segunda-feira, 21 de outubro de 2013

LIBERDADE



“ASSUMIR A LIBERDADE É PRENDER-SE À DIFÍCIL RESPONSABILIDADE DE SER DONO DA PRÓPRIA VIDA”




LIBERDADE



Liberdade é um prato que lhe faz adquirir a mais desejável, porém temível e difícil conquista: “ser dono de si mesmo”.



CUSTO



Liberdade não é gratuita, custa direitos e deveres. Os direitos adquiridos possuem o valor de proporcionar-lhe a possibilidade de fazer tudo que desejar. Os deveres lhe concedem o alto preço da responsabilidade de assumir as consequências de todos os seus atos. “Ter direitos custa o dever de assumir riscos e consequências”.



TIRA GOSTO



BICHO HOMEM


PENSAR EM LIBERDADE
É APRISIONÁ-LA
NA GAIOLA DA MENTE
ACORRENTANDO COM A RAZÃO
A NOSSA RAZÃO DE SER


CONQUISTAR A LIBERDADE
PRESSUPÕE JÁ TÊ-LA PERDIDO
LIVRE É
SEM PRECISAR SER
LIVRE DE BATALHAS OU CONQUISTAS


NENHUM BICHO
SUA LIBERDADE QUESTIONA
SÓ O BICHO HOMEM
QUE DONO SE JULGA
DO QUE É INAPROPRIÁVEL


O BICHO HOMEM
FINGE QUE É DONO
AO OUTRO DÁ LIBERDADE
SÓ NÃO CONSEGUE DAR
LIBERDADE A SI MESMO


BICHO HOMEM
PROPRIETÁRIO APRISIONADO
ESCRAVO DE SEUS ESCRAVOS
SABE APRISIONAR
LIBERTAR JAMAIS


QUAL O SENTIDO DA LIBERDADE
PARA O BICHO HOMEM
QUE ESCRAVO DA INSENSIBILIDADE
NÃO SENTE MAIS
O SENTIDO DE SENTIR


BICHO HOMEM
ESPÉCIE QUE SE JULGA
ESPECIAL
ESPECIALMENTE CAPAZ
DO OUTRO SE APROPRIAR E SER APROPRIADO


BICHO HOMEM
APRISIONA OUTRAS ESPÉCIES
APRISIONA A SUA PRÓPRIA
ESTRANHO JEITO DE SER
SER HOMEM


QUE O BICHO HOMEM POSSA
DEIXAR DE SER HOMEM
E  TORNAR-SE BICHO
E COMO BICHO
LIBERTAR-SE



INGREDIENTES


MASSA: Coragem, segurança, independência e responsabilidade.
RECHEIO: Os mais variados direitos que possuir


PREPARO



         É parecido com o preparo de uma pizza. Primeiro prepare a massa, misturando bastante coragem, segurança, independência e responsabilidade. Amasse bem até sentir firmeza, ou seja, produza uma massa homogenia e consistente o suficiente para não agarrar nos dedos de suas mãos. Se estiver agarrando é porque não tem ainda a firmeza necessária para ir ao quente forno da vida. Talvez precise ser mais trabalhada, ou de uma quantidade maior de um dos ingredientes acima. No entanto, quando estiver firme e soltando de suas mãos, disponha-a no tabuleiro de seu ser e jogue por cima o delicioso recheio dos direitos. Unte o tabuleiro com seus deveres, para não agarrar e destruir tudo que foi construído até então. Seguidos todos estes passos, é só colocar para assar numa vida quente que jamais lhe deixará sentir a frieza do exílio e do aprisionamento.



SOBREMESA



CARTA DE ALFORRIA


         Num reino distante existia um rei e uma rainha que aguardavam ansiosos o nascimento de um filho. O feiticeiro da corte previu o nascimento de uma bela menina que foi aguardada com muita alegria por todos.
         No dia do nascimento, todas as personalidades dotadas de poder foram convidadas para presentear a nova princesa com os mais variados dotes que pudessem ofertar à vida da mesma a plena felicidade. Como todo conto de fadas existe uma bruxa má, a dita cuja não poderia deixar de habitar este conto e visitar a bela princesa bem no dia de seu nascimento oferecendo a ela a sua maldição. Pegou a criança no colo e rogou sobre a mesma toda a sua maldade:
— Terás o título de princesa, mas será uma verdadeira escrava!
         Perplexos com tamanha crueldade, expulsaram a maldita bruxa do aposento onde se encontravam todos os convidados. Como ela fora a primeira pessoa a presentear a princesa, os outros convidados trataram de desejar à mesma todas as honrarias e poderes que pudessem libertá-la de tamanho infortúnio.
— Serás sempre a mais linda moça do reino. Ninguém conseguirá ultrapassar a sua beleza. Dona de tanto encanto, jamais correrá o risco de se tornar uma escrava.
— Terás a pele branca e fina como seda, sendo, portanto, impossível confundi-la com uma escrava.
— Terás muitas posses,  serás dona de tudo, sendo, portanto, inadmissível ter um dono.
         O rei na condição de pai lhe ofertou um nome e uma grande pedra valiosa:
 — Dar-lhe-ei o nome de Libéria, que significa livre, para que carregue para sempre em sua identidade a marca da liberdade. Receba também este cristal, para que sua vida possa emanar a energia da prosperidade.
         Por último, apareceu uma respeitável fada que com muita ternura rogou-lhe uma preciosa oferta que, mesmo não sendo compreendida, foi ouvida e aceita por todos sem objeções:
— Ofereço-lhe a sua carta de alforria. Aos 21 anos, poderá desfrutá-la, deste que reconheça o senhor que lhe escravizará por todo este tempo, podendo finalmente se libertar dele.
         O tempo foi passando, a princesa foi crescendo e se transformando, dia após dia, na moça mais bela do reino. Uma complexa rede de artimanhas e defesas era a
 todo o momento montada para impedir que a maldição da bruxa se concretizasse. Todos os desejos da princesa eram satisfeitos imediatamente, não lhe era permitido viver nenhuma frustração. Ao seu lado, sempre existia alguém pronto a atendê-la; jamais experimentava a condição de estar só para não correr o risco de desejar e não ser prontamente atendida. Nunca lhe foi solicitado que desenvolvesse qualquer tarefa; por mais simples que fosse, havia sempre alguém que pudesse desenvolve-la por ela. Era apenas atendida, jamais vivera a experiência de atender alguém.
Sua pele era tão branca e fina que não podia ser tocada diretamente pelo sol. Quando saía para dar um passeio pelos arredores do castelo, havia sempre um guarda-sol a proteger sua pele de qualquer raio solar que pudesse agredi-la.
Enormes espelhos foram espalhados pelas paredes do castelo para que a princesa pudesse se distrair contemplando sua beleza, obstinando-se a buscar sempre a perfeição. Ela era o padrão e a referência de beleza para as outras moças do reino. Todas desejavam ser igual a ela, para que pudessem ter a chance de serem desejadas e apreciadas pelo tão esperado príncipe encantado. Sem perceber, Libéria foi se tornando escrava de sua beleza.
Uma princesa tão bela e perfeita deveria se casar com um príncipe belo e perfeito. Todos os sábios da corte foram convidados para ajudar a escolher um homem que conseguisse se encaixar dentro dos padrões de perfeição exigidos. O tempo foi passando e nenhum jovem conseguia satisfazer as exigências solicitadas. Um clima de ansiedade passou a reinar naquele império de desejos inalcançáveis e a jovem princesa foi ultrapassando a época julgada ideal para um casamento. Para que este problema pudesse ser resolvido sem gerar maiores conflitos, estabeleceu-se que, a partir daquela data, o ideal seria casar-se aos 21 anos. Este passou a ser mais um padrão criado a partir das necessidades da princesa e todas as jovens tratavam de segui-lo, sem questionamentos, para se aproximarem ao máximo do ideal estabelecido.
O tempo continuou passando e finalmente a princesa completou 21 anos. Mais uma vez não foi encontrado nenhum jovem que pudesse satisfazer os padrões de perfeição exigidos para uma princesa de tamanha categoria. Todos se reuniram novamente, tentando criar mais uma forma de solucionar este conflito antes que ele pudesse ser vivido e sentido pela princesa. Sem encontrar uma solução para o mesmo, resolveram consultar a respeitável fada que, no dia do nascimento da princesa, ofertou-lhe um presente incompreensível e misterioso: sua carta de alforria. Indagaram-na sobre a má sorte de Libéria.
— A maldição de se tornar uma escrava não recaiu sobre a nossa querida princesa; no entanto, precisamos libertá-la da má sorte de não ter encontrado ainda um casamento perfeito. A dita carta de alforria que você lhe ofertou em seu nascimento teria a finalidade de libertá-la deste infortúnio?
— Não. A carta de alforria que lhe ofertei a libertaria da escravidão que a bruxa lhe rogou. Respondeu a fada com firmeza.
— Como pode afirmar ser a princesa uma escrava? Perguntaram perplexos.
— Ela é tão escrava quanto cada um de vocês. Continuou a fada.
— Nós não somos escravos. Afirmaram.
— Vocês são escravos de sua cegueira, ou seja, de tudo que não conseguem enxergar.
         Sem quererem enxergar aquilo que os escravizava, mas sentindo-se responsáveis pela liberdade da princesa perguntaram ansiosamente:
— Diga-nos então o que podemos fazer para libertar pelo menos a nossa princesa, para que ela possa finalmente se casar.
— Deixe que ela se case primeiro com ela mesma. Proferiu a fada, com sabedoria.
         Todos se entreolharam confusos. Nunca ouviram falar que alguém pudesse casar consigo mesmo. Desesperados, sem encontrar saída para aquela situação conflituosa, apelaram para a sabedoria da tão respeitável fada, depositando sobre a mesma toda a esperança. Trataram rapidamente de providenciar o encontro da princesa com aquela entidade misteriosa e, ao mesmo tempo, fantástica, que a libertaria.
         Diante do espelho Libéria se enfeitava e contemplava sua beleza. Viu repentinamente a imagem da fada refletida ao lado da sua. Surpresa, perguntou:
— Quem é você?
— Eu sou sua fada madrinha.
— O que faz aqui?
— Eu vim finalmente entregar-lhe o presente que lhe ofereci há 21 anos.
— Obrigada! Pode deixá-lo sobre a mesa que tratarei de abri-lo e apreciá-lo. Agradeceu a princesa.
— Ao invés de abri-lo, terá primeiro que se abrir para ele e ao invés de apreciá-lo, terá de conquistá-lo. Ponderou a fada.
— Que tipo de presente é este? Recebi presentes durante toda a minha vida. Sempre segui o ritual de abri-los, apreciá-los e fazer uso deles. Isto é tudo que sei fazer com aquilo que me é oferecido. Explicou Libéria.
— Trago-lhe um presente diferente de tudo que já recebeu. Aliás, trago-lhe pela primeira vez a possibilidade de experimentar um sabor que desconhece.
— Que sabor desconheço? Perguntou Libéria
— Você desconhece o sabor das conquistas. Tudo lhe foi dado, você nunca precisou conquistar nada. Você tem tudo e ao mesmo tempo não tem nada. Tudo que possui foi conquistado graças ao suor de uma outra pessoa, que você nem mesmo se deu ao trabalho de saber quem. Além de suar para você, este outro também desejou para ti aquilo que você inocentemente julgou ter desejado. Na verdade, tudo que deseja é uma extensão do desejo do outro. Da vida você pouco conhece e é justamente o conhecimento da mesma que nos permite desejar ardentemente ou colocar limites aos nossos desejos.
         A princesa ficou muito assustada com tudo aquilo que a fada acabara de lhe dizer. Mesmo sem arredar o pé da frente do espelho, sentiu-se jogada num mundo completamente diferente. Num passe de mágica, a imagem que viu diante de si não era mais daquela princesa que por anos se contemplou cheia de vaidade. Viu a imagem de uma mulher feia, comodista, fútil, insegura e sem vitalidade. Pela primeira vez, experimentou o sabor do desespero e, tomada  pelo mesmo, jogou sobre o espelho o cristal presenteado pelo seu pai no dia de seu nascimento, simbolizando a prosperidade que tanto desejava à filha. O espelho se espatifou em pedacinhos,  ferindo as mãos da princesa. Imediatamente, vários servos se aproximaram assustados, recolhendo a princesa com a finalidade de providenciar os recursos necessários para tratar do seu primeiro ferimento. A fada se interpôs-se com firmeza, expulsando-os daquele aposento:
— Deixem Libéria tratar de si mesma.
— Eu não sei tratar de minhas feridas! Exclamou Libéria tomada de pânico.
— Aprenda! Desafiou a fada.
— Como aprender, se nunca me ensinaram? Questionou a princesa.
—Às vezes, é necessário ensinarmos a nós mesmas a melhor maneira de agir. Expôs a fada com sabedoria.
— E como se faz isto?
— Experimentando.
— O que devo experimentar agora? Perguntou Libéria ansiosa por uma resposta.
— Experimente o presente que estou lhe oferecendo. Respondeu a fada, cheia de entusiasmo.
— Que presente é este que está me oferecendo e que eu não consigo enxergar?
— Na verdade, já está começando a enxergar este presente, só não sei ainda se vai apreciá-lo e querer usufruí-lo.
— Não estou conseguindo entender nada. Seja mais clara e me fale que presente é este. Solicitou com imposição a princesa.
— Eu lhe trouxe a sua carta de alforria.
— Para que serve uma carta de alforria?
— Para liberta-la.
—Libertar-me... Como assim, não entendi.
         A fada contou à princesa toda a história de seu nascimento, história até então desconhecida. Libéria ficou indignada com o destino que lhe impuseram. Percebeu que não fora, até então, dona de sua própria vida e que em nenhum momento lhe foi permitido escrever nem uma linha sequer de seu destino. Decepcionada, perguntou à fada:
— Quer dizer que sou uma escrava vestida de princesa?
         Sem responder diretamente a sua pergunta, a fada lhe fez uma outra, que pudesse forçar a princesa a pensar sobre a sua condição.
— Você se sente livre?
— Nunca pensei e nem me dei conta disto. Pela primeira vez, você está me fazendo pensar sobre alguma coisa. Acho que me tornei escrava da minha alienação, dos desejos que todos tiveram de me fazer feliz, enfim, me tornei escrava de um grande vazio.
— Libertar deste vazio pressupõe assumir uma série de responsabilidades. Advertiu a fada madrinha.
— Sinto que não conseguirei voltar atrás depois desta tomada de consciência. Eu não sei ainda se eu era feliz ou infeliz absorta em tanta alienação. Eu só sei que o momento presente me solicita que eu seja eu, e a única coisa que sei a meu respeito é que sou Libéria. Como Libéria, eu carrego a liberdade em minha identidade e desejo experimenta-la.
— A sua tomada de consciência se transformou na valiosa carta de alforria que lhe presenteei. Agora você é finalmente livre para escolher ser escrava ou dona de si.
— Quer dizer que se é livre para escolher, inclusive ser escravo?
— Se é livre para escolher ser dono de si e escravo, se é livre para escolher pela vida e pela morte, se é livre para escolher ser feliz ou infeliz, enfim se é livre para SER. A liberdade não é uma forma ou condição de ser, a liberdade é, na verdade, um espaço de escolha. No entanto, só conseguimos ocupar este espaço quando tomamos consciência da sua existência. Elucidou a fada.
— Então, liberdade não é poder fazer tudo aquilo que se deseja? Perguntou Libéria.
— Você tem a liberdade de fazer até mesmo aquilo que não deseja. Na verdade, o ser humano tudo deseja, mas existem limites que restringem a satisfação destes desejos. Ser livre não pressupõe jamais não ter limites. Ser livre é poder administrá-los. A consciência destes limites nos permite usar a nossa liberdade com mais sabedoria.
— Talvez liberdade seja a conquista do poder de administrar a nossa própria vida. Concluiu Libéria.
— Administrar bem ou mal. Finalizou a fada, sorrindo.
         Libéria agradeceu muito o presente que sua fada madrinha lhe ofereceu. Apesar de doloroso, fora também o presente mais valioso que recebeu em sua vida. Quanto ao destino desta princesa, poucos souberam me informar. Fiquei sabendo apenas que não aceita mais babás ao seu lado, apanha sol todas as manhãs tomando os devidos cuidados com os raios ultravioletas, que chegaram a lhe causar, numa certa ocasião, uma terrível insolação por ter abusado e não reconhecido os limites saudáveis ao corpo. Aprendeu também a tratar de seus ferimentos sozinha, mesmo carregando algumas cicatrizes pelo corpo. Dizem que demorou muito a se casar, pois afirmava estar em lua de mel consigo mesma. Muitos acharam que estivesse ficando maluca, mas parecia não estar nem ai para qualquer comentário que fizessem a seu respeito. Quando. Finalmente, decidiu se casar, tudo indica que não escolheu um príncipe encantado. Escolheu um homem que parecia não ser perfeito, pois ela dizia ter casado bem as imperfeições dele com as suas, administrando-as da melhor maneira possível.
         Não conheci a Libéria desta história, mas conheci inúmeras Libérias ao longo de minha vida. Tem uma inclusive que nasceu e reside dentro de mim. Ela está agora me fazendo um pedido que deverá ser repassado a todos vocês:
— LIBERTE-SE!
         No entanto, se você é daqueles que possui muito medo da palavra liberdade, ela lhe sugere uma outra:

— ADMINESTRE-SE! 

terça-feira, 27 de agosto de 2013

GRATIDÃO


DEUS NÃO POSSUI DÍVIDAS E NEM CRÉDITOS.

AGRADEÇA AO INVÉS DE DIZER: — DEUS LHE PAGUE!”

GRATIDÃO


         Quem consegue ter à mesa este alimento, consegue diante da fartura ou mesmo da falta, sentir que a vida é bela e nutritiva.


CUSTO


         Você só tem a ganhar investindo na gratidão, pois mesmo diante dos maus investimentos você estará propenso a procurar a lucratividade em algum ponto do mesmo. Agindo assim, nunca se sentirá subtraído.


TIRA GOSTO


OBRIGADA


OBRIGADA

POR TER SIDO

GRATUITO

E NÃO SENDO OBRIGADO A NADA

REALIZOU A MAIOR OBRIGAÇÃO

NÃO OBRIGAR

ABRIGANDO

POR NADA


INGREDIENTES


Amanteigada aceitação

Mel da valorização

Pó da resignação


PREPARO


         Vocês já comeram a deliciosa banana caramelada? O preparo da gratidão é parecido. Agradecer o que a gente sempre desejou é fácil, o difícil é adquirir a capacidade de agradecer aquela experiência não requisitada pelo nosso ego, mas sem que a gente saiba, nutritiva para a nossa alma.

         Nesta vida há muitas experiências que precisam ser “descascadas” para melhor serem compreendidas. Comer banana com casca e tudo pode ser bem indigesto para quem possui uma digestão difícil. Sendo assim, descasque aquela experiência que você precisa digerir. Descubra que o interior de uma casca aparentemente dura pode conter um fruto extremamente nutritivo. Para que este fruto fique bem saboroso, passe sobre o mesmo a amanteigada aceitação, o mel da valorização, polvilhando ao final com o pó da resignação.

Leve ao forno quente de seu coração e bom apetite.


SOBREMESA


HONRANDO A VIDA


         Doído, porém sereno, diante da maior tragédia que um ser humano é algumas vezes obrigado a suportar, estava um iluminado pai perante a perda de seu único filho. Os amigos chegavam a todo o momento com a intenção de consola-lo. Nenhum deles conseguia colher palavras que pudessem justificar ou preencher o vazio que aquela perda tão significativa impunha àquele pai. No entanto, palavras faltavam apenas aos amigos. Dentro de seu peito doído saíram sábias citações que surpreenderam a todos.

— Tenho tanto a agradecer! Entoou o pai diante daquela perda.

         Ninguém entendeu como um homem pudesse ter naquele momento de tamanha lesão agradecimentos a fazer. O mais inconsolável dos amigos, revivendo projetivamente aquele momento doloroso, iniciou uma lamentação que denotava claramente a projeção da morte de sua querida esposa:

— Eu não posso aceitar isso! É horrível e inaceitável ele ter morrido!

         Inundado por lágrimas que faziam escorrer pelos seus olhos um sofrimento fácil de compreender, o enlutado pegou a mão fria do amigo, olhando-o no fundo de seus olhos  pronunciou a mais sabia experiência de vida que um ser humano é capaz de adquirir:

— Foi simplesmente maravilhoso ele ter vivido. Sinto agora mais do que nunca que o maior presente que ganhei nesta vida foi este meu único e querido filho.

— De que adianta este presente se ele lhe foi roubado? Deus não foi justo com você. Como pode ter tirado de um homem tão bondoso a sua única joia preciosa? Questionou o amigo roendo antigas revoltas e insatisfações dentro de seu ser.

— Deus não roubou o meu filho. Pelo contrário, ele me presenteou durante anos com sua magnífica presença. Eu não tenho como lamentar a dádiva e alegria de tê-lo vivido. Pior seria não ter tido a benção de tê-lo merecido.

— De que adianta esta gratidão se não pode vive-lo mais agora? Interrogou-lhe o amigo — A garantia de tê-lo para sempre é que mereceria gratidão.

— Aquele que expressa reconhecimento apenas fazendo barganhas é, na verdade,  um grande ingrato que só consegue regozijar-se se tiver a eterna garantia de que só irá receber e nada mais. A gratidão não pressupõe retribuição de cortesias. Este tipo de comportamento é típico de seres egoístas que jamais conseguem retribuir a alegria recebida e vivida. Assegurou-lhe aquele pai diante da revolta do amigo.

         Não havia palavras que pudessem rebater a revolta e inconformismo do amigo que sem delicadeza alguma ironizou com aspereza:

— E por acaso, você está alegre de ter perdido seu filho?

— Estou muito triste. É como se eu tivesse perdido uma parte do meu ser. É como se tivessem amputado um pedaço da minha vida. A angústia queima dilacerando o meu peito, mas tenho consciência de que preciso curar esta dor. Eu não posso deixar que ela aniquile este pleno ser que me habita. Eu não posso deixar que a dor faça comigo o que fez com você. Advertiu, pacientemente, o pai em confronto com a revolta do amigo.

— E o que você acha que a dor fez comigo? Perguntou o amigo querendo checar a imagem que estava passando para as pessoas.

— A sua dor deixou que a revolta, o rancor e o ódio tomassem mais força que o amor, a alegria e a gratidão que lhe habitava. Hoje você se transformou numa pessoa fraca, pois tem se deixado ser dominado por sentimentos pequenos que roubaram o encanto de seu passado, de seu presente e de toda a beleza que lhe aguarda no futuro.

         Em prantos o amigo começou a chorar a morte da mulher. Aquela visita era muito mais uma visita à sua dor do que à dor do amigo que acabara de perder o filho.

— Desculpe-me! Eu precisava estar aqui para ajuda-lo e não para falar de minha dor. Mas a minha dor é tanta que não consigo ser solidário com você neste momento tão difícil. Eu não posso aceitar não vive-la. Jamais irei me conformar com a perda de minha esposa.

— A sua dor não trará a sua querida esposa de volta e nem fará com que ela perceba o amor que nutre por ela. Pelo contrário, a energia negativa desta dor só a manterá cada vez mais distante de você. O negativo repele tudo aquilo que é saudável. Se continuar assim, daqui um tempo perderá todas as boas lembranças que possui dela por estar se nutrindo apenas de sentimentos venenosos que roubarão toda a sua vitalidade. Restarão para você apenas lembranças de infortúnios e com a mente limitada só será capaz de enxergar o mal.

— Me diga então o que você fez para se conformar. Suplicou-lhe o amigo inconformado.

— Aprendi a aceitar a vida tal qual ela é e não como a minha imaginação gostaria que ela fosse. Tente prestar atenção na palavra com – formar. Conformar é dar à vida a forma que lhe pertence. É como se ela fosse um quebra-cabeça onde as peças possuem formas especiais que se encaixam cada qual no seu espaço e não no espaço que gostaríamos que elas se encaixassem. Sua mulher é uma peça que pertence a uma parte de seu quebra-cabeça que já foi montada. Não adianta você querer monta-la novamente, pois este pedaço já está terminado. O quebra-cabeça da vida é um pouco diferente de nossos brinquedos. Depois que você consegue encaixar uma peça no seu lugar, ela jamais é descolada dali. Ela vira uma coisa chamada passado que ninguém consegue mudar. Aprenda a admirar a parte de seu quebra-cabeça que já foi montada e se comprometa a encaixar as peças que ainda estão soltas esperando você se prontificar a encaixa-las no lugar certo. Tentar encaixar uma peça num local errado só atrasa nosso processo de construção. Precisamos armar nosso quebra-cabeça e agradecer cada parte que foi montada. Não seria nada agradável partir desta vida com ele todo desajustado. Este quebra-cabeça é grande demais para alguns e menores para outros. Cada experiência, cada pessoa que cruza o nosso caminho é uma peça. Alguns precisam de muito tempo para ajustar no lugar certo tantas experiências e pessoas que lhe cabem. Outras precisam de um tempo menor. Espero que você saiba aproveitar bem o seu tempo. Aconselhou o pai enlutado.

— Pois saiba que a morte bagunçou o meu quebra-cabeça.

— Engano seu. A morte não destrói e nem anula aquilo que foi vivido. Tudo que você construiu continua intacto em suas lembranças. Você pode viver estas lembranças com saudade ou com revolta. A escolha é sua. A sabedoria reside na capacidade de agradecermos a alegria daquilo que foi. Pare de alimentar o pesar daquilo que não pôde ser. Solicitou com firmeza o amigo pai.

— A morte pode não ter me roubado o passado, mas me privou de meu presente e de meu futuro. Lamentou o amigo.

— A morte pode ter lhe privado do presente e do futuro que sua limitada imaginação impôs a você. Quanto a isto eu só tenho dois conselhos a lhe dar. O primeiro é que o futuro não existe e nem mesmo nos pertence. Daí, não tente viver algo que não é seu. O segundo conselho é tornar-se capaz de presentear-se com o presente. O passado é o quebra-cabeça formado e o presente é a peça que você se dispõe a encaixar agora. Que seja a peça da gratidão de estar VIVO e de ter a graça de ser VIVO.

         Naquele momento os dois se entreolharam e lá no fundo de seus olhos apareceu uma peça do quebra-cabeça que finalmente se encaixou no lugar certo. Surgiu dali um grande abraço que encaixou um corpo no outro externando uma empatia e afinidade muito especial que aquele momento de tanta dor presenteou aos dois.

domingo, 11 de agosto de 2013

SOLIDARIEDADE

“DAR E RECEBER SÃO AS DUAS FACES DA MOEDA MAIS PRECIOSA QUE GOVERNA A VIDA”
  
SOLIDARIEDADE 


Solidariedade é um caldo que nos fortalece nos momentos em que nos encontramos mais frágeis e nos permite desenvolver o sentimento de reciprocidade, interesse comum e responsabilidade para com a humanidade.


CUSTO


Por ser uma doação, custa apenas a nossa entrega.



TIRA GOSTO


BRAVA GENTE


A ENCHENTE CHEGOU
CARREGANDO TUDO
SÓ NÃO CARREGOU
O BRILHO DOS ESTRÁBICOS OLHARES
O DOCE SORRISO DESDENTADO
AS CÁLIDAS MÃOS
DAQUELA BRAVA GENTE
QUE IMERSAS NA ÁGUA SUJA
INFECTAVA O CORPO
LAVANDO A ALMA
QUE CRISTALINA DESLIZAVA
SOBRE A FORTE CORRENTEZA
ACOLHENDO COM BRAVURA
A FRÁGIL E IMPOTENTE
CONDIÇÃO DE SER HUMANO
QUE MESMO SEM TETO
ABRIGAVA COM O CORAÇÃO



INGREDIENTES


        
Uma grande quantidade de interesse comum.



PREPARO


        
         Você entenderá perfeitamente a maneira de preparar este caldo se compreender o conteúdo do refrão da música: “Bota água no feijão que chegou mais um, chegou mais um, chegou mais um...”
         Qualquer prato que você estiver preparando pode ser transformado no nutritivo banquete da solidariedade. Basta você transferi-lo para o grande caldeirão da responsabilidade e acrescentar o interesse comum,  para que ele possa se multiplicar e ser devidamente dividido com quem precisa dele se nutrir.
         O milagre da multiplicação não aconteceu apenas com o grande mestre Jesus, mas vem acontecendo todos os dias com aqueles sábios cozinheiros que aprenderam a transformar um prato comum no tão indispensável alimento solidário.



SOBREMESA



O ENDEREÇO DA RIQUEZA


         Ávido por conhecer o mundo, um homem tudo largou e partiu sem destino a qualquer lugar que pudesse ensina-lo algo. Cruzando montanhas e vales, atormentado pela sede e pela fome, bateu à porta de um suntuoso castelo solicitando um copo d’água e um prato de comida.
— Aqui nada temos para oferecer-lhe.  Disse, com arrogância, uma luxuosa mulher.
         O homem partiu carregando consigo o peso de um corpo sedento. Logo adiante, num humilde casebre, uma moça maltrapilha estendia algumas roupas íntimas no varal à frente da casa. Assustou-se com o pobre homem que, repentinamente, apareceu à sua frente, olhando-a cabisbaixo. Desalentado e frágil, não ousou pedir nada, mas uma voz suave ressoou como uma melodia em seus ouvidos:
— Você me parece tão abatido! Venha, lhe darei comida e água.
         Depois de muito comer e beber, satisfeito e revigorado, perguntou à humilde moça:
— Onde mora a riqueza?
— Por que queres saber?
— Por estar demasiadamente confuso. Encontrei a miséria num suntuoso castelo e a abundância num humilde casebre.
— Somente com os olhos jamais conseguiremos enxergar, compreender e perceber o que mora no coração. Advertiu a moça com sabedoria.
— Como assim? Perguntou o homem.
— A riqueza não habita os grandes castelos. A riqueza habita os grandes corações. Não há lugar para a miséria nas pessoas de grande coração. Finalizou a moça.
         O homem sorriu, agradeceu e partiu satisfeito, certo de ter feito uma grande descoberta.











NOTA SOBRE A AUTORA




CANTO E RECANTO 



SÔ CAPIAU
DU CANTU DI MINAS
CANTU QUI CANTU
SIMPLIS MELODIA

SÔ CAPIAU
DU CANTU DI MINAS
CANTU Ô RECANTU
RECANTU DA POESIA

SÔ CAPIAU
DU CANTU DI MINAS
CANTU COM INCANTU
A CANÇÃO DI MINHA VIDA

SÔ CAPIAU
DU CANTU DI MINAS
CANTU CAIPIRA
PIRAÇÃO SADIA

SÔ CAPIAU
DU CANTU DI MINAS
CANTU OCUTU
REVELADU PRA MIM

SÔ CAPIAU
DU CANTU DI MINAS
CANTU DEPRECIADU
PRECIADU PUR MIM

SÔ CAPIAU
DU CANTU DI MINAS
CANTU DISCUNHICIDU
IXPRIMENTADU PUR MIM


SÔ CAPIAU
DU CANTU DI MINAS
CANTU DISCUNSIDERADU
VESADU PUR MIM

SÔ CAPIAU
DU CANTU DI MINAS
CANTU PRO CÊS
U DESEJU DA VIDA

SÔ CAPIAU
DU CANTU DI MINAS
CANTU BUNITU
CÊS NUM CRIDITA

CRIDITA QUI SÔ
SÓ CAPIAU
MA SÔ CAPIAU
DU CANTU DI MINAS

MI JOGA NU CANTU
CANTU SEM CANTU
MA SÔ UM INCANTU
NU CANTU DI MINAS

SI PRICISÁ FALÁ BUNITU
EU FALU TAMÉM
PURQUI SÔ CAPIAU
DU CANTU DI MINAS

QUEVÊ EU FALÁ
A LÍNGUA DOCÊS?
EU SOU CAPIAU
DO CANTO DE MINAS

EU SOU CAPIAU
DO CANTO DE MINAS
CANTO QUE CANTO
 SIMPLES MELODIAS

EU SOU CAPIAU
DO CANTO DE MINAS
CANTO OU RECANTO
RECANTO DA POESIA

EU SOU CAPIAU
DO CANTO DE MINAS
CANTO COM ENCANTO
A CANÇÃO DE MINHA VIDA

EU SOU CAPIAU
DO CANTO DE MINAS
CANTO CAIPIRA
PIRAÇÃO SADIA

EU SOU CAPIAU
DO CANTO DE MINAS
CANTO OCULTO
REVELADO A MIM

EU SOU CAPIAU
DO CANTO DE MINAS
CANTO DEPRECIADO
APRECIADO POR MIM

EU SOU CAPIAU
DO CANTO DE MINAS
CANTO DESCONHECIDO
EXPERIMENTADO POR MIM

EU SOU CAPIAU
DO CANTO DE MINAS
CANTO DESCONSIDERADO
VERSADO POR MIM

EU SOU CAPIAU
DO CANTO DE MINAS
CANTO PARA VOCÊS
O DESEJO DA VIDA

EU SOU CAPIAU
DO CANTO DE MINAS
CANTO BONITO
VOCÊS NÃO ACREDITAM

ACREDITAM QUE SOU
SÓ CAPIAU
MAS EU SOU CAPIAU
DO CANTO DE MINAS

JOGAM-ME NUM CANTO
CANTO SEM CANTO
MAS SOU UM ENCANTO

NUM CANTO DE MINAS

BIBLIOGRAFIA


MINHA BIBLIOGRAFIA




NAS ENTRELINHAS DA VIDA
PONTUEI EXPERIÊNCIAS
LIDAS E RELIDAS
COM FLUÊNCIA E GAGUEJO
E NA LEITURA SILENCIOSA
DE VIDAS PONTUADAS
POR EXCLAMATIVAS EMOÇÕES
INTERROGATIVAS DÚVIDAS
RETICENTES PRAZERES
PAUZADAS DORES
CRIEI O TEXTO
ONDE A ALMA FIGURA
COMO PERSONAGEM PRINCIPAL
PORTANDO UMA PERSONALIDADE
REPLETA DE SENTIMENTOS

DIVERSÃO

“VOCÊ JÁ BRINCOU HOJE?
NÃO BRINQUE COM A VIDA DEIXANDO DE BRINCAR, POIS ELA PODE ENCARAR ESTA ATITUDE COMO UMA BRINCADEIRA DE MAL GOSTO.



DIVERSÃO



         Diversão é uma vitamina que energiza, combatendo o estresse e eliminando de seu organismo todas as toxinas produzidas pelo cansaço e preocupações, promovendo um relaxamento indispensável ao seu bem estar físico, mental, emocional e espiritual.



CUSTO



         Investir o tempo, que você gastaria com trabalho e preocupações, em diversão poderá lhe custar algum capital. Entretanto, é um ótimo investimento para quem deseja transformar a cara preocupação em uma ocupação sadia e relaxante. Aplicações nesta área poderá lhe render o rótulo de boa vida e até mesmo de malandro. Se fores muito “Caxias,” poderá ter uma certa dificuldade para absorver com tranquilidade este rótulo sem se sentir depreciado. Descontrair evita que você traia a si mesmo e contraia uma doença chamada estresse. Esta prevenção sai mais barata do que a neurótica obsessão de juntar dinheiro para pagar as despesas das doenças às quais estará sujeito,  poupando a tão indispensável distração.



TIRA GOSTO



VIDA MEDIDA


QUAL O TAMANHO DO SEU PRAZER?
GRANDE
MÉDIO
PEQUENO
AUSENTE

PRAZER AUSENTE
PARA QUEM NÃO ESTÁ PRESENTE
GENTE DISTANTE
QUE NEM SENTE

PRAZER PEQUENO
PARA QUEM ESQUECEU DE CRESCER
GENTE PEQUENA
QUE SE RESSENTE

PRAZER MÉDIO
PARA QUEM QUER AS COISAS PELA METADE
MEIA GENTE
TEM DIFICULDADE DE SE INTEIRAR

PRAZER GRANDE
PARA QUEM É DE FATO
GENTE QUE VIVE
FÁCIL, MUITO FÁCIL

AUSENTE, PEQUENO, MÉDIO OU GRANDE
VOCÊ É QUEM MEDE
COM A FITA MÉTRICA?
MELHOR SERIA
COM A VIDA MÉTRICA
INFINITA MEDIDA

TRANSFORMAR
VIDA MEDIDA
EM MEDIDA DE VIDA
ZELANDO PELA LIBERDADE
DE OPTAR PELA BOA MEDIDA



INGREDIENTES



Desapego das preocupações
Desapego do capital
Desapego do trabalho
Desapego da imagem de “Caxias”



PREPARO



         Bata no liquidificador de sua vida o desapego das preocupações, do dinheiro, do trabalho e de sua imagem de “Caxias”. Com tudo isto bem misturado e integrado, você terá finalmente o prazer de saborear uma vitamina deliciosa, que fará com que se sinta mais energizado, relaxado e feliz.
         OBS: Se você for muito apegado a trabalho, dinheiro, preocupações e a qualquer imagem que seja,  com certeza não conseguirá preparar esta vitamina. Daí,  nutra-se primeiro do alimento do desapego para que possa finalmente conquistar o ingrediente básico desta vitamina.

SOBREMESA



NEM QUE SEJA NA CADUQUISSE


         Lá estava ele, na dita terceira idade, olhando seu neto brincar e lembrando-se da sua infância:
— Vovô, por que o senhor me olha tanto?
— Estou recordando minha infância.
— Você brincou muito? Perguntou o neto, repleto de curiosidade pelas experiências lúdicas do avô.
         Desiludido o avô respondeu:
— Não brinquei, não. Quando eu quis brincar, meus pais me disseram que havia muito tempo pela frente, incumbindo-me de outras tarefas. O tempo passou e as brincadeiras ficaram perdidas no tempo.
         Numa outra ocasião, já bem mais velho, observando o namoro do neto, agora adolescente, fitou-o com saudade.
— Por que me olha assim, vovô?
— Estou recordando minha adolescência.
— Você namorou muito? Perguntou o neto, curioso pelas paqueras do avô.
         Novamente, desiludido, o avô respondeu:
— Quando desejei namorar, meus pais me disseram que naquele momento eu deveria estudar. Estudando, eu não aprendi a escolher uma mulher que eu realmente amasse. Meus pais acabaram fazendo a escolha por mim e eu perdi a mulher de meus sonhos. Estudando, eu aprendi a ser um médico, mas não aprendi a ser um homem.
         Lá na frente, já bem velhinho, ouviu atentamente o neto, já com 40 anos, contar as histórias de uma linda viagem de férias. As lágrimas que rolaram de seus olhos desencadearam no neto uma melancólica curiosidade:
— Por que choras, vovô?
         Exalando desilusão por todos os seus poros, respondeu:
— Choro as férias que não gozei. Na sua idade, mesmo não sendo mais cobrado por ninguém, aprendi a me cobrar a responsabilidade de trabalhar e nada mais. Uma censura interior me dizia que o lazer deveria ficar para a aposentadoria. Esta voz censora alegava-me que o trabalho me daria a garantia de uma aposentadoria tranquila. Aposentei com tranquilidade financeira, mas paguei um alto preço por isso. Poupei usufruir a vida. Esta poupança me rendeu apenas a doença que hoje me habita. Mesmo sendo um médico, nunca consegui me tratar. O que um velho que não aprendeu a se divertir pode fazer? Eu não quero mais que a doença seja a minha única diversão.
         O neto olhou o avô com pesar aconselhando-o com otimismo:
— O senhor aprendeu a tratar da doença e se esqueceu de tratar de sua saúde. Soube tratar da enfermidade de todos e não soube tratar de si mesmo. Pois trate agora de descobrir o que lhe dá prazer. Não sou eu quem vai cometer mais um erro, dizendo-lhe o que fazer. Pode parecer tarde demais, mas ainda há tempo para a diversão.
         O velho ouviu atentamente os conselhos do neto, mas nada fez. Seu comodismo parecia ser maior do que sua força de vontade. No entanto, sua doença, sua maior aliada, encarregou-se de ajuda-lo, trazendo a esclerose de presente. A esclerose lhe presenteava, ora com a infância, ora com a adolescência. Com atitudes aparentemente insanas, próprias de uma criança ou de um adolescente, já não se importava e nem mesmo ouvia o comentário das pessoas dizendo:
— O velho caducou mesmo!

         Da sua caduquice ele não abriu mão. Viveu feliz para o resto de seus dias, usufruindo todos os direitos que cabem a uma criança e a um adolescente na idade senil.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

“Se perderes a fé, perderás também o seu verdadeiro caminho, transformando a luz em trevas”



         O chá da fé lhe proporcionará confiança e tranquilidade, levando-o a conquistar até mesmo o que aparenta estar perdido.



CUSTO


         Quem investe na fé pode até receber dos céticos o título de ingênuo, mas o verdadeiro ingênuo e tolo é, na verdade,  aquele indivíduo que não a apreendeu e não tem cacife para investir nela.


TIRA GOSTO



FÔRÇA QUE FORÇA


SABES O QUE É
TER CERTEZA?
É TER FÉ
VOCÊ SABE QUE É
SEM QUE NINGUÉM
LHE DÊ GARANTIAS

QUE FÔRÇA MALUCA É ESTA
QUE FAZ SER
ANTES DE SÊ-LO?
É A FÔRÇA DA FÉ
QUE FORÇA SER
O QUE AINDA NÃO É

FÉ QUE FEZ DE MIM
O QUE FUI
O QUE SOU
O QUE SEREI
FORÇANDO-ME A TER FÉ EM MIM
FORÇANDO-ME A SER EU MEESMA



INGREDIENTES


Folhas de otimismo
Doce confiança


PREPARO


        
         Quando o líquido da vida estiver fervilhando, precisando se exercer ou se transformar em algo mais, acrescente as folhinhas do otimismo deixando que elas exalem toda a sua essência. Adoce com confiança.
         Quando aquele friozinho gelar seu coração, tome o quente chá da fé, aquecendo-se e aquecendo também todas as possibilidades de realização.



SOBREMESA

O MILAGRE DA SEMENTE



         Ninguém conseguia entender como uma flor poderia viver num deserto. E ali estava ela, viçosa e bonita. Ela não estava só; junto a ela ficava um jardineiro que além de contempla-la, dedicava-lhe todo amor e carinho.
         Pesquisadores do mundo inteiro tentavam estudar e compreender as razões que faziam uma flor tão delicada aceitar e suportar tão bem a aridez daquele deserto. Carentes de teorias que pudessem explicar tal fenômeno, optaram finalmente por entrevistar o humilde jardineiro que se dedicara e acompanhara o desenvolvimento daquela flor tão singela. Com poucas palavras ele tentou mostrar a prática que as teorias não conseguiam explicar:
— Toda flor provém de uma semente, cujo único desejo é germinar. A semente possui certeza absoluta que poderá se transformar em flor um dia. Todo homem carrega dentro de si a semente do amor. Esta semente dá ao homem a certeza absoluta de que pode cuidar e se responsabilizar pelo desenvolvimento de qualquer ser em qualquer lugar. A terra carrega consigo a semente da maternidade. Por mais árida que tenha se tornado, ela possui, mesmo que adormecido, o dom de fazer germinar em seu seio o que deseja brotar. Estas três sementes juntas fizeram o milagre da vida acontecer, pois o milagre é uma semente presente em todo ser que tem fé. Basta acreditar e o milagre acontece.
         Os cientistas não acreditaram na teoria provinda da prática de um simples jardineiro, pois todo cientista carrega dentro de si a semente do ceticismo e da complexidade. Aquela teoria era simples demais para ser aceita e compreendida pela honrada e complicada ciência, mesmo sabendo que estes mistérios ou milagres continuam sempre acontecendo em algum lugar sem que a mesma consiga explica-los.

         O jardineiro continuou cuidando da flor, certo de que a compreensão só poderá brotar no seio de uma ciência que consiga, um dia, cultivar a semente da humildade.