domingo, 13 de maio de 2012

DESAPEGO

 
“AGARRADO AO OUTRO E ATRELADO AO MEDO DE PERDÊ-LO, VOCÊ CORRE O SÉRIO RISCO DE DISTANCIAR DE SI MESMO E PERDER-SE”



DESAPEGO





Este prato é uma massa suculenta capaz de nos manter alimentados por um bom tempo mesmo quando passamos um grande período sem poder provar aquele alimento que a gente mais gosta. Ele evita que fiquemos com aquela incômoda sensação de vazio, nos nutrindo diante da falta. Deve estar sempre solto para poder ser saboreado. Se grudar perde toda a sua essência saborosa provocando uma inconveniente dor na barriga de nossa alma.




CUSTO




O grande mistério deste prato é que mesmo tendo que pagar um alto preço, você jamais se sentirá subtraído.

        


TIRA GOSTO




MENSAGEM AO BEIJA-FLOR




NÃO TENHO PALAVRAS
PRA DIZER MAIS DO QUE TE AMO
MAIS DO QUE TE AMO
TALVEZ POSSA SER
ETERNAMENTE TE AMO


NÃO TENHO DESEJO
DE VIVER SEM O TEU AMOR
SEM O TEU AMOR
DEVORO A SOLIDÃO
E NÃO MATO A FOME DE TI


NÃO TENHO OUTRO SENTIMENTO
QUE NÃO SEJA SAUDADE
NÃO SEJA A SAUDADE
O ÚNICO SENTIMENTO
ETERNAMENTE DURADOURO


NÃO TENHO VOCÊ
SEM VOCÊ ME PERDÍ
PERDÍ A TÍ E A MIM
PROCURO POR NÓS
ENCONTRO APENAS NÓS A DESATAR


PRECISO DAS PALAVRAS
PRECISO DO DESEJO
PRECISO DE TODOS OS SENTIMENTOS
PRECISO DE VOCÊ
PRECISO VIVER 


PRECISO VIVER
SEM PALAVRAS PRA VOCÊ
SEM DESEJO POR VOCÊ
SEM SAUDADE DE VOCÊ
SEM VOCÊ


PRECISO DE VOCÊ
DESAPEGADO DE TUDO QUE FOI
DESAPEGADO DE TUDO QUE FUI
LIVRE PARA QUE A ETERNIDADE EXERÇA
TUDO O QUE A VIDA LHE NEGOU


PRECISO DE TODOS OS SENTIMENTOS
QUE A VIDA PUDER ME OFERECER
OFERECER À VIDA TODOS OS SENTIMENTOS
À VIDA ME EXERCER
E SER EXERCIDA POR ELA


PRECISO DO DESEJO
DESEJO DE VIVER
VIVER BEM COMIGO
VIVER BEM COM TUDO QUE ME RESTOU
VIVER BEM COM TUDO QUE VIRÁ


PRECISO DE PALAVRAS
PALAVRAS LIVRES
PALAVRAS MINHAS
PALAVRAS QUE EXPRESSEM COM HARMONIA
A CONEXÃO DE MINHA VIDA COM MINHA EXISTÊNCIA


AMOR DA MINHA VIDA
TRANSFORMO-TE AGORA NO AMOR DA MINHA EXISTÊNCIA
HOJE VOCÊ NÃO VIVE
HOJE VOCÊ EXISTE
VIVENDO SEU SER EXISTENCIAL



AMOR DA MINHA EXISTÊNCIA
NÃO VIVO MAIS COM VOCÊ
EXISTO NESTE MOMENTO VIVENDO A VIDA
EXISTIREI AMANHÃ ASSIM COMO VOCÊ HOJE
É SÓ UMA QUESTÃO DE TEMPO



ONTEM, JUNTOS
VIVEMOS A VIDA
HOJE, SEPARADOS
VIVEMOS A IMPOSSIBILIDADE DE CONECTARMOS O NOSSO SER ATUAL
AMANHÃ, JUNTOS
CONECTAREMOS A NOSSA EXISTÊNCIA



PRA AGORA
RESTA A PACIÊNCIA
RESTA A ESPERANÇA
RESTA O QUE RESTOU
RESTOS



 A CIÊNCIA DA PAZ NOS SOLICITA
VIVER CADA UM O SEU MOMENTO
ABRIRMOS A GAIOLA DO APEGO
VOARMOS LIVRES
PARA TERMOS O QUE COMPARTILHAR NO MOMENTO DO ENCONTRO



VAI, MEU AMOR
NÃO TE QUERO MEU
QUERO-TE SEU
NÃO ME QUERO SUA
QUERO-ME MINHA



VOE, MEU AMOR
SEM MEDO DE PERDER-ME
NÃO QUEBRE AS SUAS ASAS NA GAIOLA DO APEGO
ABRA-SE PARA A ETERNIDADE
LIBERTE SUAS ASAS



FAREI A MINHA PARTE
FAÇA A SUA
DA GAIOLA DO APEGO ME LIBERTAREI
ABRIREI AS ASAS PRA VIDA
SEREI FELIZ



VAI DOER
MAS A DOR HÁ DE SE TRANSFORMAR
TRANSFORMANDO-ME
TRANSFORMANDO-TE
E SEM SABER NO QUE VAI DAR
SEGUIREMOS



SEGUIREMOS SEM OBRIGAÇÕES
SEM OBRIGAÇÃO DE NOS ENCONTRAR
SEM OBRIGAÇÃO DE NOS SEPARAR
RESTANDO APENAS O PRAZER
PRAZER DE SEGUIR EM FRENTE



SEM DESPEDIDAS
SEM ADEUS
EU FICO POR AQUI
VOCÊ FICA POR AÍ
ATÉ QUANDO...


INGREDIENTES


Uma ilimitada quantidade de eternidade

Independência por inteiro

Tempero da fé

Entrega

Fluido oleoso de Aceitação

Amor Incondicional para o molho

Instrumentos utilizados: Máquina da criatividade e varal da receptividade




PREPARO


Quem sabe preparar um bom macarrão, com certeza não terá dificuldade para compreender como se processa esta receita. Inicialmente será necessário preparar a massa. A mistura da eternidade com a independência regada com entrega forma a massa do desapego. Jogue um pouco de fé para dar tempero à massa. Amasse bastante estes ingredientes até sentir elasticidade e firmeza. Adquirida esta consistência elástica e firme, deixe descansar por um tempo duradouro. O descanso é fundamental para a massa conseguir manter a consistência que conquistou, pois depois de tantos amassos e apertos poderá estar se sentindo estressada e sem energia para os próximos passos.

Depois do descanso, passe a massa na máquina da criatividade cortando-a em partes separadas, dispondo-as no formato que desejar. Cada parte deverá ser mantida longe da outra para receber uma ventilação que permita a mesma se curtir. Curtida, cada segmento de massa se permitirá viver separada da outra. Se você vacilar e deixar as partes se juntarem, elas se grudarão numa tentativa de resgatar a condição passada de ter sido uma só massa. Para facilitar este processo, você poderá criar o varal da receptividade, onde você pendura cada segmento até ficar no ponto de ser cozido, ou poderá deixá-lo esticado sobre uma superfície plana para que ele se alongue o bastante evitando com isto que cada segmento corra o risco de se encurtar grudando em partes de si mesmo que necessitam estar sempre soltas e livres.

Encha o caldeirão da vida com a valiosa entrega que deverá estar fervendo para receber os segmentos da massa cortada. Se a entrega estiver fria, a massa grudará totalmente uma na outra. A frieza gera insegurança fazendo com que uma parte busque na outra a calorosa segurança. Mesmo com uma fervilhante entrega, corre-se o risco do grude acontecer. Para evitar isto, adicione a oleosa aceitação. A aceitação permitirá a cada parte descobrir o prazer de ser ela mesma, mesmo separada da outra parte que tanto deseja. Neste momento você poderá adicionar mais um pouquinho de fé na entrega para evitar que a massa corra o risco de sentir-se destemperada. Depois de cozidas estarão definitivamente maduras e flexíveis para viver a sua real condição e serem finalmente saboreadas sem causarem danos ao outro. Se bem cozidas, descobrirão que o fato de existirem separadas não lhes causará nenhum aniquilamento ou subtração. Estarão suficientemente maduras para descobrirem que estar junto não pressupõe estar grudado. Lembre-se que um macarrão grudento pode gerar uma grande indisposição, e que a grande característica de um macarrão realmente apetitoso consiste em ter vários segmentos juntos, porém separados um do outro. Estar grudado consiste em estar preso. Estar solto consiste em estar livre para se exercer. O sabor da liberdade é bem melhor do que o sabor do aprisionamento.

Finalmente é chegada a hora de acrescentar o delicioso molho preparado com amor incondicional. Este molho sobre a massa do desapego forma uma parceria perfeita tornando a sua vida muito mais nutritiva e saborosa.

Eu posso lhe garantir que este prato é MASSA!



SOBREMESA




DONA SEPARAÇÃO




         O grande desejo que prevalece entre duas pessoas que se amam é estarem sempre juntas. Imaginam tudo que podem fazer juntinhas uma da outra, só não imaginam o que podem fazer distanciadas. Quando se unem imaginam que poderão ser “felizes para sempre”, pois desde criança escutaram isto nos finais dos contos de fada. Na verdade parece que o final de um conto de fada é sempre o começo. Do final de um conto ninguém nunca falou, pois o final é um lugar desconhecido.  Tem uma dona atrevida que não habita os contos de fada. Ela é real demais para estar lá. O nome dela é Dona Separação.

          Dona Separação não tem casa própria, vive fazendo visitas. Cada dia ela escolhe um lugar novo para habitar. Chega batendo na porta, entra sem pedir licença e sempre impõe que um saia para que ela possa entrar.  É uma visita inesperada e inoportuna. Ninguém gosta dela, mas ela ama todos e nunca se esquece de ninguém. Parece espaçosa, pois não respeita o espaço do outro. Se o espaço que ela decidir ocupar for o seu, você tem que sair mesmo. A gente nunca sabe ao certo para onde vai a pessoa que ela escolhe, mas sabemos muito bem como  ficamos sem esta pessoa.

Vou lhes contar como fiquei no dia que Dona Separação bateu na minha porta. Fiquei perdida e atordoada sem saber ao que me agarrar. Sempre me agarrei naquilo que ela me roubou. Furtada de minha segurança, me vi, repentinamente, sem apoio e pronta para desabar. Dei uma bronca em Dona Separação, mas ela nem parecia se comover com meu sofrimento. Em momento algum, ela pensou em amenizar a minha dor trazendo de volta o que havia me roubado. O vazio que ficou dentro do meu ser provocou um eco que acabou me ensinando algumas coisas. Muito brava e revoltada tentei travar com a mesma um diálogo que na verdade se tornou um monólogo:

— Você é terrível, serve apenas para arruinar o que com tanto esforço construí. Falei.

— Você é terrível, serve apenas para arruinar o que com tanto esforço construí. Repetiu o eco.

— Não estou lhe pedindo para repetir o que falo ou faço. Retruquei.

— Não estou lhe pedindo para repetir o que falo ou faço. Repetiu novamente aquele misterioso eco.

— Pare com isso! Gritei irritada.

— Pare com isso! Repetiu.

— Você deveria ocupar seu tempo com uniões. Solicitei.

— Você deveria ocupar seu tempo com uniões. Repetiu aquele eco.

— Por que não faz isto? Perguntei.

— Por que não faz isto? Repetiu.

— Você não sabe ouvir, sabe apenas repetir. Censurei.

— Você não sabe ouvir, sabe apenas repetir. Repetiu aquele som enigmático.

— Você não pode se sentir dona da vida impondo apenas o que tem vontade. Falei.

— Você não pode se sentir dona da vida impondo apenas o que tem vontade. Repetiu.

— O que você pretende? Perguntei.

— O que você pretende? Repetiu aquele fenômeno acústico que parecia insistir no desejo de me ensinar alguma coisa.

Neste momento parei por um instante e ouvi a pergunta que o eco me fizera a partir de minha própria indagação. Percebi o quanto precisava me ouvir ao invés de buscar respostas e o quanto precisava dizer a mim cada pergunta ou solicitação que fizera à Dona Separação. Foi aí que travei um diálogo comigo.

— O que pretendo?

— Será que pretendo ser a dona da vida impondo a ela apenas o que tenho vontade?

— Será que não estou sendo terrível comigo mesma construindo revolta e tristeza depois de ter me esforçado tanto para construir a paz e a felicidade que eu já julgava ter conquistado?

— Será que ao invés de perder meu tempo lamentando o que perdi, eu não deveria ocupá-lo com as conquistas que me aguardam?

— Será que preciso me unificar novamente juntando meus cacos para lentamente me sentir uma pessoa inteira?

— Por que não faço isto?

— Não posso continuar repetindo este comportamento de falar e fazer apenas o que é destrutivo.

— Pare com isso!

Parei com tudo isso, não sei bem como, só sei que parei. Parei quando rompi meu  relacionamento com Dona Separação e me uni à  Dona Vida que tudo oferece na medida certa e no momento certo. Descobri que Dona Separação nos tira apenas o que não é nosso. Aquilo que é nosso se eterniza dentro da gente. O amor, a paz, a felicidade e a sabedoria continuaram vivos dentro de mim. Da muda Dona Separação nunca obtive respostas, mas estou sempre ouvindo Dona Vida me dizer uma única palavra:

-VIVA!

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