário com você neste momento tão difícil. Eu não posso aceitar não vive-la. Jamais irei me conformar com a perda de minha esposa.
— A sua dor não trará a sua querida esposa de volta e nem fará com que ela perceba o amor que nutre por ela. Pelo contrário, a energia negativa desta dor só a manterá cada vez mais distante de você. O negativo repele tudo aquilo que é saudável. Se continuar assim, daqui um tempo perderá todas as boas lembranças que possui dela por estar se nutrindo apenas de sentimentos venenosos que roubarão toda a sua vitalidade. Restarão para você apenas lembranças de infortúnios e com a mente limitada só será capaz de enxergar o mal.
— Me diga então o que você fez para se conformar. Suplicou-lhe o amigo inconformado.
— Aprendi a aceitar a vida tal qual ela é e não como a minha imaginação gostaria que ela fosse. Tente prestar atenção na palavra com – formar. Conformar é dar à vida a forma que lhe pertence. É como se ela fosse um quebra-cabeça onde as peças possuem formas especiais que se encaixam cada qual no seu espaço e não no espaço que gostaríamos que elas se encaixassem. Sua mulher é uma peça que pertence a uma parte de seu quebra-cabeça que já foi montada. Não adianta você querer monta-la novamente, pois este pedaço já está terminado. O quebra-cabeça da vida é um pouco diferente de nossos brinquedos. Depois que você consegue encaixar uma peça no seu lugar, ela jamais é descolada dali. Ela vira uma coisa chamada passado que ninguém consegue mudar. Aprenda a admirar a parte de seu quebra-cabeça que já foi montada e se comprometa a encaixar as peças que ainda estão soltas esperando você se prontificar a encaixa-las no lugar certo. Tentar encaixar uma peça num local errado só atrasa nosso processo de construção. Precisamos armar nosso quebra-cabeça e agradecer cada parte que foi montada. Não seria nada agradável partir desta vida com ele todo desajustado. Este quebra-cabeça é grande demais para alguns e menores para outros. Cada experiência, cada pessoa que cruza o nosso caminho é uma peça. Alguns precisam de muito tempo para ajustar no lugar certo tantas experiências e pessoas que lhe cabem. Outras precisam de um tempo menor. Espero que você saiba aproveitar bem o seu tempo. Aconselhou o pai enlutado.
— Pois saiba que a morte bagunçou o meu quebra-cabeça.
— Engano seu. A morte não destrói e nem anula aquilo que foi vivido. Tudo que você construiu continua intacto em suas lembranças. Você pode viver estas lembranças com saudade ou com revolta. A escolha é sua. A sabedoria reside na capacidade de agradecermos a alegria daquilo que foi. Pare de alimentar o pesar daquilo que não pôde ser. Solicitou com firmeza o amigo pai.
— A morte pode não ter me roubado o passado, mas me privou de meu presente e de meu futuro. Lamentou o amigo.
— A morte pode ter lhe privado do presente e do futuro que sua limitada imaginação impôs a você. Quanto a isto eu só tenho dois conselhos a lhe dar. O primeiro é que o futuro não existe e nem mesmo nos pertence. Daí, não tente viver algo que não é seu. O segundo conselho é tornar-se capaz de presentear-se com o presente. O passado é o quebra-cabeça formado e o presente é a peça que você se dispõe a encaixar agora. Que seja a peça da gratidão de estar VIVO e de ter a graça de ser VIVO.
Naquele momento os dois se entreolharam e lá no fundo de seus olhos apareceu uma peça do quebra-cabeça que finalmente se encaixou no lugar certo. Surgiu dali um grande abraço que encaixou um corpo no outro externando uma empatia e afinidade muito especial que aquele momento de tanta dor presenteou aos dois.