“AGARRADO AO OUTRO E ATRELADO AO MEDO DE
PERDÊ-LO, VOCÊ CORRE O SÉRIO RISCO DE DISTANCIAR DE SI MESMO E PERDER-SE”
DESAPEGO
Este prato é uma massa suculenta capaz de nos manter
alimentados por um bom tempo mesmo quando passamos um grande período sem poder
provar aquele alimento que a gente mais gosta. Ele evita que fiquemos com
aquela incômoda sensação de vazio, nos nutrindo diante da falta. Deve estar
sempre solto para poder ser saboreado. Se grudar perde toda a sua essência
saborosa provocando uma inconveniente dor na barriga de nossa alma.
CUSTO
O
grande mistério deste prato é que mesmo tendo que pagar um alto preço, você
jamais se sentirá subtraído.
TIRA GOSTO
MENSAGEM AO BEIJA-FLOR
NÃO TENHO PALAVRAS
PRA DIZER MAIS DO QUE TE AMO
MAIS DO QUE TE AMO
TALVEZ POSSA SER
ETERNAMENTE TE AMO
NÃO TENHO DESEJO
DE VIVER SEM O TEU AMOR
SEM O TEU AMOR
DEVORO A SOLIDÃO
E NÃO MATO A FOME DE TI
NÃO TENHO OUTRO SENTIMENTO
QUE NÃO SEJA SAUDADE
NÃO SEJA A SAUDADE
O ÚNICO SENTIMENTO
ETERNAMENTE DURADOURO
NÃO TENHO VOCÊ
SEM VOCÊ ME PERDÍ
PERDÍ A TÍ E A MIM
PROCURO POR NÓS
ENCONTRO APENAS NÓS A DESATAR
PRECISO DAS PALAVRAS
PRECISO DO DESEJO
PRECISO DE TODOS OS SENTIMENTOS
PRECISO DE VOCÊ
PRECISO VIVER
PRECISO VIVER
SEM PALAVRAS PRA VOCÊ
SEM DESEJO POR VOCÊ
SEM SAUDADE DE VOCÊ
SEM VOCÊ
PRECISO DE VOCÊ
DESAPEGADO DE TUDO QUE FOI
DESAPEGADO DE TUDO QUE FUI
LIVRE PARA QUE A ETERNIDADE EXERÇA
TUDO O QUE A VIDA LHE NEGOU
PRECISO DE TODOS OS SENTIMENTOS
QUE A VIDA PUDER ME OFERECER
OFERECER À VIDA TODOS OS SENTIMENTOS
À VIDA ME EXERCER
E SER EXERCIDA POR ELA
PRECISO DO DESEJO
DESEJO DE VIVER
VIVER BEM COMIGO
VIVER BEM COM TUDO QUE ME RESTOU
VIVER BEM COM TUDO QUE VIRÁ
PRECISO DE PALAVRAS
PALAVRAS LIVRES
PALAVRAS MINHAS
PALAVRAS QUE EXPRESSEM COM HARMONIA
A CONEXÃO DE MINHA VIDA COM MINHA
EXISTÊNCIA
AMOR DA MINHA VIDA
TRANSFORMO-TE AGORA NO AMOR DA MINHA
EXISTÊNCIA
HOJE VOCÊ NÃO VIVE
HOJE VOCÊ EXISTE
VIVENDO SEU SER EXISTENCIAL
AMOR DA MINHA EXISTÊNCIA
NÃO VIVO MAIS COM VOCÊ
EXISTO NESTE MOMENTO VIVENDO A VIDA
EXISTIREI AMANHÃ ASSIM COMO VOCÊ HOJE
É SÓ UMA QUESTÃO DE TEMPO
ONTEM, JUNTOS
VIVEMOS A VIDA
HOJE, SEPARADOS
VIVEMOS A IMPOSSIBILIDADE DE CONECTARMOS O
NOSSO SER ATUAL
AMANHÃ, JUNTOS
CONECTAREMOS A NOSSA EXISTÊNCIA
PRA AGORA
RESTA A PACIÊNCIA
RESTA A ESPERANÇA
RESTA O QUE RESTOU
RESTOS
A
CIÊNCIA DA PAZ NOS SOLICITA
VIVER CADA UM O SEU MOMENTO
ABRIRMOS A GAIOLA DO APEGO
VOARMOS LIVRES
PARA TERMOS O QUE COMPARTILHAR NO MOMENTO
DO ENCONTRO
VAI, MEU AMOR
NÃO TE QUERO MEU
QUERO-TE SEU
NÃO ME QUERO SUA
QUERO-ME MINHA
VOE, MEU AMOR
SEM MEDO DE PERDER-ME
NÃO QUEBRE AS SUAS ASAS NA GAIOLA DO APEGO
ABRA-SE PARA A ETERNIDADE
LIBERTE SUAS ASAS
FAREI A MINHA PARTE
FAÇA A SUA
DA GAIOLA DO APEGO ME LIBERTAREI
ABRIREI AS ASAS PRA VIDA
SEREI FELIZ
VAI DOER
MAS A DOR HÁ DE SE TRANSFORMAR
TRANSFORMANDO-ME
TRANSFORMANDO-TE
E SEM SABER NO QUE VAI DAR
SEGUIREMOS
SEGUIREMOS SEM OBRIGAÇÕES
SEM OBRIGAÇÃO DE NOS ENCONTRAR
SEM OBRIGAÇÃO DE NOS SEPARAR
RESTANDO APENAS O PRAZER
PRAZER DE SEGUIR EM FRENTE
SEM DESPEDIDAS
SEM ADEUS
EU FICO POR AQUI
VOCÊ FICA POR AÍ
ATÉ QUANDO...
INGREDIENTES
Uma ilimitada quantidade de eternidade
Independência por inteiro
Tempero da fé
Entrega
Fluido oleoso de Aceitação
Amor Incondicional para o molho
Instrumentos utilizados: Máquina da criatividade e varal da
receptividade
PREPARO
Quem sabe preparar um bom
macarrão, com certeza não terá dificuldade para compreender como se processa
esta receita. Inicialmente será necessário preparar a massa. A mistura da
eternidade com a independência regada com entrega forma a massa do desapego.
Jogue um pouco de fé para dar tempero à massa. Amasse bastante estes
ingredientes até sentir elasticidade e firmeza. Adquirida esta consistência
elástica e firme, deixe descansar por um tempo duradouro. O descanso é
fundamental para a massa conseguir manter a consistência que conquistou, pois
depois de tantos amassos e apertos poderá estar se sentindo estressada e sem
energia para os próximos passos.
Depois do descanso, passe a
massa na máquina da criatividade cortando-a em partes separadas, dispondo-as no
formato que desejar. Cada parte deverá ser mantida longe da outra para receber
uma ventilação que permita a mesma se curtir. Curtida, cada segmento de massa
se permitirá viver separada da outra. Se você vacilar e deixar as partes se
juntarem, elas se grudarão numa tentativa de resgatar a condição passada de ter
sido uma só massa. Para facilitar este processo, você poderá criar o varal da
receptividade, onde você pendura cada segmento até ficar no ponto de ser
cozido, ou poderá deixá-lo esticado sobre uma superfície plana para que ele se
alongue o bastante evitando com isto que cada segmento corra o risco de se
encurtar grudando em partes de si mesmo que necessitam estar sempre soltas e
livres.
Encha o caldeirão da vida com
a valiosa entrega que deverá estar fervendo para receber os segmentos da massa
cortada. Se a entrega estiver fria, a massa grudará totalmente uma na outra. A
frieza gera insegurança fazendo com que uma parte busque na outra a calorosa
segurança. Mesmo com uma fervilhante entrega, corre-se o risco do grude
acontecer. Para evitar isto, adicione a oleosa aceitação. A aceitação permitirá
a cada parte descobrir o prazer de ser ela mesma, mesmo separada da outra parte
que tanto deseja. Neste momento você poderá adicionar mais um pouquinho de fé
na entrega para evitar que a massa corra o risco de sentir-se destemperada.
Depois de cozidas estarão definitivamente maduras e flexíveis para viver a sua
real condição e serem finalmente saboreadas sem causarem danos ao outro. Se bem
cozidas, descobrirão que o fato de existirem separadas não lhes causará nenhum
aniquilamento ou subtração. Estarão suficientemente maduras para descobrirem
que estar junto não pressupõe estar grudado. Lembre-se que um macarrão grudento
pode gerar uma grande indisposição, e que a grande característica de um
macarrão realmente apetitoso consiste em ter vários segmentos juntos, porém
separados um do outro. Estar grudado consiste em estar preso. Estar solto
consiste em estar livre para se exercer. O sabor da liberdade é bem melhor do
que o sabor do aprisionamento.
Finalmente é chegada a hora
de acrescentar o delicioso molho preparado com amor incondicional. Este molho
sobre a massa do desapego forma uma parceria perfeita tornando a sua vida muito
mais nutritiva e saborosa.
Eu posso lhe garantir que
este prato é MASSA!
SOBREMESA
DONA
SEPARAÇÃO
O grande desejo que prevalece entre
duas pessoas que se amam é estarem sempre juntas. Imaginam tudo que podem fazer
juntinhas uma da outra, só não imaginam o que podem fazer distanciadas. Quando
se unem imaginam que poderão ser “felizes para sempre”, pois desde criança
escutaram isto nos finais dos contos de fada. Na verdade parece que o final de
um conto de fada é sempre o começo. Do final de um conto ninguém nunca falou,
pois o final é um lugar desconhecido.
Tem uma dona atrevida que não habita os contos de fada. Ela é real
demais para estar lá. O nome dela é Dona Separação.
Dona Separação não tem casa própria, vive
fazendo visitas. Cada dia ela escolhe um lugar novo para habitar. Chega batendo
na porta, entra sem pedir licença e sempre impõe que um saia para que ela possa
entrar. É uma visita inesperada e
inoportuna. Ninguém gosta dela, mas ela ama todos e nunca se esquece de
ninguém. Parece espaçosa, pois não respeita o espaço do outro. Se o espaço que
ela decidir ocupar for o seu, você tem que sair mesmo. A gente nunca sabe ao
certo para onde vai a pessoa que ela escolhe, mas sabemos muito bem como ficamos sem esta pessoa.
Vou lhes contar como fiquei no dia que Dona Separação
bateu na minha porta. Fiquei perdida e atordoada sem saber ao que me agarrar.
Sempre me agarrei naquilo que ela me roubou. Furtada de minha segurança, me vi,
repentinamente, sem apoio e pronta para desabar. Dei uma bronca em Dona
Separação, mas ela nem parecia se comover com meu sofrimento. Em momento algum,
ela pensou em amenizar a minha dor trazendo de volta o que havia me roubado. O
vazio que ficou dentro do meu ser provocou um eco que acabou me ensinando
algumas coisas. Muito brava e revoltada tentei travar com a mesma um diálogo
que na verdade se tornou um monólogo:
—
Você é terrível, serve apenas para arruinar o que com tanto esforço construí.
Falei.
—
Você é terrível, serve apenas para arruinar o que com tanto esforço construí.
Repetiu o eco.
—
Não estou lhe pedindo para repetir o que falo ou faço. Retruquei.
—
Não estou lhe pedindo para repetir o que falo ou faço. Repetiu novamente aquele
misterioso eco.
—
Pare com isso! Gritei irritada.
—
Pare com isso! Repetiu.
—
Você deveria ocupar seu tempo com uniões. Solicitei.
—
Você deveria ocupar seu tempo com uniões. Repetiu aquele eco.
—
Por que não faz isto? Perguntei.
—
Por que não faz isto? Repetiu.
—
Você não sabe ouvir, sabe apenas repetir. Censurei.
—
Você não sabe ouvir, sabe apenas repetir. Repetiu aquele som enigmático.
—
Você não pode se sentir dona da vida impondo apenas o que tem vontade. Falei.
—
Você não pode se sentir dona da vida impondo apenas o que tem vontade. Repetiu.
—
O que você pretende? Perguntei.
—
O que você pretende? Repetiu aquele fenômeno acústico que parecia insistir no
desejo de me ensinar alguma coisa.
Neste momento parei por um instante e ouvi a pergunta
que o eco me fizera a partir de minha própria indagação. Percebi o quanto
precisava me ouvir ao invés de buscar respostas e o quanto precisava dizer a
mim cada pergunta ou solicitação que fizera à Dona Separação. Foi aí que travei
um diálogo comigo.
—
O que pretendo?
—
Será que pretendo ser a dona da vida impondo a ela apenas o que tenho vontade?
—
Será que não estou sendo terrível comigo mesma construindo revolta e tristeza
depois de ter me esforçado tanto para construir a paz e a felicidade que eu já
julgava ter conquistado?
—
Será que ao invés de perder meu tempo lamentando o que perdi, eu não deveria
ocupá-lo com as conquistas que me aguardam?
—
Será que preciso me unificar novamente juntando meus cacos para lentamente me
sentir uma pessoa inteira?
—
Por que não faço isto?
—
Não posso continuar repetindo este comportamento de falar e fazer apenas o que
é destrutivo.
—
Pare com isso!
Parei com tudo isso, não sei bem como, só sei que
parei. Parei quando rompi meu relacionamento
com Dona Separação e me uni à Dona Vida
que tudo oferece na medida certa e no momento certo. Descobri que Dona
Separação nos tira apenas o que não é nosso. Aquilo que é nosso se eterniza
dentro da gente. O amor, a paz, a felicidade e a sabedoria continuaram vivos
dentro de mim. Da muda Dona Separação nunca obtive respostas, mas estou sempre
ouvindo Dona Vida me dizer uma única palavra:
-VIVA!
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